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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Com o objetivo de evitar traições, os dois principais candidatos ao comando da Câmara têm feito ofensiva sobre gestões estaduais em busca de apoio e recorrido à caneta do Poder Executivo para segurar votos.
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Os cálculos dos blocos de Arthur Lira (PP-AL) e de Baleia Rossi (MDB-SP) são que, hoje, há um percentual de risco de defecção de pelo menos 20%. Ou seja, que no mínimo 1/5 dos deputados federais que formam cada grupo partidário pode votar no adversário. Tanto Lira como Baleia têm trabalhado para reduzir esse percentual a 10%.
Neste início de ano, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), telefonou para governadores aliados e pediu que eles intercedam por seu candidato, Baleia. Segundo a reportagem apurou, Maia acionou mais de dez governadores, entre eles o do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), e o do Ceará, Camilo Santana (PT).
A intenção de Maia é evitar dissidências no bloco que hoje apoia Baleia, formado por PT, PC do B, PSB, PDT, DEM, PSDB, MDB, Cidadania, PV, Rede e PSL. Apesar dos anúncios partidários, o voto para a presidência da Câmara é secreto.
A campanha de Lira, candidato do presidente Jair Bolsonaro, calcula que há ao menos 30% de defecções nessas siglas e aposta que haverá traições a Baleia em todos os partidos que apoiam a sua candidatura, inclusive no MDB. Lira trabalha justamente para estimular as dissidências.
Formalmente, o bloco de apoio ao integrante do PP é menor que o do emedebista e composto por PL, PSD, Republicanos, Avante, Podemos, Patriota, PSC e PROS. Outros partidos, como Solidariedade e PTB, ainda não tomaram decisão formal. E há siglas rachadas, como o PSL.
Para ampliar as divisões, integrantes do grupo de Lira têm ameaçado retirar cargos no governo de deputados que não o apoiarem. O movimento conta com apoio da articulação política do Planalto.
Hoje, deputados federais de MDB, DEM e PSDB contam com indicados em funções federais. Pessoas ligadas à campanha do PP têm dito que o governo federal não tem compromisso em manter indicados na estrutura do Executivo de quem votar contra Lira.
O deputado Marcelo Ramos (PL-AM), aliado do líder do PP, nega que haja ameaça por parte da campanha, mas avalia que cada parlamentar deveria agir com coerência.
"Quem tem cargo no governo e legitimamente quer apoiar uma chapa cujo discurso é contrapor o governo tinha de ter vergonha na cara e entregar o cargo", disse Ramos.
Já o poder da caneta de Baleia tem vindo dos governos estaduais que endossam o candidato de Maia.
Segundo relatos feitos à reportagem, pelo apoio à candidatura adversária de Bolsonaro gestões estaduais têm sinalizado a deputados federais que podem fazer mudanças em nomes indicados por eles em âmbito regional, além de acenos com a liberação de obras.
Como publicou a coluna Painel, a campanha de Baleia calcula ter apoio de ao menos 20 governadores. A conta é otimista, já que inclui nomes que são próximos a Bolsonaro, como Ronaldo Caiado (DEM), de Goiás, e Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal.
Tem pesado para o apoio dos governos estaduais a Baleia a articulação direta de Maia. Nesta quarta-feira (13), por exemplo, o presidente da Câmara deve acompanhá-lo em Fortaleza, em encontro com deputados cearenses.
Segundo gestores locais ouvidos pela reportagem, a maioria dos governadores hoje se posiciona de forma independente a Bolsonaro. E ressaltam que a Câmara foi fundamental para garantir a aprovação de matérias caras aos estados. São citados o pagamento do auxílio emergencial e a renegociação de dívidas.
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Por outro lado, os partidos que integram o grupo de Lira comandam hoje estados como Acre, Amazonas, Paraná, Rio, Sergipe e Roraima. O último tem à frente o bolsonarista Antonio Denarium, que foi desligado do PSL no ano passado.
O Novo, do governador mineiro, Romeu Zema, ainda não se posicionou.
Como Baleia, Lira tem rodado o país em reuniões com bancadas federais e quer visitar, até fevereiro, todos os governadores e prefeitos de capitais. Segundo aliados do líder do centrão, ele já falou com mais de 400 parlamentares, muitos deles de partidos que formam o bloco de Baleia.
Ambos os candidatos têm usado jatos particulares bancados pelos respectivos partidos. No ano passado, o MDB recebeu R$ 47,6 milhões referentes ao fundo partidário, mas, segundo a campanha, é vedado o uso desse dinheiro para bancar as viagens. Por isso, de acordo com a sigla, o MDB está custeando os voos com recursos próprios adquiridos por meio de doações.
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Não há, por ora, nenhuma campanha de arrecadação de mais dinheiro. Mas, segundo o partido, todos os recursos que forem usados agora estarão na prestação de contas apresentada pela sigla no fim do ano. A empresa contratada pelo MDB para alguns trajetos é a Icon Taxi Aereo. O valor não foi informado.
O PP não informou a origem do dinheiro para as viagens de Lira. Em nota, disse que "irá totalizar a contabilidade dos gastos, cuja declaração será inserida na planilha de prestação de contas a ser encaminhada à Justiça Eleitoral para aprovação". "Todas as ações da campanha são feitas cumprindo rigorosamente a legislação e as contas serão divulgadas de forma transparente." O PP recebeu R$ 47,9 milhões de fundo partidário em 2020.