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CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - "Nunca achei que ia lutar uma guerra. Quem vai pra guerra, vai com medo de não voltar mais." Foi com essas palavras que a médica obstetra Luiza Alves, 34, descreveu a sensação de medo que tem sentido nos últimos dias atuando na linha de frente da Covid-19 no Hospital Universitário de Canoas, região metropolitana de Porto Alegre (RS).
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O relato compartilhado no último sábado (27) nas redes sociais veio acompanhado de um apelo diante do aumento expressivo da carga de trabalho nos plantões obstétricos no hospital: "acreditem, se cuidem, se protejam, está insustentável".
Luiza se recorda que, em todo o ano passado, atendeu apenas um caso grave de Covid-19 entre grávidas na unidade. Só nas últimas duas semanas, a média de atendimento saltou para dez pacientes por dia, com suspeita ou confirmação de contaminação pelo novo coronavírus.
Atualmente, o hospital está com quatro gestantes internadas, todas precisando de oxigênio e uma delas na UTI. Segundo a médica, a instituição tem realizado em média dois partos diários de pacientes com a doença. "Antes, isso era muito raro", contou à reportagem.
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Além das chances reais de colapso, a preocupação da médica também está nas pacientes que não estão contaminadas, mas que procuram atendimento no hospital, referência para 17 municípios da região. "Fica tudo mais difícil em função da logística porque é preciso fazer um isolamento, cada vez mais complicado com a alta na demanda."
Luiza tem observado ainda um agravamento rápido dos casos de Covid-19 entre as gestantes. "Uma paciente chegou na emergência no plantão da quarta-feira da semana passada, com febre, fadiga, tosse e saturação de 89% [o normal é entre 95% e 100%], aí já colocamos no oxigênio, internamos e, em dois ou três dias, ela já estava na UTI", relatou.
O perfil das internações também mudou em relação ao primeiros meses da pandemia, segundo a médica. Mulheres jovens, sem comorbidades e com gestações em diferentes graus de evolução são cada vez mais comuns nas salas de atendimento.
Se antes a maior parte das pacientes com Covid-19 que chegavam ao hospital já apresentava quadros de pré-eclâmpsia, como hipertensão e diabetes gestacional, agora, elas são internadas com a doença e, depois, desenvolvem outros problemas.
"Ainda estamos tentando entender o que está acontecendo", afirmou a médica. Para ela, as novas variantes do coronavírus que circulam pelo país podem ser uma das causas da mudança.
Além do aumento na carga de trabalho, outro receio da médica é sobre as altas chances de contaminação por Covid-19 pelas equipes. Luiza contou que, mesmo já tendo recebido duas doses da vacina, um dos colegas dela contraiu a doença nos últimos dias.
"A gente fica com medo porque se expõe muito, principalmente em cesárias, um procedimento cirúrgico com muitos fluídos, é uma carga viral muito alta. Mesmos vacinados e acreditando que a vacina possa nos proteger um pouco mais, não sabemos até que ponto ela pode atingir outras variantes do vírus", explicou.
Para tentar se resguardar, Luiza tem utilizado o que chama de "paramento de guerra" para conduzir os procedimentos: sacos de lixo amarrados nos pés, avental, quatro toucas, três luvas, máscara e face shield. "Mesmo com tudo isso, na hora de tirar a paramentação com o maior cuidado, podemos nos contaminar", disse.
Nesta quinta-feira (4), o painel de monitoramento de leitos do governo do Rio Grande do Sul aponta que, pelo terceiro dia seguido, há mais internados do que vagas no estado. Isso porque muitos hospitais têm aberto espaços improvisados para atender os doentes. Em Canoas, sobram apenas três dos 145 leitos ativos de UTIs.
O estado registrou nesta quarta-feira (3) 180 novas mortes pela Covid-19, o que representa 120% de aumento em relação há duas semanas -é o sexto dia consecutivos de alta.