'Ataque a prédio foi necessário porque Hamas usa mídia como escudo', diz porta-voz de Israel

De Tel Aviv, Kaplan afirmou à Folha que o grupo islâmico instalou seu escritório de inteligência no edifício onde estava a imprensa internacional justamente para defender seus armamentos e suas capacidades militares

© Getty Images

Mundo ISRAEL-PALESTINA 16/05/21 POR Folhapress

O Hamas usa a imprensa e civis como escudos, e por isso foi necessário bombardear o prédio que abriga veículos de imprensa como a agência americana de notícias Associated Press e a TV qatariana Al Jazeera, disse o major Roni Kaplan, porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês).

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De Tel Aviv, Kaplan afirmou à Folha que o grupo islâmico instalou seu escritório de inteligência no edifício onde estava a imprensa internacional justamente para defender seus armamentos e suas capacidades militares. O porta-voz, no entanto, diz que em nenhum momento houve perigo para os jornalistas, que foram alertados antes do ataque e, por isso, deixaram o edifício antes de ele ser derrubado por Israel.

Após interromper a entrevista devido a sirenes de alerta para foguetes, o que o obrigou a se abrigar em um bunker, Kaplan negou que haja uso desproporcional da força por parte de seu país. Em seis dias de confrontos, foram registradas 10 mortes em Israel e 148 em Gaza. Entre os mortos estão dez membros de uma mesma família de palestinos –8 crianças e 2 mulheres– que viviam num campo de refugiados.

"Estávamos tentando atacar um dos principais líderes do Hamas, que, segundo a nossa inteligência, estava nesta família. Não sabemos se conseguimos atingi-lo. Em relação às vítimas civis, nós choramos pelas vítimas, não temos nenhuma intenção de matar uma criança."Folha - O Exército de Israel bombardeou e destruiu o prédio onde ficavam os escritórios de vários veículos de imprensa na cidade de Gaza, entre eles o da Associated Press e o da Al Jazeera. Por que o edifício foi atacado e como garantir a segurança dos jornalistas que cobrem o conflito?

Roni Kaplan - No edifício funcionava um comando conjunto da Jihad Islâmica e do Hamas. Essa é exatamente a intenção desse tipo de organização: ficar no meio da imprensa. Mas antes de atingirmos o edifício, onde o Hamas organizava informações usadas para atacar Israel e tinha maquinário para fabricar armas, ligamos para a Associated Press e para Al Jazeera e pedimos que evacuassem o prédio. Depois, ainda demos salvas de tiros, para que todos se retirassem. Desde as 18h de segunda-feira [10], o Hamas lançou 2.400 foguetes contra a população israelense. E quando o Hamas lança foguetes, ele não liga para avisar antes.

O Hamas lança os foguetes de dentro de centros civis, zonas residenciais, escolas, hospitais. Por isso dizemos que usam os civis como escudos humanos. Cada foguete lançado pelo Hamas tem o objetivo de assassinar israelenses. Se conseguissem atingir o objetivo, seria o horror. Ao menos 85 oficiais do Hamas foram mortos nos ataques recentes, além de dezenas da Jihad Islâmica. Entre 20 e 25 civis morreram em ataques do próprio Hamas, por foguetes que caíram na Faixa de Gaza, por problemas técnicos.

Folha - Há informações de que foram 148 mortos em Gaza e 10 em Israel?Roni Kaplan - Não sabemos exatamente quantos mortos, porque quem está divulgando esses números é o Ministério da Saúde do Hamas. O Hamas não segue nenhum tipo de orientação de direitos humanos, é um movimento reconhecido como terrorista por parte da comunidade internacional. Os alvos escolhidos por Israel passam por todas as instâncias do Exército, para que sejam alvos legais do ponto de vista do direito internacional.

Folha - O Hamas diz que, entre as vítimas em Gaza, há 41 crianças?

Roni Kaplan - Eu não posso confirmar nem negar o que diz o Hamas, não tenho esses números. A diferença é que Israel está atacando alvos militares, terroristas, e o Hamas ataca alvos civis. Israel está usando todos os seus sistemas, sirenes, o Domo de Ferro, os bunkers, para proteger sua população civil. O Hamas usa a população civil e a imprensa em Gaza para defender seus armamentos e suas capacidades militares. Estamos vendo isso há seis dias.

