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(FOLHAPRESS) Normalmente, convém que filhos de grandes artistas se afastem da profissão dos pais. A sombra sobre eles é muito pesada e mesmo a exigência dos críticos é mais intensa.
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Vale, no entanto, abrir uma exceção para Djin Sganzerla. A filha de Rogério Sganzerla e Helena Ignez estreia na direção sem lembrar em nada o trabalho de seus ilustres pais.
"Mulher Oceano" revela uma personalidade não só forte como original, absolutamente distinta da de seus pais. Nem explosiva como a de Rogério Sganzerla nem valente e contestatária como a de Helena Ignez. "Mulher Oceano" é um filme da placidez, da observação serena do mundo.
Ao mesmo tempo, não se trata de um filme conformista, de aceitação do mundo. É mais a um longo, tranquilo esforço de compreensão que se dedica a escritora Hannah no Japão, onde se encontra, mergulhada em ideogramas – isto é, de sinais dificilmente legíveis por alguém que chega do Brasil, como a escritora.
Mas não é na escrita japonesa que ela encontra seu enigma, e sim em sua personagem. Quem é ela? O que significa sua atração profunda pelo mar? Entender a personagem é entender a si mesma.
Hannah e Ana são desempenhadas pela mesma atriz (Djin Sganzerla, precisamente), de tal modo que o espectador até certo momento não as distingue. Ora estamos no Rio de Janeiro, lugar original da autora, ora estamos no Japão – país de ilhas e mar.
Enquanto a nadadora se prepara para enfrentar uma travessia na baía da Guanabara, a escritora luta para entender a si mesma e a atração que sente pelo mar. Os caminhos a levarão de volta às origens – às crenças afro-brasileiras, mas isso é outra história.
O essencial é a delicadeza e a forma precisa como se estrutura a narrativa. Não há uma revelação imediata de que escritora e personagem sejam pessoas distintas, já que ambas são a mesma atriz, com as mesmas características.
Por distantes que estejam geograficamente, elas devem se fundir, assim como Hannah de certa forma deseja se fundir ao mar. A execução cuidadosa desse encontro é de certa forma a virtude central do filme, em que tudo se demonstra como um teorema.
Digamos ainda que o filme tem uma produção modesta (claro, na produção está Cavi Borges, um mago dos pequenos orçamentos) e que gira quase inteiramente em torno de uma única personagem que se divide em dois .
A estreia de Djin Sganzerla como diretora é mais uma demonstração do momento iluminado que vive o cinema brasileiro no século 21.
Mesmo carregando toda a adversidade em suas costas, continua a criar belezas variadas, originais e relevantes como esta "Mulher Oceano".