Não dá para imaginar um cenário tranquilo para 2022, diz ex-presidente do BC

Não dá para imaginar um cenário tranquilo para 2022, diz ex-presidente do BC

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Economia ILAN-GOLDFAJN 11/07/21 POR Folhapress

DOUGLAS GAVRASSÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Se 2021 tende a ser um ano de recuperação, após os estragos provocados pela pandemia da Covid-19, o cenário para o ano que vem é preocupante, avalia Ilan Goldfajn, ex-presidente do Banco Central e atual responsável pelo conselho de administração do Credit Suisse.

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Na visão do economista, com a disputa eleitoral no país, que promete ser acirrada, o Brasil vai ter de conviver com ruído interno –e o cenário internacional pode estar bem mais complicado do que agora.Mesmo com o avanço de 1,2% no PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), tendo surpreendido a maior parte dos analistas, Ilan avalia que a recuperação vai demorar a ser percebida pela população, já que a retomada do emprego acontece com defasagem.

A demora em conseguir vacinas, diz, também postergou a recuperação do Brasil. "Para além dos novos problemas que estão sendo investigados pela CPI da Pandemia, ficou claro que o Brasil começou a vacinar com atraso e essa demora foi o que mais impactou na economia", afirma.

Ele também aponta que o Banco Central acerta ao iniciar um novo ciclo de alta dos juros para conter a alta de preços, embora o país ainda terá de conviver com uma inflação acima da meta até o ano que vem.Folha - O resultado do PIB no primeiro trimestre surpreendeu positivamente os economistas. Podemos dizer que a recuperação é consistente?

Ilan Goldfajn - A recuperação está vindo mesmo, temos uma previsão de crescimento de 5,5% para a economia este ano, e o indicador mais importante de todos agora é o controle da pandemia. Os calendários de vacinação estão sendo antecipados de forma promissora em diferentes cidades e, caso continue assim, esse controle pode permitir uma continuidade da recuperação da economia.A nova preocupação é com a variante delta do vírus, que está afetando muitos países e pode prejudicar o Brasil. No momento, como estamos tendo uma aceleração da vacinação, isso acaba reduzindo as incertezas. Para além dos novos problemas que estão sendo investigados pela CPI da Pandemia, ficou claro que o Brasil começou a vacinar com atraso e essa demora foi o que mais impactou na economia.