Folha - Não há uso desproporcional de força por parte de Israel?

Roni Kaplan - Levando em conta a intenção no uso da força, é desproporcional por parte do Hamas. Se o Hamas conseguisse fazer o que tenta, estaria assassinando milhares de pessoas. A diferença está nos resultados, que tem a ver com os investimentos de Israel em defesa e sua capacidade de contra-ataques militares. O Hamas ataca civis, Israel não tem intenção de matar civis, de jeito nenhum. Operamos com o máximo de precauções para impedir danos a civis.

Folha - Os ataques israelenses mataram dez membros de uma família de palestinos em um campo de refugiados, oito crianças e duas mulheres. Estávamos tentando atacar um dos principais líderes do Hamas, que, segundo a nossa inteligência, estava nesta família.

Roni Kaplan - Não sabemos se conseguimos atingi-lo. Em relação às vítimas civis, nós choramos pelas vítimas, não temos nenhuma intenção de matar uma criança. Outro dia atacamos terroristas dentro de uma escola. Não tinha mais ninguém na escola. Mas minha pergunta é: o que os terroristas faziam dentro da escola? Nós estamos nos defendendo de terroristas.

Folha - O porta-voz Jonathan Conricus afirmou à imprensa internacional que tropas israelenses estavam entrando na Faixa de Gaza. A imprensa estrangeira noticiou, mas as tropas não estavam entrando no território. O porta-voz disse que foi um erro, mas a imprensa israelense afirma que a mídia estrangeira foi enganada e usada pelo IDF para que o Hamas pensasse que havia uma invasão por terra?

Roni Kaplan - Eu estava no mesmo lugar que ele nesse momento. O porta-voz Conricus é meu superior, alguén que conheço há ao menos 20 anos. Naquele momento, Jonathan e eu estávamos olhando para o computador, vendo que a divisão 162, que tem duas brigadas de infantaria, estava se aproximando da fronteira. Não se enxergava bem, e pensamos que já estava dentro. Ele disse isso aos jornalistas. Ele errou. E foi divulgada uma carta de desculpas.

Folha - Por que levou mais de duas horas para fazerem a correção?

Roni Kaplan - Levou mais de duas horas para corrigirem? Na verdade, não está claro para mim por que levou tanto tempo para corrigir. Eu estava em entrevistas com o México e outros países 15 minutos depois e já dizendo que Israel não havia entrado em Gaza. Isso eram 3h. Não sei por que demoraram horas para corrigir.

Folha - De acordo com artigo do New York Times, o porta-voz Conricus admitiu que o Exército tinha uma estratégia para enganar o Hamas e fazer com eles ficassem mais expostos. Enganar a imprensa internacional era parte da estratégia?

Roni Kaplan - De tudo o que sei e posso compartilhar com você, foi um erro de Jonathan e não foi uma forma de usar a imprensa como mecanismo de lutar contra o Hamas, de maneira nenhuma. Dizer a verdade à imprensa é tudo o que temos. Há uma possibilidade de que Israel entre na Faixa de Gaza. O nosso entendimento é que não se trata de uma decisão iminente e não é uma decisão militar. É uma decisão política. Os políticos decidem, nós operacionalizamos.

Folha - Quando as operações militares vão parar?

Roni Kaplan - Queremos tranquilidade para a nossa população. Entendemos que o único jeito de conseguir isso, de chegar a uma estabilidade, é dissuadindo o Hamas, dissuadindo os terroristas. Fazendo eles entenderem que, da próxima vez que cogitarem lançar mais seis foguetes no meio do dia mais importante do ano, pensem 15 vezes.

Folha - Na quarta (12), o presidente Jair Bolsonaro expressou apoio a Israel, dizendo que "é absolutamente injustificável o lançamento indiscriminado de foguetes contra o território israelense". Como recebem esse apoio de Bolsonaro?

Roni Kaplan - Para nós, como Exército, não muda nada, essa é uma pergunta mais para o embaixador. Claro que é bom receber apoio, não por ser o Bolsonaro. Estamos aqui tentando maximizar os danos contra os terroristas, minimizar os danos contra os civis na Faixa de Gaza e proteger a população israelense. E o que diz o presidente do Brasil, da Austrália, de onde seja, é assunto para os diplomatas.

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