Brasileiros mudam planos do Réveillon, sozinhos e sem abraços

Com o avanço da pandemia do novo coronavírus e a chegada das festas de fim de ano, pode ficar ainda mais difícil para o brasileiro, acostumado a contato físico. Mas se cuidar é preciso

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Brasil ANO NOVO 13/12/20 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Nunca antes as pessoas tiveram tanta dificuldade para dar um abraço. Com o avanço da pandemia do novo coronavírus e a chegada das festas de fim de ano, pode ficar ainda mais difícil para o brasileiro, acostumado a contato físico. Mas se cuidar é preciso.

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Na sexta passada (11), o Brasil registrou mais de 180 mil mortes pela Covid-19 e a 6,8 milhões de casos. Com o aumento dos números da doença pelo país, muita gente já mudou os planos para a virada de 2020 para 2021. Há quem tenha cancelado viagens e encontros e aqueles que resolveram ficar mais reclusos, longe de aglomerações e dos próprios familiares.

No estado de São Paulo, onde festas de Réveillon estão proibidas em bares, restaurantes e hotéis, o governo pede que as famílias façam celebrações caseiras que reúnam no máximo dez pessoas - e sem a presença de idosos. A recomendação também inclui o uso de máscaras e o distanciamento social.

A influenciadora digital carioca Thaix Alves, 29, pretende passar o Réveillon apenas come quem mora: o noivo, Fabrício, 26, e a filha, Lilyan Vitória, 10. "A gente sempre viaja, eu vou ao Rio, passo na praia de Copacabana, faço churrasco em família. Neste ano mudou tudo. Minha menina entendeu numa boa. Teve todo um processo durante o ano", diz Alves, que atualmente mora em Belo Horizonte (MG).

Todos os planos que ela tinha para este ano ficarão foram adiados. "Minha mãe já teve Covid. Mesmo assim, não dá para bobear. Sempre estive no meio do povão, mas agora será impossível. Não sabia que iria durar tanto tempo essa pandemia", diz.

A dentista mineira Fernanda Fiuza, 41, resolveu cancelar o voo que tinha para Paris, na França. A ideia era passar o Réveillon bem de frente à Torre Eiffel, mas o coronavírus não deixou. "Vamos passar em casa mesmo, só eu, meu filho e meu marido. Também íamos à igreja no dia 31, outro plano alterado", diz Fiuza, que é casada com o assistente de palco do SBT Liminha. Eles também terão a companhia dos cãezinhos Bidu e Minie, da raça maltês.

Não bastasse a mudança de rota, ela ainda teve de passar pela dor de cabeça de um cancelamento de viagem. Mas não se arrepende. "Foi uma decisão difícil, a gente se programa com antecedência, mas com pandemia não podemos arriscar. Sou da área de saúde e mais do que tudo tenho que reforçar a prevenção."

A modelo e atriz Denise Dias, 31, decidiu que vai passar o Ano-Novo apenas com a mãe em um resort na Bahia, seguindo todas as recomendações e protocolos para evitar à Covid. As duas já contraíram a doença. "É um local mais isolado e tem número limitado de frequentadores. Como eu já tive a doença, fiz questão de me certificar de tudo. "

Ela diz que nunca foi adepta de viagens em grupo no Réveillon. E passar isolada só com a mãe já será o suficiente para que tenham uma virada bacana. A viagem só não ficará completa pelo fato de a modelo não poder levar seu pai que, aos 70 anos, sofre de diabetes e hipertensão.

"Para ele seria maior exposição. Não vejo o meu pai desde fevereiro. Ele está quase oito meses em casa. Ele e minha mãe são separados, mas são amigos. Vamos fazer muita ligação de vídeo para matar a saudade e transportá-lo para o ambiente que vamos curtir na Bahia". diz. "Quando começou pandemia, eu não imaginava que este seria o mais diferente Réveillon da minha vida."

