© Reuters
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um grupo formado por 11 pessoas fortemente armadas foi preso nesta quinta-feira (8) após invadir a embaixada de Taiwan no Haiti, informou o país asiático. A suspeita é que os detidos tenham participado do assassinato do presidente haitiano, Jovenel Moïse, morto em sua residência na quarta (7) em Porto Príncipe.
PUB
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores taiwanês, Joanne Ou, disse nesta sexta (9) que os seguranças da representação diplomática perceberam a presença do grupo no pátio do prédio e avisaram a cúpula da embaixada e a polícia haitiana.
"A pedido do governo haitiano e para ajudar na detenção dos suspeitos, a embaixada deu permissão à polícia haitiana para entrar no perímetro da embaixada", afirmou ela, que chamou os 11 detidos de mercenários.
A embaixada, que fica próxima do local onde Moïse foi assassinado, já tinha sido esvaziada na quarta por questões de segurança e, por isso, não havia ninguém no prédio no momento da invasão, afirmou Ou em entrevista coletiva.
A revelação do caso joga luz na relação entre Porto Príncipe e Taipé. O Haiti é um dos 15 países do mundo que reconhecem Taiwan como um país independente. Isso acontece porque a China se recusa a manter relações diplomáticas com quem reconhece a ilha -que, para Pequim, é uma província rebelde.
"Nesse momento difícil, o governo de Taiwan reitera seu apoio à capacidade do primeiro-ministro interino Claude Joseph em liderar o Haiti durante essa crise e a restaurar a ordem democrática. Taiwan fortemente essa ação violenta e barbára", afirmou Ou nesta sexta.
Com a morte do presidente, Joseph assumiu de fato o comando do país e declarou estado de sítio. Há dúvidas, porém, sobre a legitimidade de suas ações, já que o sucessor natural de Moïse seria o presidente da Suprema Corte, mas o cargo está vago desde que seu titular morreu de Covid-19 recentemente.
Para deixar a situação ainda mais delicada, um novo premiê, Ariel Henry, deveria ter assumido o cargo na quarta, mas a transferência de poder acabou sendo cancelada por causa do crime.
Assim, Joseph segue por enquanto no comando e tem afirmado que sua prioridade é encontrar os responsáveis pela morte do presidente.
Com a prisão das 11 pessoas na embaixada, o número de suspeitos presos por envolvimento no caso subiu para 17. O chefe da polícia do Haiti, Leon Charles, afirmou que até o momento, 28 suspeitos de assassinar o presidente foram identificados, sendo 26 colombianos e 2 haitianos-americanos. Ao menos quatro criminosos foram mortos na noite de quarta, durante um confronto com as forças de segurança.
Não foram informados detalhes sobre os 11 detidos na embaixada, ou quais seriam suas nacionalidades.
Os mandantes e as motivações do crime, porém, seguem um mistério.A hipótese dos assassinos serem estrangeiros foi levantada pelo próprio Joseph logo após o crime. Ele disse na quarta que os criminosos foram ouvidos falando em inglês e espanhol, o que indicaria que não são haitianos, já que os idiomas oficiais do país são o francês e o crioulo.
O ministro da Defesa da Colômbia, Diego Molano, afirmou que as informações iniciais sugerem que os 26 colombianos supostamente envolvidos no crime são militares aposentados.
Segundo a imprensa local, citando o juiz encarregado do caso, Moïse foi encontrado com ao menos 12 marcas de tiros. "O escritório e a sala foram saqueados. Nós o encontramos deitado de costas, [usando] calça azul, camisa branca manchada de sangue, boca aberta, olho esquerdo furado", disse o magistrado Carl Henry Destin ao jornal haitiano Le Nouvelliste.
Jomarlie, filha do casal, estava em casa durante o ataque, que ocorreu durante a madrugada, mas conseguiu se esconder num dos quartos. A primeira-dama, também baleada, foi transferida para receber tratamento em Miami e, segundo Joseph, está fora de perigo e em situação estável.
Em pronunciamento transmitido na TV nesta quinta, Charles disse que as forças de segurança do país estão empenhadas em uma operação para prender ou matar os responsáveis pelo ataque ao presidente e à primeira-dama, Martine. Segundo o chefe da polícia, a maior preocupação agora é achar os mentores da ação. Ele também pediu que a população ajude os policiais e evite causar tumultos.
Centenas de moradores se reuniram do lado de fora da delegacia em que os suspeitos estão detidos em Porto Príncipe. Aos gritos de "queimem-os", atearam fogo em um veículo que presumiram ser dos assassinos. A ação, que se soma a um longo histórico de manifestações violentas nas ruas haitianas, levou o premiê interino do país a fazer um apelo para que a população não linche os suspeitos.
O caso acirrou a crise política do país, que tinha no centro da disputa uma discussão sobre o término do mandato de Moïse. Ele foi eleito em 2015 e deveria ter tomado posse em 7 de fevereiro de 2016 para um mandato de cinco anos. Em meio a acusações de fraudes, porém, o pleito foi anulado e teve que ser refeito no ano seguinte. Durante esse período, o país foi comandado por um governo interino.
Moïse saiu vencedor na nova votação e assumiu o comando do Haiti em 7 de fevereiro de 2017. Como o mandato presidencial no país é de cinco anos, ele alegava que deveria permanecer no cargo até fevereiro de 2022, portanto -uma alegação apoiada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Em meio a essa discusão, o então presidente decidiu suspender dois terços do Senado, toda a Câmara dos Deputados e todos os prefeitos e passou a comandar o país via decretos –o que rendeu uma onda de protestos contra o governo e acusações de autoritarismo.