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O Rio Grande do Sul é considerado um dos estados mais bolsonaristas do Brasil. Em 2018, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) venceu em 407 das 497 cidades do estado no 2º turno das eleições, obtendo 63,24% dos votos válidos.
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O apoio ao presidente segue em alta, mesmo com a piora da pandemia. Recentemente, o estado passou a amargar posição de destaque no ranking de crescimento da Covid-19 no país. Na quinta-feira (8), era o oitavo em número acumulado de óbitos por 100 mil habitantes.
O empresariado local defende que Bolsonaro é mais uma vítima do coronavírus, e que ele faz o que pode em favor do Rio Grande do Sul e do país.
"O governo federal foi o único que teve ação positiva e pró-ativa em relação aos empresários e a população. Fez o Pronampe, por exemplo", diz Paulo Afonso Pereira, empresário e presidente da Associação Comercial de Porto Alegre.
O mencionado programa liberou crédito a juros baixos para micro e pequenos negócios em 2020 e ainda não foi reeditado na atual fase, mais crítica, da pandemia.
Segundo Pereira, foram os governos estaduais e municipais que não tomaram nenhuma medida benéfica –apesar de o governo gaúcho, por exemplo, também ter criado linhas de crédito para pequenas empresas em 2020 e 2021.
A opinião de Ferreira é compartilhada por muitos dos empresários que conversaram com a reportagem. A maioria também discorda das críticas ao presidente que são comuns em outros lugares do Brasil.
Não veem Bolsonaro como um negacionista em relação aos efeitos da Covid-19 nem consideram inadequada a política de compra de vacinas do governo federal. Para eles, os motes da campanha eleitoral, anteriores à pandemia, continuam valendo."Na questão da vacina, não adianta ficar falando 'tem que ter'. Nem todos os laboratórios têm produto disponível. Até o Canadá se queixou disso. Muita gente fica dando palpite no que não sabe", diz Gilberto Petry, presidente da Fiergs (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul).
Petry também diz que Bolsonaro sofre com a polarização política da pandemia e afirma que nada dito contra o presidente até agora abala a confiança que depositam nele.
"Os empresários sempre vão ser a favor de um presidente que entrou para combater a corrupção e acabar com aquilo que havia antes", diz.
O que "havia antes", e não querem de volta, é o PT. O antipetismo é arraigado no mundo empresarial gaúcho e ajuda a fortalecer a posição pró-Bolsonaro.
"Os empresários defendem o que é melhor para os negócios. Apoiaram Bolsonaro porque achavam que ele era 'menos ruim', e para evitar o retorno do PT", afirma Marcelo Lauxen Kehl, empresário e presidente na Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom e Estância Velha.
E, segundo ele, o apoio tem sido retribuído pelo presidente, em especial na pandemia: "Em termos econômicos, o governo federal agiu muito bem no ano passado, com medidas como auxílio emergencial, mais a redução e a suspensão de jornada".A polarização até incomoda alguns empresários. José Roberto Pires Weber, pecuarista e presidente do Sindicato Rural de Dom Pedrito, é um de seus críticos.
Weber, que já foi presidente da Associação Brasileira de Angus, afirma que a briga entre a direita e a esquerda deixa todos impotentes.
"Prevalece aquele discurso: se o Bolsonaro é a favor, eu sou contra, e vice-versa. Mas não é assim que a vida funciona, não é nessa dicotomia absurda", afirma. "Ficamos preocupados com a briga e não cuidamos do Brasil."
Mas a queixa para por aí. O agronegócio representa 48,5% do PIB (Produto Interno Bruto) do Rio Grande do Sul, e produtores rurais ficam do lado em que estiver o bolsonarismo.
"O agro está ao lado do Bolsonaro. A Tereza Cristina tem sido uma excelente ministra [da Agricultura], e tudo isso faz com que o agro se fortaleça no lado que escolheu. O agro não olha com bons olhos para o STF [Supremo Tribunal Federal] e o Congresso. Não é tanto pelas decisões, mas pela falta de convicção e de manutenção das decisões", afirma Weber.
