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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Hackers da Coreia do Norte tentaram roubar a empresa farmacêutica Pfizer em busca de informações sobre vacinas e tratamentos contra o coronavírus, afirmou nesta terça-feira (16) o deputado sul-coreano Ha Tae-Keung com base em informações da agência de inteligência de seu país.
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"Houve tentativas de roubar a vacina contra a Covid e a tecnologia de tratamento durantes os ataques cibernéticos, e a Pfizer foi hackeada", disse Ha durante uma entrevista coletiva depois de receber as informações do Serviço Nacional de Inteligência (NIS).
A espionagem digital contra órgãos de saúde, cientistas responsáveis pelo desenvolvimento de vacinas e fabricantes de medicamentos aumentou durante a pandemia, enquanto grupos de hackers ligados ao regime de Kim Jong-un buscam formas de garantir acesso às pesquisas e informações mais recentes sobre a Covid-19.
A suspeita dos especialistas, entretanto, é que os criminosos estariam mais interessados em vender os dados roubados do que em usá-los para desenvolver uma vacina própria da Coreia do Norte.
No ano passado, o país também foi acusado de apoiar ataques a pelo menos nove farmacêuticas, como as americanas Johnson & Johnson e Novavax e a britânica AstraZeneca, todas diretamente ligadas à produção de imunizantes contra o coronavírus.
Nesta terça, o NIS informou ainda que frustrou várias tentativas de seu vizinho do Norte de invadir empresas sul-coreanas que também trabalham no desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19.
A Coreia do Norte deve receber quase 2 milhões de doses do imunizante produzido pela AstraZeneca até o fim do primeiro semestre deste ano por meio do Covax Facility, o consórcio internacional liderado pela Organização Mundial da Saúde para distribuir vacinas aos países pobres.
O ditador norte-coreano, entretanto, garante que seu país não teve nenhum caso de contaminação por coronavírus. Especialistas apontam que a alegação é altamente improvável, visto que a China, onde foram identificados os primeiros casos de Covid-19, além de vizinha é a principal parceira comercial da Coreia do Norte.
O fechamento das fronteiras em janeiro do ano passado aumentou a pressão sobre a economia norte-coreana, já sujeita a sanções internacionais devido ao programa nuclear e balístico desenvolvido pelo regime.
Nos últimos anos, o país tem sido frequentemente acusado de recorrer aos cibertaques justamente como forma uma forma de driblar as restrições. Estima-se que a Coreia do Norte tenha um exército com mihares de hackers treinados para atacar empresas, instituições e centros de pesquisa estrangeiros, especialmente na vizinha Coreia do Sul.
A denúncia feita nesta terça ocorre menos de uma semana depois de uma investigação feita por especialistas da ONU acusar a Coreia do Norte de ser a responsável por roubos que totalizam mais de US$ 316,4 milhões (R$ 1,7 bilhão) em ataques contra bolsas de criptomoedas.
As habilidades de hackers ligados ao regime de Pyongyang vieram à tona em 2014, quando a Coreia do Norte foi acusada de atacar as bases de dados do estúdio Sony Pictures em retaliação ao lançamento do filme "A Entrevista", de 2014. A comédia imagina dois jornalistas indo entrevistar o ditador do país, Kim Jong-un, com a missão também de assassiná-lo.
À época, o regime denunciou o filme como um "patrocínio sem disfarces de terrorismo, como também um ato de guerra", em carta ao então secretário-geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-moon.
Em 2018, uma empresa de cibersegurança que trabalha em conjunto com o governo dos Estados Unidos revelou que um grupo de hackers ligado a Kim Jong-un tentou roubar US$ 1,1 bilhão (R$ 5,92 bilhões, na cotação atual) de organizações de vários países, inclusive do Brasil.
Entre os alvos confirmados estavam o Banco Central de Bangladesh, que perdeu US$ 81 milhões (R$ 435 milhões) em 2016, e o banco taiwanês Far Eastern International, que teve US$ 60 milhões (R$ 322 milhões) roubados em 2017.
Especialistas conseguiram identificar o modus operandi dos hackers na maioria dos casos. Após realizarem um roubo, o grupo norte-coreano deixa um programa capaz de implodir todo o sistema.
A ideia é, ao mesmo tempo, destruir as evidências do ataque e desviar a atenção de autoridades de segurança, como um ladrão que queima a casa após o furto. Muitas organizações só percebem que foram alvo da ação neste momento, quando o roubo já foi concluído e sua rede, destruída.
Desde 2006, a Coreia do Norte está sujeita a sanções impostas pela ONU que prejudicaram seriamente sua economia. As medidas têm sido reforçadas pelos países-membros do Conselho de Segurança da entidade, principalmente os EUA.
As negociações entre Washington e Pyongyang estagnaram após o fracasso da cúpula entre Kim Jong-un e o então Donald Trump, em 2019. Uma das razões apontadas para essa estagnação foi a falta de consenso sobre as concessões que a Coreia do Norte deveria fazer em troca da suspensão das sanções e da redução da pressão internacional.