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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), manteve a decisão de se encastelar na área onde hoje fica o comitê de imprensa da Casa, mas recuou da intenção de transferir os jornalistas a uma sala distante do plenário e sem janelas em plena pandemia de Covid-19.
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Lira comunicou a decisão em um rápido encontro com representante do comitê de imprensa nesta quinta-feira (11).
A proposta do presidente da Câmara, que não foi formalizada em um projeto oficial, é transferir os jornalistas provisoriamente a uma sala menor, mas com janelas, enquanto durarem as obras no espaço que abrigará os profissionais.
A expectativa é que a mudança ocorra já nesta sexta (12), e que a reforma seja concluída em até quatro meses, segundo o presidente da Câmara. Os jornalistas trabalhariam no novo espaço, que fica ao lado do atual, já na segunda-feira (15).
O espaço tem 107 metros quadrados, o mesmo tamanho da primeira sala que receberia os jornalistas -que, no entanto, não tinha janelas. O local não comporta todos os profissionais que cobrem as atividades legislativas -o atual comitê tem 288 metros quadrados.
De acordo com o líder do centrão, a área do novo comitê será equivalente em espaço à do atual.
Quando a obra for concluída, Lira pode se livrar de ser abordado pela imprensa, pois terá acesso direto ao plenário da Câmara.
Hoje, ele precisa passar por uma área de circulação de jornalistas e representantes da sociedade que frequentam a Câmara -o chamado Salão Verde. Quando passam por essa área, os presidentes da Casa são geralmente questionados sobre pauta de votações, decisões polêmicas e demais fatos políticos.
O novo comitê de imprensa deve ficar ao lado do atual, em sala onde hoje fica a primeira vice-presidência. O espaço todo tem 255 metros quadrados, mas os jornalistas devem ocupar apenas parte -ainda não definida- do local.
O comitê também deve ocupar parte do espaço que recebia a SGM (Secretaria-Geral da Mesa). O local é próximo ao Salão Verde, mas os jornalistas perderão acesso direto ao plenário, como têm hoje, assim como a possibilidade de abordar o presidente antes, durante ou após as votações.
Nos últimos dias, Lira se mostrou irredutível em relação à decisão de tirar os jornalistas do atual comitê, em medida que gerou atritos com os profissionais e que teve repercussão negativa com outros deputados e personalidades.
Nos bastidores, o presidente da Câmara responsabiliza o diretor-geral da Câmara, Sérgio Sampaio, pela crise provocada pela transferência da imprensa, e cogita substituí-lo do cargo.
O recuo de Lira em relação à transferência dos jornalistas já havia sido manifestado na quarta-feira (10), em entrevista ao programa Ponto a Ponto (BandNews), apresentado pela colunista da Folha de S.Paulo Mônica Bergamo e pelo cientista político Antonio Lavareda.
Na conversa, ele negou que a intenção fosse atrapalhar a imprensa e qualificou o episódio de "mal entendido".
"Queria deixar claro que nunca tive a intenção de cercear o trabalho de imprensa, diminuir o acesso, deixar de conversar", disse. "Quando assumimos, já existia esse quadro proposto de remanejamento. Só não tinham tomado providência de resolver o problema da presidência da Câmara, que funciona com muita dificuldade. Você não pode reunir três, quatro pessoas na sala que não tem condições, não consegue arcar."
Na entrevista, Lira já sinalizou que responsabilizava Sampaio pelo episódio. "Houve na realidade um mal entendido entre um funcionário da Casa, que colocou de maneira açodada para o comitê de imprensa que a Câmara teria que fazer ali o que teria que ser e que o pessoal teria que desocupar amanhã [nesta quinta]", afirmou.
"Quando o assunto nos veio a conhecimento, eu não sabia absolutamente o que tinha acontecido e acreditava que o assunto estava pacificado, procuramos entender logo qual era a demanda, porque a sala que foi proposta é muito bem localizada. Aí fomos procurar conversar com os jornalistas que temos amizade para entender qual era o problema, se era de tradição, se era de acomodação, se era, como a gente chama no Nordeste, de picuinha, não quero sair daqui porque aqui é meu lugar, trabalho aqui há muito tempo."
Além de banheiros, o comitê atual tem 54 espaços, cabine de imprensa para entrevistas reservadas e janelas.
O atual comitê dá acesso ao plenário da Câmara e facilita o trânsito de jornalistas pelo Salão Verde.
Por causa da pandemia, o acesso ao plenário está proibido para jornalistas. O trabalho da imprensa é realizado no Salão Verde ou no Salão Negro, local que foi preparado de acordo com as medidas de segurança contra a Covid-19 para entrevistas coletivas –quase que diárias– do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) e outros parlamentares.
Leia Também: Parlamentares questionam Lira sobre mudança de Comitê de Imprensa na Câmara
Lira ressuscitou um projeto do ex-presidente da Casa Eduardo Cunha (MDB-RJ). A obra no local envolve a instalação de um elevador para cadeirantes no gabinete.
A mudança também chegou a ser discutida quando o PT comandou a Câmara, mas não avançou.
O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) só deu aval à obra durante a gestão de Cunha. O emedebista pretendia realizar a reforma, mas acabou afastado e preso pela Operação Lava Jato acusado de receber propina por contratos com órgãos públicos e da Caixa Econômica Federal.
"A intervenção, como foi concebida, não apresenta riscos de descaracterização do edifício e se restringe basicamente à reorganização e redistribuição interna de diversos ambientes de trabalho, conferindo mais clareza à organização e distribuição dos ambientes internos do edifício, não havendo nenhuma alteração, seja na volumetria do edifício, suas fachadas ou obras de arte integradas", afirma o Iphan.
Lira foi eleito para comandar a Casa no primeiro turno com ajuda do governo Bolsonaro, que distribuiu cargos e emendas para partidos aliados em troca do apoio ao candidato alinhado ao Palácio do Planalto.
Nesta quinta, os deputados também aprovaram projeto que autoriza o funcionamento das comissões e do Conselho de Ética. Os plenários onde ocorrerão as reuniões terão limite de ocupação. Poderão participar parlamentares, ministros, servidores e representantes de organizações e entidades.
As sessões e reuniões remotas deverão ser convocadas no mínimo com 24 horas de antecedência. De acordo com o projeto de resolução, esses encontros deverão ser apreciadas preferencialmente assuntos relacionados à pandemia de Covid-19.