Biden escolhe ex-general Lloyd Austin como secretário de Defesa

Mesmo antes da confirmação da indicação, alguns senadores democratas se disseram contrários à nomeação de Austin.

© Reuters

Mundo EUA-GOVERNO 08/12/20 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente eleito Joe Biden confirmou nesta terça-feira (8) o ex-general Lloyd J. Austin como secretário de Defesa, responsável por comandar todo o aparato militar dos Estados Unidos.

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A escolha de Austin, 67, foi elogiada por ele ser negro – será o primeiro afro-americano a assumir esse cargo na história do pais. Mas a nomeação foi criticada por ele ser um ex-general.

A lei americana determina que o secretário de Defesa deve, preferencialmente, ser um civil, para garantir o equilíbrio entre civis e militares no comando da segurança do país. Caso o nome indicado tenha deixado uma função militar há menos de sete anos, caso de Austin, é preciso aprovação do Congresso.

Mesmo antes da confirmação da indicação, alguns senadores democratas se disseram contrários à nomeação de Austin. No início de seu governo, Donald Trump apontou o ex-general Jim Mattis para ser secretário de Defesa. Ele foi aprovado pelo Legislativo, mas houve grande resistência, especialmente de democratas.

O partido de Biden tem maioria na Câmara, mas o controle do Senado ainda está em disputa. A maioria naquela Casa será definida pela votação de segundo turno para as duas vagas da Geórgia, marcado para 5 de janeiro.

Austin é um dos raros nomes negros que conseguiu chegar ao topo da hierarquia do Exército. Foi o primeiro general negro a comandar uma divisão americana durante um combate, entre vários outros postos no qual ele foi pioneiro.

O ex-general nasceu em Mobile, Alabama, em 1957, e cresceu na vizinha Geórgia, ambos estados do Sul dos EUA. Ele se graduou na academia militar de West Point em 1975. Nas décadas seguintes, passou por várias bases do país e foi subindo na hierarquia.

A partir de 2003, como general, chefiou divisões que lutavam no Afeganistão. Ficou no país até 2005, e voltou aos EUA, onde logo passou a atuar no comando das operações no Iraque.

Em 2010, chegou a comandante-geral das forças americanas no Iraque, e foi o último a ter este posto. No ano seguinte, os EUA fizeram uma grande retirada de suas forças daquele país. Essa saída, no entanto, seria depois criticada por abrir espaço para que o grupo terrorista Estado Islâmico pudesse dominar amplas áreas do Iraque.

De volta aos EUA, em 2012, assumiu o cargo de vice-chefe de pessoal do Exército. Uma de suas ações foi tentar reduzir o número de suicídios e de transtornos mentais na tropa e em ex-combatentes. Em 2013, foi nomeado chefe do Comando Central do Exército dos EUA, responsável por todas as operações no Oriente Médio.

Neste cargo, ele esteve por trás da implantação de uma estratégia controversa: em vez de se envolver diretamente na Guerra da Síria, os Estados Unidos preferiram fornecer armas e treinar combatentes locais para lutar contra o Estado Islâmico. A expectativa era formar em torno de 5.000 combatentes, mas apenas cerca de 100 foram treinados de fato.

A efetividade desta estratégia foi questionada por uma investigação no Senado: cerca de US$ 500 milhões foram gastos, com resultados pífios. Austin foi a uma audiência no Senado, em 2015, responder sobre os problemas nesse treinamento, e ouviu perguntas duras de senadores, como o republicano John McCain.

Austin praticamente assumiu que o programa de treinamento na Síria não deu em nada, mas prometeu que nos meses seguintes haveria maior pressão sobre áreas importantes dominadas pelo EI na Síria. O grupo acabou derrotado nos anos seguintes.

O general se aposentou em 2016, após 41 anos de serviço, e se tornou membro do conselho da empresa Raytheon, uma das principais fornecedoras de armas e equipamentos para o Pentágono. Também faz parte do conselho de outras companhias, como a Nucor, a maior produtora nacional de aço, e a Tenet, da área de saúde.

A proximidade do ex-general com grandes corporações pode gerar críticas de nomes mais à esquerda no Partido Democrata. Por outro lado, ele tem grande experiência em logística, o que pode ser útil no trabalho dos militares para ajudar a distribuir a vacina contra o coronavírus.

Austin trabalhou com Biden durante a gestão Obama. O vice-presidente foi escalado para lidar com as questões do Iraque. Ao anunciar a nomeação, Biden disse que pode testemunhar o caráter de Austin nas muitas horas em que os dois passaram juntos na Sala de Situação.

"Ele compartilha minha crença de que nós somos mais fortes quando lideramos não só pelo exemplo do nosso poder, mas pelo poder do nosso exemplo", escreveu o presidente eleito, em uma rede social.

Analistas apontam que o ex-general deve seguir as orientações de Biden, como um bom soldado, sem buscar atritos com o presidente. Seu perfil mais discreto, de evitar ser protagonista em eventos públicos, também contou pontos com Biden, segundo pessoas próximas ouvidas pela imprensa americana.

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