Outro argumento a favor de Bolsonaro no estado toma como base a decisão do STF que reconheceu a competência dos estados e municípios para adotarem medidas locais no enfrentamento à pandemia.
Essa decisão é vista como uma amarra para as iniciativas do presidente. Empresários gaúchos não acreditam que a Suprema Corte tenha estabelecido essa determinação após estados e municípios se preocuparem com a demora do governo federal em adotar medidas contra a transmissão do vírus.
"Acho que está um pouco limitada a condução no âmbito federal, especialmente em razão de dificuldades no aspecto jurídico. A decisão do STF afeta aspectos de gerenciamento das ações de governo. É uma lástima", diz Claudio Goldsztein, presidente do Instituto Cultural Floresta.
A entidade, afirma Goldsztein, foi criada por empresários para contribuir com o desenvolvimento do Rio Grande do Sul, sobretudo nas áreas de segurança e educação.
A Serra Gaúcha é um dos pontos onde o bolsonarismo já tem raízes profundas. Na região, onde estão polos industriais e cidades turísticas, Bolsonaro foi eleito com mais de 80% dos votos em algumas cidades, como Gramado.
Tratamento precoce com kit-Covid, sem eficácia comprovada, e oposição a medidas de distanciamento, bandeiras do presidente, também são defendidas nessa região.
O último mês na serra foi especialmente tenso e marcado por manifestações de empresários do setor de turismo contra restrições ao comércio.
De lá partiu até um pedido de impeachment contra o governador Eduardo Leite (PSDB-RS). O afastamento é apoiado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que se manifestou contra as medidas de combate ao contágio de coronavírus adotadas pelo tucano.
Em um protesto no fim de março, empresários da região chegaram a erguer cartazes com "o turismo não é o vilão". Comerciantes saíram a pé e de carro para se reunirem na divisa entre Gramado e Canela. Uma faixa pedindo intervenção militar foi pendurada em um dos pórticos da turística Gramado.
O empresariado reivindicava a flexibilização das medidas sanitárias estaduais. Parques turísticos e hotéis tiveram a circulação restrita por semanas seguidas e restaurantes não puderam abrir aos fins de semana. Os que servem fondue, e só costumam abrir à noite, pararam de operar.
No fim de março, cerca de 40 representantes da gastronomia na região fizeram uma reunião para debater saídas da crise. Devido à concentração de pessoas, a Polícia Militar e os fiscais fizeram uma intervenção no local. Os ânimos se exaltaram e os empresários reagiram dizendo que, se a polícia prendesse alguém, teria de levar todo mundo.
Em vídeos do encontro que circularam nas redes sociais, os empresários marcaram posição. Voltaram-se contra o setor público, afirmando que servidores têm salário fixo mensal, mas que o setor privado só ganha se trabalha. Reforçaram que restaurantes são locais seguros com a adoção de protocolos. Disseram ainda que a Constituição assegura liberdade para trabalhar.
"Quem está com problema é a iniciativa privada, é quem trabalha, é quem gera emprego, é o empregado da iniciativa privada. A área pública recebe dinheiro todo mês", afirmou o empresário Gilberto Tomasini, do setor de restaurantes, em um dos vídeos que circularam.
O advogado Victor Spier, que assinou o pedido de afastamento de Leite, diz que a solicitação teve apoio de mais de 1.100 empresários da Serra Gaúcha.
"Acredito que cerca de 90% da receita de Gramado e Canela venha do turismo", afirma Spier. "Os aluguéis são muito caros, o fechamento acarretou grande prejuízo, com muitos restaurantes encerrando as atividades porque não houve flexibilização das medidas decretadas pelo estado."
E o advogado dá mais uma razão para que o presidente tenha apoio. "Ao impedir a operação dos estabelecimentos e prejudicar as finanças dos empresários, o governador extrapolou", diz. "Aqui 99% são Bolsonaro porque ele quer que o comércio abra."