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SANTOS, SP (FOLHAPRESS) - Com sol forte e temperatura na casa dos de 29º C, o primeiro dia de lockdown nesta segunda-feira (23) em Santos (72 km de São Paulo) foi com praias desertas, comércios não essenciais fechados e os que podem realizar vendas, como padarias e mercados, controlavam o acesso de clientes. Em contrapartida, a ciclovia na orla da praia mantinha um fluxo contínuo de ciclistas.
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As medidas mais restritivas foram anunciadas pela Prefeitura de Santos, gestão Rogério Santos (PSDB), na semana passada com o objetivo de frear as infecções e mortes provocadas pela pandemia da Covid-19. As outras oito cidades da Baixada Santista também aderiram ao lockdown, e valem até 4 de abril.
Nas ruas e no calçadão, algumas pessoas desrespeitaram as restrições ao realizar atividade física nas ao ar livre após as 8h. Outras caminhavam sem máscara de proteção pelo calçadão, mesmo com o local bloqueado com faixas, para inibir a circulação de pedestres.
Com as novas restrições, somente farmácias e hospitais, incluindo veterinários, podem funcionar nas cidades litorâneas, que decretaram regras para o funcionamento de comércios essenciais, como padarias e supermercados, e também para a circulação de pessoas nas ruas.
O ajudante operacional João Paulo Haddad, 28 anos, aguardava um ônibus intermunicipal para retornar à Praia Grande, por volta das 9h10, na avenida Bernardino de Campos, perto da Vila Belmiro. Neste horário, ônibus municipais estão proibidos de circular em Santos.
"Vim fazer um exame, aquele do cotonete [RT-PCR], para o coronavírus. Quando o resultado sair, em cinco dias, vou ficar sabendo se posso começar no emprego novo", afirmou, se referindo a uma vaga que conquistou em uma empresa de Cubatão. Ele afirmou que os ônibus estavam mais vazios nesta segunda.
Haddad já foi infectado pela Covid-19, em setembro, e acredita ter contraído o vírus por meio do irmão, que também testou positivo para o novo coronavírus após permanecer uma semana trabalhando em um navio. "Tirando que não fiquei sem falta de ar, senti todos os outros sintomas como febre e moleza. Chega a ser uma ironia, pois sou um fumante inveterado", afirmou.
A entrevista com Haddad foi interrompida, logo em seguida, por dois homens sem máscara de proteção, que ameaçaram a reportagem. "Melhor vocês [repórter e fotógrafo] saírem logo daqui. Se não fizerem isso, vou partir para a ignorância", ameaçou o mais exaltado da dupla, que caminhou até uma residência e lá permaneceu.
Na avenida Ana Costa, dez pessoas em uma fila aguardavam para entrar em um supermercado, por volta das 9h30. Segundo o decreto municipal, supermercados, açougues, padarias e distribuidoras de gás podem ter atendimento presencial, em Santos, de segunda a sexta-feira, das 6h às 20h, mas com limite de clientes.
A aposentada Dirce Carvalho, 67 anos, aguardava para entrar no mercado e fazer sua compra semanal de mantimentos. Ela afirmou ter percebido um fluxo "bem menor" de pessoas caminhando pelas ruas nesta segunda, mas também pontuou que o fluxo de carros observado pela manhã "é praticamente o mesmo", em relação à semana passada.
"Concordo com esse lockdown, pois ele está obrigando as pessoas a ficarem em casa. Precisa mesmo esvaziar as ruas para diminuir o número de mortes do pessoal que pega a Covid-19", disse a idosa. Ela afirmou que pegou Covid-19, junto com o marido de 77 anos, em setembro. "Perdi o paladar e senti dores pelo corpo, mas consegui, assim como meu marido, me recuperar em casa mesmo", acrescentou.
Pela orla da praia do Gonzaga, centenas de ciclistas trafegavam pela ciclovia, por volta das 9h50, da mesma forma que veículos pela avenida Presidente Wilson, contrastando com a faixa de areia deserta e isolada com telas.
Quando a reportagem caminhava pela areia para registrar imagens, dois guardas-civis municipais, cada qual em quadriciclo, realizou uma abordagem. Ao saberem que falavam com uma equipe de jornalistas, liberaram o acesso. Eles disseram que a população está respeitando a proibição de permanecer na faixa de areia. "As abordagens são muito raras", disse um dos guardas.
Ainda na avenida Presidente Wilson, o Agora flagrou dois ônibus municipais, com cinco passageiros cada um deles, por volta das 9h50. Este tipo de veículo só pode trafegar pela cidade, durante o lockdown, 5h30 às 8h30 e das 15h30 às 19h30, exclusivamente para trabalhadores de serviços essenciais.
Quem descumprir as regras do lockdown estará sujeito a multas que variam entre R$ 300 e R$ 10 mil. A fiscalização ficará por conta da Polícia Militar, Guarda Municipal, Procon e Sefin (Secretaria Municipal de Finanças).
A reportagem procurou a Prefeitura de Santos sobre as irregularidades mencionadas, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.