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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse nesta terça-feira (26) que a pasta enviou amostras ligadas à nova variante do coronavírus identificada em Manaus para análise em Oxford, na Inglaterra. O objetivo "é ter uma posição exata" sobre mudanças no grau de transmissão e agressividade do vírus.
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Segundo o ministro, a tendência avaliada até o momento pela pasta é que a nova variante seja mais transmissível, mas tenha o mesmo grau de agressividade em relação ao vírus antigo -ainda assim, com possibilidade de sobrecarregar a rede de saúde devido à maior transmissão.
A declaração ocorreu em evento no hospital Nilton Lins, em Manaus, transmitido pelas redes sociais.
Alvo de inquérito aberto pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para investigar a suspeita de omissão da pasta diante do colapso da rede de saúde em Manaus, Pazuello atribuiu a situação na cidade a "gargalos de décadas" e a uma diferença na contaminação possivelmente causada pela nova variante.
"É importante compreender os gargalos que existem na nossa região. São gargalos de décadas, mas são reais. Temos problemas com abastecimento de oxigênio, de quantitativo de leitos, problemas de recursos humanos e deficiência na atenção básica. E temos problemas agravados pela situação epidemiológica que estamos encontrando no Amazonas, especialmente em Manaus", afirmou, citando em seguida a alta de casos e a nova variante do coronavírus.
"A tendência é que seja uma cepa que contamina mais, mas com grau de agressividade semelhante a anterior. Mas é um número de contaminados e propagação que faz a diferença. Somando essa diferença com os gargalos que apresentei, chegamos à situação de Manaus", disse.
A referência à nova variante, porém, destoa de declarações anteriores do ministro, que até a última semana evitava atrelar o quadro a uma mudança no vírus. Já nesta terça (26), a possibilidade passou a ser citada pelo ministro como um dos fatores. Ele ressaltou, porém, que essa é uma "análise rápida e simples que ainda precisa ser aprofundada".
Ainda no evento, Pazuello tentou rebater indiretamente críticas pela demora da pasta em adotar ações e disse que o aumento de casos neste mês "foi uma situação completamente desconhecida para todo mundo" e "muito rápido".
Reportagem da Folha, no entanto, mostrou que o ministro foi alertado em diferentes ocasiões sobre o quadro em Manaus e o risco de falta de oxigênio - inclusive quatro dias antes de ela ocorrer.
Sem citar os alertas anteriores, Pazuello disse em discurso nesta terça que o problema da falta de oxigênio já estaria "equalizado". "Isso nos dá possibilidade de ampliar estruturas que não eram ampliadas", afirmou, citando novos leitos abertos no hospital Nilton Lins.
Cobrado pela PGR (Procuradoria-geral da República) por uma possível omissão da pasta, o ministro também tentou fazer uma prestação de contas de medidas mais recentes e voltou a defender, de forma indireta, que a pasta não teria responsabilidade no planejamento de ações. "Nossa posição é de apoio. Não foi usurpado nenhum tipo de poder do estado ou município", afirmou.
Segundo ele, entre as medidas adotadas nos últimos dias, estão a contratação de miniusinas geradoras de oxigênio e revisão da rede de gases dos hospitais. "São redes antigas que precisam ser trabalhadas para reduzir perdas."
Até o momento, cerca de 300 pacientes já foram transferidos para outros estados por meio de aviões da Força Aérea. Segundo Pazuello, o objetivo da pasta é chegar a 1.500 "para que possamos equilibrar a quantidade de demanda e oferta em Manaus".
Também foram enviadas 452 mil doses de vacinas contra Covid ao estado, proporção que deve servir para vacinação de indígenas e idosos em asilos, além de 87% dos trabalhadores de saúde. São ainda previstas 100 mil doses para idosos acima de 70 anos devido a uma cota acordada por governadores de outros estados, apontou o ministro.
Após citar os dados, o ministro deixou o evento sem responder perguntas.