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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Para quem é fã da série de sucesso "Game of Thrones" (HBO), a atriz Sibel Kekilli, 40, já é um rosto conhecido. Intérprete de Shae na franquia escrita por George R. R. Martin, a atriz turco-alemã teve poucos papéis com o mesmo alcance, mas tem se destacado em outro trabalho importante: o de ajudar milhares de mulheres brasileiras em situação de risco e vulnerabilidade.
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Membro-fundadora da rede UNIDAS, que tem como propósito o fortalecimento dos direitos das mulheres em países da América Latina, Caribe e Alemanha, a atriz já visitou Salvador duas vezes, sendo a mais recente no início deste ano, e afirma que gosta de direcionar sua visibilidade em prol das causas em que acredita, como o feminismo.
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Entre janeiro e março, Kekilli mobilizou ações na capital baiana e foi recepcionada pela secretária Estadual de Políticas para Mulheres, Julieta Palmeira. "Meus pais são turcos, e apesar de eu ter nascido e crescido na Alemanha, a cultura turca sempre esteve presente na minha vida. E na minha opinião, vendo de fora, a cultura de lá [turca] é muito parecida com a América Latina. O machismo é um grande problema cultural, de alguma forma eu posso dizer que cresci nessas circunstâncias", afirma a atriz em entrevista à reportagem.
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De um ponto de vista privilegiado, como gosta de pontuar, Kekilli diz que procura cautela para manter diálogo com o público, já que, apesar das experiências que teve no Brasil, ainda não entende direito a língua portuguesa e tampouco a realidade vivida por milhares de mulheres brasileiras.
"A coisa mais importante é que eu sou privilegiada, claro que temos alguns dos mesmos problemas na Europa, mas não somos iguais. É muito fácil falar de fora, por isso não tento mostrar para as mulheres o que elas devem fazer ou não, apenas tento compreender", afirma ela, que desde garota "notava existir essa 'diferença' entre meninos e meninas".
Além do machismo, Sibel Kekilli precisou encarar inúmeros outros problemas, que se repetem em diversas culturas, apenas de terem tratamentos tão diferentes. Entre eles, está a violência doméstica, que cresceu 19,8% no estado de São Paulo durante a pandemia, na comparação com o ano anterior, de acordo com dados da Secretaria da Segurança Pública, obtidos pelo jornal Folha de S.Paulo.
Para a atriz, a diferença é brutal. "Aqui na Alemanha quando uma mulher que sofre violência doméstica e pede ajuda, o governo a ajuda a recomeçar a vida do zero. No Brasil sabemos que é bem diferente, não existe essa verba pública", afirma. Em junho deste ano a rede UNIDA e o Goethe-Institut Salvador viabilizaram cerca de 1.700 cestas básicas para distribuição entre mulheres em situação de risco social, por meio da Rede Mulher Solidária, liderada pela SPM-BA e com a participação de variadas instituições.
"As mulheres vivem em uma prisão e não podem escapar", pontua a artista, que acredita na mudança da raiz do problema através da exposição. "Quanto mais mulheres estiverem falando sobre isso, melhor. Precisamos manter os olhos bem abertos. Isso pode acontecer com alguém próximo, com a nossa vizinha. Precisamos fornecer ajuda", afirma.
SUCESSO INESPERADO
Na luta feminista desde 2005, foi a partir de 2011, após estrear em "Game of Thrones" como Shae, que Sibel Kekilli aproveitou para direcionar ainda mais a atenção às causas dos direitos das mulheres. Em 2017, quando era embaixadora da ONG Terre des Femmes, ela chegou a levar o título Cruz de Mérito Federal pelo ativismo.
Já seu sucesso como atriz, ela afirma que veio de forma inesperada, após chamar a atenção ao estrelar, em 2004, o filme "Contra a Parede", vencedor do Deutscher Filmpreis, prêmio mais prestigiado do cinema alemão. Já em "Game of Thrones", ela deu vida a Shae até a 4ª temporada, como amante de Tyrion Lannister, papel do astro Peter Dinklage.
"Não sabíamos que seria essa febre no início. Era algo como: 'Vamos ver o que vai acontecer'. Acho que só depois da terceira temporada entendemos o que realmente estava acontecendo. Não podíamos publicar fotos dos bastidores no Instagram porque seria um escândalo."
Sem viver a mocinha na história, Kekilli afirma ter presenciado muito "hate" dos fãs da série. "Quando não gostam da personagem é difícil. Você é tratado como se carregasse alguma culpa quando, na verdade, só quer ficar em paz. Não escrevi o roteiro, só estou fazendo meu trabalho", brinca.
Shae teve seu fim na quarta temporada. Para Kekilli não foi tão fácil aceitar a morte da personagem. "Foi terrível, tentei refutar diversas vezes. Ela estava prevista para morrer na primeira temporada e quando vi já estava na terceira", conta, com bom humor. "No final das contas você tem que fazer a cena, não tem jeito. Mas eu chorei [risos]".
"Game of Thrones" chegou ao fim neste ano, contabilizando ao todo oito temporadas.