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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O apresentador Carlos Massa, o Ratinho, defendeu na terça (7) uma intervenção militar "igual à de Singapura" para melhorar a situação no Brasil.
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"Eu sei que o que vou falar aqui pode até chocar, mas está na hora de fazer igual fez em Singapura. Entrou um general, consertou o país e, um ano depois, fez eleições. Mas primeiro consertou, chamou todos denunciados e disse: 'Vocês têm 24 horas para deixar o país ou serão fuzilados'. Limpou Singapura", disse, durante um programa da rádio Massa FM, da qual é proprietário.
Além de defender um ato ilegal, Ratinho passou informações erradas. Singapura não teve intervenção militar, nem foi comandada por um general da ativa. E o combate à corrupção foi um trabalho feito ao longo de décadas.
O país, que é uma ilha-Estado de 5,8 milhões de habitantes, teve um grande salto econômico em uma geração e se tornou um dos centros financeiros da Ásia. A transição, capitaneada pelo premiê Lee Kuan Yew, se baseou em grandes programas para estimular a economia, como em geração de empregos.
Por outro lado, Lee determinou controle rígido da população, cerceamento da oposição e um forte combate à corrupção, feito ao longo de décadas. Veja abaixo mais detalhes da história do país.OS MILITARES GOVERNARAM SINGAPURA?
Não. O país se tornou independente em 1965, e desde então teve três premiês, todos civis e do mesmo partido, o PAP (Partido de Ação Popular).
Lee Kuan Yew, que governou de 1965 a 1990, se formou em direito, atuou como advogado e, em 1954, fundou o PAP. Na época, Singapura ainda estava sob domínio britânico.
Em 1959, o PAP foi o mais votado nas eleições. Naquele ano, Singapura se tornou um Estado livre, embora ainda ligado ao Reino Unido em algumas questões. Em 1962, o país decidiu, em referendo, se tornar parte da Malásia, mas o acerto não deu certo, e região se tornou independente em 1965.
Depois de Lee, assumiu Goh Chok Tong, economista de formação que governou de 1990 a 2004. O atual líder do país, Lee Hsien Loong, filho do primeiro premiê, serviu como militar por 13 anos e chegou ao cargo de general. No entanto, ele deixou as funções nas Forças Armadas ao entrar para a política, em 1984.
SE NÃO HÁ MUDANÇA DO PARTIDO NO PODER, SINGAPURA É UMA DITADURA?
É considerada uma democracia frágil, pois as eleições seguem sendo realizadas, mas a oposição sofre cerceamento. No último pleito, em 2020, o PAP teve 61% dos votos. No pleito anterior, em 2015, havia obtido 70% de preferência.
O país é uma república parlamentarista, na qual o partido mais votado nas eleições indica o primeiro-ministro, que comandará o governo.
"O governo continua a usar leis severas e amplas para processar [autores de] discursos críticos, ou rotulá-los de 'fake news' e ordenar que as redes sociais bloqueiem esse conteúdo", aponta relatório da ONG Human Rights Watch.
Uma das leis, aprovada em 2019, dá ao governo o poder de declarar que conteúdos online são falsos e exigir uma correção, de forma unilateral. Caso o autor ou a plataforma não atendam à ordem, podem ser punidos com multa e até um ano de prisão.
QUE OUTROS DIREITOS SÃO CERCEADOS?
Há pena de morte para crimes como homicídio e tráfico de drogas. A homossexualidade pode levar à prisão. E as chibatadas são usadas como pena para dezenas de delitos.
COMO FOI FEITO O COMBATE A CORRUPÇÃO LÁ?
Por meio de regras rígidas de conduta, fiscalização efetiva e punição exemplar. O país tem uma agência de combate à corrupção, chamada CPIB, criada nos anos 1950. Ela concentra todas as investigações sobre o tema no país e tem poderes para fazer prisões, operações de busca, intimar testemunhas e analisar dados bancários de investigados.
Lee, já nos anos 1960, deixou claro que considerava o combate à corrupção como item fundamental para tirar o país da pobreza. Ao longo das décadas, houve diversas punições públicas, para dar exemplo. E, de outro lado, o governo deu aumento ao salário de funcionários públicos, para que eles tivessem menos razões para aceitar propinas. Houve críticas, no entanto, de que os pagamentos estariam altos demais.
DEU RESULTADO?
Em 2020, o país foi avaliado como o terceiro país com menor percepção da corrupção no mundo pela Transparência Internacional, entre 180 nações avaliadas. O Brasil ficou na posição 94.
Apesar disso, casos de corrupção seguem acontecendo. Nos últimos anos, houve processos envolvendo relações indevidas entre empresas e funcionários públicos.