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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após apoiadores de Donald Trump invadirem o Congresso na quarta-feira (6), um crescente número de líderes da sociedade civil, empresários e políticos começaram a romper com o presidente –e chegam até a discutir medidas para retirá-lo do poder antes do término de seu mandato, em 20 de janeiro.
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Se o endosso de democratas à iniciativa não surpreende, nomes importantes do Partido Republicano e membros do governo passaram a criticar abertamente Trump, cada vez mais isolado na Casa Branca.
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Nesta quinta-feira (7), a secretária de Transportes, Elaine Chao, parte do alto escalão da atual administração, renunciou, confirmando especulações de que deixaria o cargo. "Nosso país viveu um evento traumático e totalmente evitável", disse ela em um comunicado em suas redes sociais.
Chao é casada com o líder dos republicanos no Senado, Mitch McConnell, que já havia rompido com Trump por rejeitar a tentativa de impedir a confirmação do resultado das eleições, vencidas por Joe Biden.
O vice-conselheiro de Segurança Nacional do governo, Matt Pottinger, o principal conselheiro da Casa Branca para a Rússia, Ryan Tully, e o ex-chefe de gabinete e atual enviado especial à Irlanda do Norte, Mick Mulvaney, também deixaram seus cargos.
"Liguei para [o secretário de Estado] Mike Pompeo para avisá-lo que estava renunciando. Não posso ficar", disse Mulvaney à rede de TV CNBC na manhã desta quinta. "Aqueles que escolheram ficar estão optando assim porque estão preocupados que o presidente coloque alguém pior."
As saídas ocorrem em meio a especulações de que outros membros da Casa Branca seguirão o mesmo caminho –Chris Liddell, vice-chefe de gabinete de Trump, também estaria considerando abandonar o governo, segundo a imprensa americana.
O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Robert C. O'Brien, elogiou o comportamento do vice Mike Pence, que resistiu à pressão de Trump para anular a certificação eleitoral, sem fazer menção direta ao presidente. "Acabei de falar com o vice-presidente Pence. Ele é um homem genuinamente bom e decente e exibiu coragem hoje", escreveu ele em suas redes sociais.
William Barr, ex-secretário de Justiça do governo, chamou a conduta de Trump de "uma traição a seu cargo e a seus apoiadores". Ele era um dos apoiadores mais fervorosos do presidente, mas a relação entre os dois ficou estremecida após o hoje ex-secretário reconhecer não ter havido fraude eleitoral que justificasse uma reversão da derrota do republicano. Acabou demitido no mês passado.
Além disso, Anna Cristina Niceta, responsável pelo cerimonial da Casa Branca, e Stephanie Grisham, chefe de gabinete da primeira-dama Melania Trump e ex-porta-voz da Casa Branca, também deixaram o governo.
A vice-secretária de imprensa da Casa Branca, Sarah Matthews, fez o mesmo, dizendo estar "profundamente perturbada" com o ataque ao Capitólio. "Tive a honra de servir na administração Trump e me orgulho das políticas que aprovamos", disse Matthews em um comunicado. "Vou renunciar ao meu cargo, com efeito imediato. Nossa nação precisa de uma transferência pacífica de poder."
O governador do estado de Vermont, o republicano Phil Scott, atacou Trump diretamente. "Não se engane, o presidente dos Estados Unidos é o responsável por este evento", disse ele, que já criticou Trump no passado e apoiou o inquérito de impeachment da Câmara em 2019.
O senador Ted Cruz e o procurador-geral do Texas, Ken Paxton, que sempre apoiaram as teorias falsas de que o pleito foi fraudado, manifestaram-se contra a invasão do Congresso, pedindo o fim da violência.
Há aqueles que resistem. Na sessão de certificação da vitória de Biden, que seguiu durante a madrugada desta quinta, aliados de Trump no Congresso apresentaram objeções, em uma tentativa de invalidar o resultado das urnas nos estados de Arizona e Pensilvânia.
Nas duas Casas, o placar das votações arruinou qualquer esperança de que as contestações resultassem em alguma mudança na vitória de Biden. O questionamento aos votos do Arizona foi rejeitado com placar de 303 a 121 na Câmara, e 93 a 6 no Senado. A objeção aos delegados da Pensilvânia perdeu por 282 a 138 entre os deputados, e 92 a 7 entre os senadores.
Após o Congresso dos EUA ratificar a vitória do democrata, Trump prometeu "uma transição ordeira".