Há outros riscos no horizonte, também, e a gente precisa chegar até o fim do ano sem ter de fazer um racionamento de energia.Folha - É preciso agir, então, para que a recuperação não seja um 'voo de galinha'?Ilan Goldfajn - É importante que o governo adote as medidas necessárias para compensar a falta de chuvas, como o uso de usinas térmicas, para chegarmos ao fim de novembro com um risco menor de faltar luz. E o cenário internacional precisa continuar benigno.Folha - Por muito tempo, o governo trabalhou com o falso dilema entre resolver a questão sanitária ou salvar a economia. Essa escolha nunca existiu?Ilan Goldfajn - Hoje está claro para todo o mundo que não há uma contradição entre economia e saúde, pelo contrário. Quanto mais rápido se resolver a questão sanitária, mais rápido a economia irá se recuperar. É uma pena que tenha levado quase um ano para que se chegasse a esse consenso.Folha - Como avalia a proposta de reforma tributária do governo?Ilan Goldfajn - A proposta acabou saindo sem a calibragem correta e com algumas distorções. Na verdade, ela acabou sendo posta para aumentar a carga [tributária] e compensar aumentos de despesas, como a do novo Bolsa Família. Esses objetivos estão minando a proposta, sendo que a intenção era aliviar os impostos dos mais pobres e que o imposto se tornasse mais igualitário. Isso é louvável e deve ser perseguido, mas da forma como a proposta foi colocada, ela mantém distorções.A tributação de dividendos foi equacionada para aumentar a carga, mas o que se falava era em reduzir para a empresa e aumentar os dividendos. A reforma tributária deveria ser neutra, reduzir as complexidades e tornar o sistema de tributação mais simples. Não adianta que as reformas saiam, seja tributária ou administrativa, elas precisam ser bem feitas.Folha - Olhando para as mais recentes pesquisas eleitorais, o mercado já precifica uma possível volta do ex-presidente Lula [PT] ao poder?Ilan Goldfajn - O mercado tem a mania de ser otimista, ele quer ver que a coisa irá funcionar, com quem quer que seja eleito. Que a economia tenha espaço para se recuperar. E, muitas vezes, a coisa não é bem assim. Normalmente, o foco do mercado é mais de curto prazo. tem de chegar perto das eleições para começar a ser precificado e normalmente isso acontece no próprio ano da eleição, por isso a minha preocupação com o ano que vem.Vamos ter uma eleição intensa, com muita polarização e discussões; não consigo ver um ambiente tranquilo para o ano que vem. 2021 é um ano de alívio e recuperação, mas quanto mais perto chegamos de 2022, mais os riscos vão aumentando. O ano que vem me preocupa muito. Com a disputa pelos próximos quatro anos de governo, o Brasil vai ter muito ruído interno e o cenário internacional pode estar bem diferente do que está agora. Essa recuperação no mundo, que tem sido boa este ano, pode fraquejar. E a melhora dos mercados frear.Folha - Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro [sem partido] admitiu que nunca houve uma 'caixa-preta' no BNDES, uma das principais narrativas de sua campanha em 2018. Como avaliar esse recuo no discurso do presidente?Ilan Goldfajn - Temos de tomar muito cuidado com as instituições, elas precisam ser cobradas e é preciso deixar claro o papel do BNDES. Até acho que o banco está encontrando o seu caminho e que a nova diretoria está fazendo um trabalho espetacular. Agora, a gente tem de ser cuidadoso para não tornar incerta a vida de quem tem de tomar decisões públicas. É preciso ter um balanço entre cobrar a instituição, mas deixando que o BNDES atue e que o funcionário público trabalhe .Folha - A inflação tem assustado mais do que se esperava este ano. Já está dado que energia e combustível vão impactar no bolso do consumidor este ano e talvez no ano que vem também?Ilan Goldfajn - A inflação vai ficar alta este ano, entre 6,5% e 7%, e isso vai ter consequências no ano que vem. Mesmo que tudo dê certo, ela deve ficar acima da meta. A inflação no Brasil não cai de um dia para o outro, o câmbio não faz milagre e a expectativa não melhora tão rapidamente. Ela subiu e, devagar, vai voltando quando o trabalho certo é feito pelo Banco Central, com os juros subindo.Folha - Apesar dessa recuperação já estar acontecendo, a maior parte da população ainda não parece sentir esses efeitos, com desemprego e inflação ainda altos. Vai demorar muito para que os efeitos da retomada sejam sentidos por mais pessoas?Ilan Goldfajn - Este ano, o mercado de trabalho pode continuar reagindo. Mas temos tanta burocracia e custos elevados para contratação, que o emprego demora a reagir, mesmo com a recuperação da economia. O que é possível fazer é reduzir o custo para produzir e investir no Brasil, para que a reação ocorra de forma mais rápida.A tendência é que o investimento estrangeiro volte com mais força ao país? O Brasil ainda sofre muito por questões de imagem. Mas temos espaço para melhorar essa imagem. Os recursos estão voltando, pois o cenário internacional é positivo, mas é preciso melhorar a imagem internacional do país na questão ambiental, na gestão da pandemia e na estabilidade de regras e das instituições democráticas. Tudo isso é muito relevante para atrair investimentos no futuro.RAIO-XIlan Goldfajn, 55É economista nascido em Israel e radicado no Brasil, com doutorado pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Foi presidente do Banco Central entre 2016 e 2019, durante o governo de Michel Temer (MDB), e atualmente é presidente do conselho de administração do Credit Suisse Galeria Alimentos pressionaram inflação em 2020 Alta do dólar e demanda externa puxaram preços ao longo do ano https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1686646010514450-alimentos-pressionaram-inflacao-em-2020 *

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