SOZINHOS POR OPÇÃOA pandemia trouxe muitas lições e reflexões para a atriz paulistana Maria Aparecida Torlai, 60, que perdeu para a Covid-19 quatro pessoas da família, além de amigos com os quais tinha mais de 30 anos de amizade. Ela diz que tudo isso a fez perceber que não é hora de celebrações. E já avisou aos familiares e ao filho que, na virada para 2021, estará isolada em casa, fazendo orações.

"Vou passar sozinha por opção. Tenho minhas irmãs, uma delas em grupo de risco. Às vezes elas têm um contato a mais com outras pessoas, mas eu não. Estou cumprindo quarentena como deve ser. Sou atriz de teatro há 38 anos e estou parada. Você começa a repensar o que é a vida. Não adianta mais estar com pessoas presencialmente, pois todos nós vamos correr risco", diz Torlai, que só sai de casa a cada 45 dias para fazer compras.

Assim, o bom e velho celular será seu companheiro de passagem de ano. "Vou fazer umas ligações de vídeo na hora em que estivermos comendo. Infelizmente não tenho como receber ninguém. Nem todo mundo tem o cuidado que estou tendo. Tenho obrigação de me cuidar e cuidar dos outros, pois a vida é preciosa", afirma a atriz.

"Aquilo que não se aprende pelo amor, a gente aprende pela dor. A solidão existe para ensinamento também. O grande lance é Deus. Neste ano ele trouxe ensinamentos, pois o que não é bênção é lição", completa a atriz, cujo maior desejo é voltar a beijar suas irmãs. "Réveillon será diferente por causa das pessoas que eu amo e que não estão mais aqui. Elas deixaram o mundo mais pobre e o céu mais rico."

O também ator Fernando da Silva Teixeira, 56, natural de Ubá (MG), vai apelar às mesmas videochamadas para estar mais perto de sua família, que não vê desde janeiro. Morando em São Paulo desde 1989, ele se considera quase um paulistano, mas sempre viaja no fim do ano para a sua terra natal.

"Devido à pandemia e a paralisação da minha profissão, estou sem muito dinheiro. Vou passar sozinho. Na virada pretendo ficar solitário mesmo. Fazer uma oração. Tenho interiorizado minhas emoções. Será uma comemoração mais enxuta, reclusa", diz o ator, que vai comemorar com algumas taças de um bom champanhe.

E embora a saudade seja grande, ele afirma que não teme a solidão. "Minha mãe é tranquila e está conformada. Somos em 13 filhos e só eu e outro irmão estamos em São Paulo. Mas nem mesmo ele passará o Réveillon comigo", afirma Teixeira, que negocia com os sobrinhos uma festa virtual em família no Ano-Novo.

FAMÍLIA REUNIDA, MAS SEM ABRAÇOA modelo e empresária mineira Núbia Óliiver, 47, é mais uma que, preocupada com os números da Covid-19 pelo país, decidiu mudar de planos que havia feito para a passagem do ano. Ela afirma que tinha tudo programado para fazer um cruzeiro com a filha, de 16 anos, e uma amiga. A virada aconteceria em alto-mar, mas veio a pandemia. "Pagamos tudo, dez dias selecionados. Mas cancelamos."

Uma fazenda na região de Uberada (MG) será o refúgio de Óliiver e alguns familiares para o Ano-Novo. "Mesmo assim, não é hora de fazer grande festa. Sou mais cautelosa. Tenho meus pais em grupo de risco. Por ser um lugar aberto, dá para ter mais distanciamento [entre as pessoas]", explica.

E por falar em cautela, ela diz que vai evitar até mesmo demonstração de carinho. "Toda minha família está se cuidando. Minha mãe também não sai de casa, só agora que ela passou a ter contato com netos e filhos. Mas não vai ter abraço", afirma. Ela conta que fará novos testes de Covid antes de se encontrar com a mãe, que tem 60 anos, e com o pai, hoje com 74.

"Temos muito essa coisa de abraçar os irmãos, os sobrinhos, mas, infelizmente, não podemos. E mesmo que tenha feito exame, posso pegar a estrada e é um risco levar a doença para dentro de casa. Não está na hora [de abraçar]. É difícil, mas é preciso segurar a onda."

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