Governo tentou doação de oxigênio dos EUA por 9 dias, e Venezuela já fez três remessas a Manaus

Ernesto falou por telefone com Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA no governo Trump. O contato ocorreu logo no início do colapso dos hospitais em Manaus por falta de oxigênio

© Getty Images

Mundo CORONAVÍRUS-AM 27/01/21 POR Folhapress

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentou, por nove dias, garantir uma doação de oxigênio líquido dos Estados Unidos para o Amazonas. No entanto, como consta em documento da Casa Civil da Presidência sobre as ações para debelar a crise no estado, não obteve êxito até o fim da tarde desta segunda-feira (25).

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No mesmo período, a Venezuela –país sob o regime do ditador Nicolás Maduro e criticado pelo presidente e seus aliados– já fez três remessas do insumo a Manaus. Neste mês, a capital do Amazonas enfrenta um repique na pandemia da Covid-19.

O pedido de oxigênio ao governo americano é conduzido pelo Ministério das Relações Exteriores.

As negociações começaram no dia 17 de janeiro, no apagar das luzes da gestão do republicando Donald Trump, de quem Bolsonaro era aliado, e continuaram após a posse do democrata Joe Biden, no dia 20.

O presidente brasileiro foi um dos últimos a reconhecer a vitória de Biden e apontou fraudes na eleição do democrata, dando vazão ao discurso de Trump até o fim da transição de poder nos EUA.

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Antes de buscar a doação de oxigênio líquido, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, tentou garantir o empréstimo de aeronaves americanas para transportar o insumo até Manaus, mas esse transporte não chegou a ocorrer.

Ernesto falou por telefone com Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA no governo Trump. O contato ocorreu logo no início do colapso dos hospitais em Manaus por falta de oxigênio. Pacientes morreram por falta de insumo, segundo médicos.

O pedido do Itamaraty por aviões dos EUA não foi o único que não prosperou em tempo hábil. Houve também ofensivas sobre Chile e Israel, mas nenhuma funcionou. No momento das tratativas diplomáticas, os três países eram administrados por políticos de direita, o campo político de Bolsonaro.

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A informação sobre o início das negociações com os EUA para doações de oxigênio no dia 17 está registrada em relatório da Casa Civil, que atualiza diariamente as ações de ministérios na crise de escassez de oxigênio no Amazonas.

No fim da tarde do dia 25, a Casa Civil anotou que seguia em curso o pedido por "doação de oxigênio líquido ao governo dos EUA em favor do estado do Amazonas". A solicitação está a cargo do Itamaraty.

Estão envolvidos na operação o Ministério das Relações Exteriores, a ABC (Agência Brasileira de Cooperação), a Embaixada do Brasil em Washington e a Embaixada dos EUA em Brasília. Gestões "político-diplomáticas" ocorrem nas duas capitais, conforme o documento da Casa Civil.

O mesmo relatório detalha os envios de oxigênio a Manaus feitos pela Venezuela. A primeira remessa, que contou com a coordenação do Itamaraty na fronteira para facilitar os trâmites do transporte do insumo, ocorreu no dia 19.

O oxigênio foi doado pelo "estado venezuelano de Bolívar ao estado do Amazonas", segundo o documento da Casa Civil.Depois, no mesmo dia e no dia seguinte, o Itamaraty coordenou a "escolta feita pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) dos cinco caminhões venezuelanos carregados com oxigênio líquido".

A escolta ocorreu de Pacaraima (RR), cidade que fica na fronteira com a Venezuela, até Manaus.

Uma segunda remessa feita pela Venezuela ocorreu no dia 22. No mesmo dia, o Itamaraty coordenou uma operação que buscou agilizar o transbordo de oxigênio líquido dos tanques de dois caminhões venezuelanos para dois caminhões brasileiros.

Neste caso, segundo a Casa Civil, o insumo era da White Martins, a empresa fornecedora dos hospitais em Manaus.

A crise de escassez de oxigênio no Amazonas levou o ministro da Saúde, o general da ativa Eduardo Pazuello, a ser formalmente investigado no STF (Supremo Tribunal Federal).

Ele é suspeito de cometer crimes ao se omitir diante de sucessivos alertas, feitos com pelo menos seis dias de antecedência, sobre o que ocorria e o que viria a ocorrer nos hospitais.

A reportagem enviou perguntas ao Itamaraty e à Embaixada dos EUA em Brasília, no começo da tarde de terça (26). Não houve resposta até a publicação desta reportagem.

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