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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em uma reunião fechada ocorrida nesta terça-feira (26), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), manifestou insatisfação com o chefe nacional do seu partido, ACM Neto, em um reflexo da dificuldade interna da legenda de se unir em torno de Baleia Rossi (MDB-SP), nome de Maia para a sua sucessão.
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Maia chegou a dizer que o DEM corre o risco de ganhar um apelido dado ao PT no passado, o "partido da boquinha".A reunião ocorreu pela manhã, no Palácio da Cidade, sede da Prefeitura do Rio de Janeiro, e teve a presença do prefeito Eduardo Paes (DEM) e de deputados federais de vários partidos, da esquerda e da direita.
Maia tenta emplacar Baleia como seu sucessor, mas enfrenta o favoritismo, até agora, de Arthur Lira (PP-AL), candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e que vem conseguindo apoio público inclusive de deputados do DEM.
A eleição para a renovação do comando da Câmara ocorrerá na próxima segunda-feira (1º), às 22h.
De acordo com relatos obtidos pela reportagem, Maia demonstrou em sua fala na reunião insatisfação por ACM Neto não ter usado sua influência como presidente do partido e como ex-prefeito de Salvador para impedir as manifestações públicas de apoio a Lira por parte de integrantes do DEM da Bahia.
Ainda de acordo com esses relatos, o presidente da Câmara disse aos parlamentares ter telefonado para ACM Neto e dito que se o partido se render a cargos e emendas ao orçamento oferecidos pelo governo Bolsonaro e por Lira pode virar o "partido da boquinha".
Maia confirmou à reportagem ter usado a expressão "partido da boquinha", mas disse que ela não foi uma crítica a ACM Neto.
"O que eu disse é que já tinha gente preocupada que o partido tivesse passando uma imagem de que estava negociando cargo e emenda por voto. Um amigo meu, que é admirador do DEM, falou isso. E eu alertei isso ao presidente do partido. E o Neto me garantiu que o partido vai ficar com o Baleia. E que vamos garantir o [apoio ao] bloco [de Baleia Rossi] e, depois do bloco, vamos garantir os votos do partido, mais de dois terços dos votos", disse Maia.
A expressão foi usada em 1999 pelo então governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, (à época no PDT), que disse que o ex-aliado PT deveria mudar de nome no Rio, para PB (Partido da Boquinha). "Eles têm mais de 200 cargos no meu governo e estão querendo mais", disse.
Por ora o DEM está formalmente no bloco de apoio a Baleia, mas Lira tenta ampliar as dissidências para forçar o partido a migrar para o seu bloco. Um dos principais líderes da rebelião interna pró-Lira é Elmar Nascimento (BA), que indicou um nome para a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) e que foi preterido por Maia na escolha do candidato à sua sucessão.
O DEM tem 29 dos 513 deputados. Para vencer a eleição, que é secreta, é preciso de mais da metade dos votos dos presentes.
A reunião desta terça evidencia uma crise na candidatura de Baleia, que tem buscado conter as dissidências em vários dos partidos que o apoiam.
De acordo com a avaliação feita por Maia na reunião, o apoio majoritário da esquerda está garantido ao emedebista. O problema, disse, está no próprio DEM e no PSDB do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, FHC disse em mensagem encaminhada para o grupo de WhatsApp da bancada que trair a decisão da legenda e votar em Lira é dar adeus às expectativas de ganhar a eleição presidencial de 2022. Isso porque, em sua análise, ninguém confiaria mais na palavra dos tucanos. O PSDB tem 33 deputados.
Expoentes da ala que liderou a renovação do DEM (ex-PFL) após o declínio político de figuras como Jorge Bornhausen e Antonio Carlos Magalhães, avô do atual presidente da sigla, ACM Neto e Maia sempre atuaram unidos politicamente.
Nos bastidores, ACM Neto e seus aliados mais próximos têm dito que não interferiram explicitamente para barrar o anúncio público de traições no partido com o objetivo de não prejudicar a candidatura à presidência do Senado de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que tem o apoio do atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e de Bolsonaro.
Segundo essa tese, o governo e o PP poderiam retaliar Pacheco caso houvesse interferência de ACM.
Maia afirmou ainda na reunião desta terça que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ), cassado em 2016 e hoje em prisão domiciliar, está atuando em favor da candidatura de Lira.
Maia foi aliado de Cunha até 2016, mas se afastou após ser preterido pelo emedebista na indicação para o cargo de líder do governo na Câmara. Lira também foi aliado próximo de Cunha no período em que o emedebista comandou a Casa.
A disputa pela presidência da Câmara tem movimentado intensamente o mundo político, pois o resultado do próximo dia 1º terá o poder de moldar de forma expressiva o cenário político futuro.
Além de definir qual é a pauta de votações, o presidente da Câmara é o segundo na linha sucessória da Presidência da República e, entre seus poderes, tem nas mãos a responsabilidade de definir monocraticamente se dá ou não sequência a um pedido de impeachment contra o chefe do Executivo -há, hoje, 56 deles aguardando análise.
Maia irá encerrar um período de quatro anos e meio como presidente da Câmara, tendo derrotado o centrão em duas das três eleições de que participou. Na última ele teve o apoio do grupo.
Atualmente, o deputado tem adotado uma linha de forte oposição a Bolsonaro. Caso Lira vença, o presidente da República terá, pelo menos nesse início, um aliado no comando da Câmara.