© PF faz ação contra suposta fraude em compra de respiradores em Japeri
CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - Completando quase um mês com taxa de ocupação de UTIs acima dos 90%, o Paraná tem sofrido também com a alta demanda por oxigênio, respiradores, e insumos para atender pacientes com a Covid-19. Já há relatos de falta de equipamentos e remédios em hospitais e postos de atendimento e de pacientes morrendo por falta de respiração artificial adequada.
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Um dos casos ocorreu na semana passada no Pronto-Atendimento (UPA) de Fazenda Rio Grande, na região metropolitana de Curitiba. Todos os seis respiradores -dois cedidos pela maternidade da cidade- estão ocupados e três pacientes aguardam vagas pelo equipamento.
Uma enfermeira que trabalha no local, que preferiu não se identificar, contou que, ao acionar o sexto ventilador, a rede não suportou a vazão, fazendo com que um doente, de 36 anos, ficasse com menos oxigênio do que o necessário. "Eu tinha testado o equipamento antes, não tinha como prever. Ele morreu segurando a minha mão", disse, chorando.
Segundo a enfermeira, antes do atual pico da pandemia, os cilindros de ar tinham que ser trocados quatro vezes por dia. Agora, são necessárias 16 reposições em 24 horas. "A UPA tem dez anos, então a rede montada não consegue suportar o volume de oxigênio utilizado".
A falta de vagas é outro problema. De acordo com a profissional, apesar de o corredor da UPA estar lotado, somente pacientes em estado muito grave têm conseguido leitos em hospitais com maior estrutura. Foi o caso de uma criança de nove anos, sem comorbidades, atendida por ela no final de semana.
"Tem que esperar um paciente de UTI morrer para mandar um [doente] nosso, o que me deixa mais frustrada. Esperam o doente estar praticamente morto para transferir. Essa criança conseguiu uma vaga, mas sinceramente não sei se deu tempo", contou.
A prefeitura de Fazenda Rio Grande informou que a empresa que fornece os cilindros de oxigênio está tendo dificuldades para entregar o produto diante da alta procura, mas que está contratando mais equipamentos e espera resolver a situação até a próxima semana.
Outras prefeituras do estado estão correndo contra o tempo para atender a demanda crescente. Em Maringá, na região norte, apenas um hospital e uma UPA consumiram em fevereiro 120 mil m³ de oxigênio, podendo chegar a 150 mil m³ até o final de março. O número é seis vezes maior do que a média registrada antes da pandemia.
Nesse ritmo, a prefeitura afirmou que tem oxigênio suficiente para dois meses, mas que já negocia com indústrias para montar uma usina para atender as duas instituições e o SAMU. Um novo tanque de oxigênio também deve ser instalado nas unidades de saúde da cidade.
Na semana passada, cervejarias da região sudoeste do estado chegaram a paralisar as operações para emprestar cilindros para a rede municipal de Clevelândia. O hospital da cidade tinha 14 equipamentos e recebeu outros 46 das empresas, chegando a 60 unidades, o suficiente para montar uma reserva de emergência, segundo a instituição.
Nesta segunda-feira (15), 1.228 pessoas aguardavam na fila por vagas em leitos no Paraná - 687 para enfermarias e 541 para UTIs. Há 5.270 pessoas internadas com suspeita ou confirmação de contaminação pelo novo coronavírus no estado, incluindo na rede privada. A taxa de ocupação de UTIs no sistema público está em 97%.
Além de oxigênio e leitos, o centro de medicamentos do Paraná (Cemepar), que monitora os estoques de 63 hospitais, emitiu um alerta diante da iminente falta de remédios. Nas atuais condições, segundo o órgão, os relaxantes usados para auxiliar na ventilação mecânica de doentes devem durar mais três dias, e o estoque de sedativos e analgésicos, mais oito dias.
"Nas UTIs que coordeno não passamos por essa situação [de falta de medicamentos], mas já estamos nos preparando para tal, com racionalização do uso", contou o médico Marcelo Oliveira Santos, coordenador de três UTIs em Curitiba.
Para resolver a situação, o governo reforçou pedido por mais medicamentos ao Ministério da Saúde e estabeleceu protocolos de compra emergencial, inclusive com dispensa de licitação.
O presidente da Femipa (Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Paraná) e do Sindipar (Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná), Flaviano Feu Ventorim, afirmou que diversas instituições já enfrentam "situação de calamidade". Ele também pediu ao ministério auxílio para aquisição de insumos.
"Nos questionam sobre a possibilidade de abrir mais leitos, mas, mesmo aumentando a rede, sempre vai faltar alguma coisa, oxigênio ou medicamento. Só vamos dar conta com o apoio da sociedade, seja de boa vontade ou com a imposição de medidas mais restritivas", explicou.
Depois que a prefeitura de Curitiba decretou lockdown por nove dias, a partir da última sexta-feira (12), outras cidades da região metropolitana e do interior do Paraná seguiram a mesma medida. Porém, o governo do estado manteve regras mais leves, como toque de recolher entre 20h e 5h.
Durante o final de semana e nesta segunda-feira, foram registrados protestos pelo estado contra as restrições em comércio e serviços. No sábado (13), houve uma carreata em Curitiba.
Após a manifestação, no domingo (14), um médico que atua no maior hospital público do Paraná, na capital, registrou em vídeo a fila de ambulâncias em frente à instituição e escreveu nas redes sociais.
"Aconteceram duas carreatas em Curitiba. Uma feita por um grupo pedindo o fim do lockdown e para o qual não consigo pensar num adjetivo publicável e a outra foi esta fila de ambulâncias esperando vaga na unidade respiratória do Hospital das Clínicas".