Presidente de Israel indica Netanyahu para tentar formar governo

Rivlin, porém, deixou bem clara sua relutância ao indicar Bibi, como é conhecido o atual premiê

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Mundo BINYAMIN-NETANYAHU 06/04/21 POR Folhapress

BAURU, SP (FOLHAPRESS) - O presidente de Israel, Reuven Rivlin, formalizou nesta terça-feira (6) a indicação do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu para a tentativa de formar um novo governo após a quarta eleição inconclusiva em um período de dois anos.

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Rivlin, porém, deixou bem clara sua relutância ao indicar Bibi, como é conhecido o atual premiê. O presidente disse ter tido dificuldades "do ponto de vista moral e ético" ao escolher Netanyahu, já que ele enfrenta acusações de corrupção, suborno e fraude na Justiça.

Segundo Rivlin, a "intensa divergência política e pública" em torno da figura de Bibi não influenciou sua decisão, embora, se pudesse, ele preferiria deixar a escolha para o Knesset, o Parlamento israelense.

"Mas de acordo com a lei e a decisão dos tribunais, um primeiro-ministro pode continuar em sua função mesmo quando estiver enfrentando acusações", disse Rivlin."O presidente do Estado de Israel não é um substituto do Legislativo ou do Judiciário".

Do ponto de vista prático, Rivlin também expressou ceticismo em relação à própria decisão. Segundo ele, as conversas que teve com os representantes dos 13 partidos com representação no Parlamento o "levaram a crer que nenhum candidato tem uma chance realista de formar um governo que tenha a confiança do Knesset".

Nesse sentido, a indicação de Netanyahu teria sido meramente protocolar, visto que ele ainda é o candidato com mais chances de conquistar a maioria. Seu partido, o conservador Likud, conquistou 30 das 120 cadeiras parlamentares, enquanto outras três legendas que o apoiam (Shas, Judaísmo da Torá e Sionismo Religioso) somaram mais 22.

"O presidente cumpriu seu dever e não teve escolha, mas conceder o mandado a Netanyahu seria uma mancha vergonhosa para Israel", disse o centrista Yair Lapid, que lidera o bloco de adversários de Bibi, após a decisão desta terça.

Lapid foi recomendado para o cargo de primeiro-ministro por 45 parlamentares, dos partidos Há Futuro, Azul e Branco, Israel Nossa Casa, Trabalhista e Meretz. Naftali Bennett, antigo aliado do atual premiê e hoje seu desafeto, recebeu os sete votos de seu partido, o ultradireitista Yemina.

"Iremos, com boa vontade, a qualquer negociação de coalizão para estabelecer um governo estável e de direita", disse Bennett à bancada do Yemina, sem deixar claro se pretende assumir um compromisso com Netanyahu.

Lapid chegou a propor uma aliança com Bennett nesta segunda-feira, nos moldes da que foi feita –e acabou fracassando por divergências internas– entre Netanyahu e Benny Gantz. Segundo o acordo, o líder do Yemina governaria durante a primeira metade do mandato, e depois Lapid assumiria o cargo. Nos bastidores, a percepção é de que Bennett estaria esperando por circunstâncias melhores para aceitar o arranjo.

Outras três legendas não fizeram nenhuma recomendação para a escolha de um novo premiê. Somados, os 16 votos do Nova Esperança, Lista Conjunta e Lista Árabe Unida poderiam definir o futuro político de Israel.

Gideon Sa'ar, que abandonou o Likud em dezembro do ano passado para criar o Nova Esperança, já descartou publicamente qualquer possibilidade de colaboração com Netanyahu. Para Sa'ar, o atual premiê prioriza sua própria imagem em detrimento do Estado de Israel.

O líder da Lista Conjunta, Ayman Odeh, também afirmou que sua coligação –formada por palestinos e comunistas– seguirá como oposição a Netanyahu, em parte devido às acusações de corrupção contra o atual premiê, mas principalmente por causa do controle de Israel sobre os palestinos e pelo que o partido vê como tentativas de Netanyahu de minar a democracia no país.

Ainda segundo Odeh, a Lista Conjunta está disposta a endossar a candidatura de Lapid, desde que ele não faça parcerias com partidos de direita –algo que, na prática, acabaria com as perspectivas de vitória do centrista.

Já a Lista Árabe Unida decidiu ficar em cima do muro. Segundo seu líder, Mansour Abbas, a legenda não está "nem no campo da esquerda nem da direita".

"Nós nos colocamos em uma posição política única para agir para resolver os problemas da sociedade árabe", disse Abbas durante uma entrevista coletiva nesta segunda. Ao presidente Rivlin, o líder árabe disse que tentaria alcançar quem quer que fosse o indicado para governar o país.

Abbas é uma exceção à postura política de outras lideranças árabes e, anteriormente, deu sinais de que está disposto a trabalhar com o Likud ou outros partidos de direita, desde que essa aliança se traduza em ganhos sociais para a parcela que representa. Historicamente, os árabes têm pouca ou nenhuma liderança política na administração de Israel, embora correspondam a mais de 20% da população.

Lideranças mais conservadoras, tanto entre os apoiadores de Netanyahu quanto entre os de Lapid, opõem-se à adesão da Lista Árabe Unida, a quem apontam como antissionista e ligada a facções terroristas.

Parte dessas acusações, entretanto, está pautada em preconceitos históricos contra os árabes, como os expressos pelo ultradireitista Bezalel Smotrich, líder do Sionismo Religioso. Abertamente racista e homofóbico, Smotrich defende políticas de segregação entre árabes e judeus e deu sinais de que poderia deixar a coalizão em torno de Netanyahu caso ele aceitasse o apoio dos árabes.

O cenário, portanto, é de um profundo impasse político. Para garantir a formação de um novo governo sob sua gestão, Netanyahu terá 28 dias –prorrogáveis por mais 14, caso Rivlin considere necessário– para tentar movimentar as peças a seu favor e totalizar 61 assentos, maioria simples no Knesset.

Se isso não acontecer, o presidente terá duas opções: indicar um novo nome para tentar formar maioria (durante outros 42 dias) ou dar um prazo de três semanas para que oParlamento se articule para criar um consenso.

Conforme seu discurso nesta terça, Rivlin está mais inclinado à segunda opção. Se ela falhar, o Parlamento será automaticamente dissolvido e os israelenses terão que ir novamente às urnas –o que seria a quinta eleição legislativa em pouco mais de dois anos.

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