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Base do projeto eleitoral de João Doria (PSDB) para a Presidência, o tripé PSDB-DEM-MDB sofreu abalos com o rompimento de ACM Neto, presidente do DEM, no dia 14, e a chegada do MDB à Prefeitura de São Paulo, após a morte de Bruno Covas (PSDB), no dia 16.
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Mesmo com as novas circunstâncias, após os primeiros dias de acomodação de Ricardo Nunes na cadeira de prefeito, aliados locais nesses partidos afirmam manter a fidelidade a Doria, o que possibilita a ele e ao seu vice, Rodrigo Garcia (PSDB), palanque e alianças no estado de São Paulo.
Doria patrocinou a migração de Garcia do DEM para o PSDB, no último dia 14, com a intenção de lançá-lo a sua sucessão no Palácio dos Bandeirantes. Caciques do DEM e do MDB de São Paulo afirmam que o compromisso de apoiar Garcia segue firme.
Mas, quando o assunto é o apoio nacional dessas siglas a uma candidatura presidencial de Doria, a conversa muda.O ex-prefeito de Salvador ACM Neto já declarou que não vai endossar o tucano, em retaliação por considerar que a filiação de Garcia foi obra da pressão do governador.
Pelo Twitter, ACM Neto afirmou que a "inabilidade política" de Doria "tem lhe rendido altíssima rejeição e afastado os seus aliados". "A postura desagregadora do governador de São Paulo amplia o seu isolamento político, e reforça a percepção do seu despreparo para liderar um projeto nacional", completou.
Já o presidente do MDB, deputado federal Baleia Rossi (SP), é um dos principais aliados de Doria, mas comanda um partido fragmentado e que não costuma ter uniformidade em diferentes regiões.
Internamente, DEM e MDB avaliam liberar cada diretório estadual a apoiar o candidato que quiserem, o que obrigaria Doria a dividir com outros presidenciáveis os apoios nesses partidos.
Num cenário de indefinição a mais de um ano da eleição, os partidos também têm entre seus membros defensores da terceira via, entusiastas de candidaturas próprias e parte da bancada alinhada ao governo Jair Bolsonaro –no MDB, líderes do Nordeste são próximos de Lula (PT).
Mas, entre os auxiliares de Doria, a expectativa é que MDB e DEM integrem formalmente a coligação do tucano, o que lhe daria uma série de palanques em diversos estados e ampliaria seu tempo de TV. Isso, é claro, se o governador for mesmo candidato, o que depende das prévias previstas pelo PSDB.
Em São Paulo, Nunes tem dado sinais de que irá honrar as alianças partidárias acertadas com Covas e que influenciaram sua escolha como vice no ano passado -o que significa jogar no time de Doria.
Baleia tem defendido que o partido se mantenha distante da polarização entre Lula e Bolsonaro e busque lançar ou apoiar um candidato da terceira via. Mesmo nesse campo, há competição por apoio entre Doria e outros nomes, como Sergio Moro (sem partido), Luciano Huck (sem partido), Luiz Henrique Mandetta (DEM), Danilo Gentilli (sem partido), João Amoêdo (Novo), além dos tucanos Eduardo Leite e Tasso Jereissati.
Lula, por sua vez, já iniciou a aproximação com o senador Renan Calheiros (MDB-AL) e José Sarney (MDB), com quem se encontrou neste mês.
Como mostrou a Folha, Nunes, com a morte de Covas, terá que acomodar pedidos e pressões de diferentes grupos que compõem a administração municipal e a base na Câmara –o MDB, o DEM, a ala ligada a Doria do PSDB e o núcleo duro de Covas, que por ora está mantido nas secretarias.
A adesão do MDB ao projeto de Doria e Garcia começou a ser costurada com a indicação, via Doria, de Nunes para a chapa de Covas, com a concordância de Baleia e de Milton Leite, presidente da Câmara e cacique do DEM em São Paulo.
Recentemente, Doria também abriu espaço para o partido em sua administração, com a indicação do deputado estadual Itamar Borges (MDB) para a Secretaria de Agricultura e Abastecimento, que tem influência no interior.
Por isso, membros do MDB e do PSDB em SP acreditam que o acordo já está pactuado mesmo com o novo tamanho do MDB no estado -que de 3 deputados estaduais, 2 federais e 3 vereadores agora passa a comandar a principal cidade do país. A leitura é que a condição atual de Nunes, em vez de ameaçar Doria e provocar nova barganha com o governador, favorece o tucano.Membros do MDB afirmam ainda que, de certa forma, Nunes retribui a Doria o apoio na eleição municipal, além de salientarem que o partido não tem condições e quadros para varrer o PSDB da administração municipal.
Outra razão para a boa convivência entre os partidos no estado é o atendimento, por parte do governo Doria, a prefeitos do MDB, o que favorece a estratégia da sigla de eleger mais deputados federais pelo interior e, assim, obter fatia maior do fundo eleitoral.
Tucanos lembram ainda do apoio de Doria a Baleia na eleição da presidência da Câmara, quando o emedebista perdeu para o candidato de Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL).
Aliados de Doria afirmam que Nunes tem dado demonstrações de fidelidade. A expectativa, no entanto, é que o prefeito, com o tempo, faça mudanças para abrigar nomes da sua confiança.
Na segunda-feira (17), Nunes falou em continuidade e se definiu politicamente na terceira via. "É uma postura de centro. Abominamos o radicalismo, tanto de esquerda, como de direta. É de centro, de diálogo, de convergência."
Questionado sobre quem irá apoiar nas eleições estadual e presidencial, desconversou. "Isso não está definido. O foco é cuidar da cidade. [...] Não estou preocupado com a eleição do ano que vem.""
Na tentativa de controlar essa variável, o PSDB já convidou Nunes a se filiar ao partido. A proposta estava na mesa desde antes da morte de Covas, mas a insistência agora é tida como delicada pelo possível desgaste com o MDB.Leite também ressalta que a morte de Covas não deve trazer impactos políticos por enquanto. "Não muda nada. A base que montamos é dos dois", afirmou ao Painel.
No DEM, são discutidas opções presidenciais que casem com o projeto de ACM Neto de concorrer ao Governo da Bahia, como uma candidatura de Mandetta. E há o entendimento de que, caso o PSDB lance outro nome que não Doria, há mais chances de aliança.
Enquanto isso, a ala governista do DEM, que ficou evidente na eleição para a presidência da Câmara, força o partido na direção de Bolsonaro.Já dirigentes do DEM em São Paulo afirmam de forma reservada que, mesmo com o rompimento de ACM Neto, se mantêm embarcados no projeto de Garcia e que, se isso inclui ter que apoiar a eleição nacional de Doria, também abraçarão essa causa.
Auxiliares do governador dizem acreditar ser possível reverter a briga e retomar a parceria histórica entre as siglas. A avaliação é que ACM se manifestou no calor do momento e que Doria não pode ser culpado pela filiação de Garcia, já que outras alas do tucanato também o convidaram.
No entanto, uma possível filiação do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) ao DEM para disputar o governo de São Paulo contra Garcia, hipótese discutida nos bastidores, acabaria com as chances de reaproximação com Doria.
Desde 2002, o DEM (antigo PFL) compõe a coligação do PSDB ao Governo de São Paulo. A aliança nacional entre os dois partidos vem desde 1994.