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TONY GOESFOLHAPRESS - O início da década passada assistiu à explosão de um fenômeno até então desconhecido -os influenciadores digitais. Surgidos no YouTube, eles já haviam se espalhado por todas as redes sociais e conquistado milhões de seguidores quando a mídia tradicional finalmente se deu conta.
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Muitos estão por aí até hoje. Christian Figueiredo tem quase 12 milhões de inscritos no canal Eu Fico Loko, mas seu alcance se restringe aos adolescentes. Kéfera Buchmann abandonou a internet para se dedicar à carreira de atriz. Com 42,6 milhões de inscritos, o canal do humorista Whindersson Nunes é o quarto maior do YouTube do mundo.
Felipe Neto está na sexta posição, com 42,5 milhões. Se somarmos os números de seus perfis no Instagram e no Twitter, ele chega a 70 milhões de seguidores. Mas o que faz desse carioca de 33 anos ser o mais importante influenciador do Brasil é a imensa repercussão de suas palavras e atitudes, com um viés político que se intensificou de 2017 para cá.
Para quem só ouviu falar do rapaz depois que ele entrou para a lista da revista Time das cem pessoas mais influentes de 2020 -ao lado de um único outro brasileiro, Jair Bolsonaro- o livro do jornalista Nelson Lima Neto vem a calhar.
"Felipe Neto, O Influenciador" é uma visão panorâmica do processo de amadurecimento de uma figura ímpar, que, em poucos anos, foi de "hater" inconsequente a filantropo preocupado com causas sociais.
Também é uma biografia não autorizada. Apesar de sucessivos pedidos, Neto e seus familiares se recusaram a dar entrevistas. No entanto, o biografado gostou do resultado final. "Posso dizer que quase tudo dentro dele está correto, inclusive a exposição dos meus defeitos", tuitou ele em junho passado.
Não só os defeitos, mas também muitas tretas e processos na Justiça. O Felipe Neto que emerge das páginas de "O Influenciador" é teimoso, brigão, obstinado -em bom carioquês, marrento. Por outro lado, também sofre de depressão, algo que nunca escondeu, e não hesita em pedir desculpas quando sente que errou.
Mesmo sem a ajuda do entorno imediato do youtuber, Lima Neto realizou uma pesquisa minuciosa, com detalhes saborosos da vida escolar de seu biografado. O empreendedorismo aflorou cedo -a primeira empresa, de telemensagens, foi aberta quando ele tinha apenas 14 anos. A veia artística também logo se manifestou, através de cursos de teatro e espetáculos amadores.
Outras empreitadas incluem um site sobre séries e o canal de humor Parafernalha. Mas a consagração veio com o canal Não Faz Sentido, lançado em 2010, em que ele mesmo disparava insultos contra Deus e o mundo.
O sucesso imediato o levou a rápidas passagens pela TV. Hoje, seus dois púlpitos são o canal no YouTube, em que predominam os vídeos sobre games, e o perfil no Twitter, de onde atiça a ira de bolsonaristas -que em contrapartida, o acusam falsamente de pedófilo. A internet é o habitat natural de Felipe Neto, onde ele faz fama e fortuna.
E que fortuna. O livro revela que ele gastou R$ 800 mil comprando livros de temática LGBTQIA+ para distribuir na Bienal do Livro do Rio de Janeiro em 2019, para espezinhar o então prefeito Marcelo Crivella, que havia proibido uma HQ em que dois super-heróis aparecem se beijando.
Lima Neto termina dizendo que a presença de Felipe no debate nacional só começou. Ele parece ter razão. Há poucos dias, o influenciador xingou o brigadeiro Carlos Almeida Baptista Junior de "babaca", depois de uma entrevista em que o comandante da Aeronáutica transpirou intenções golpistas. Quem mais teria a mesma desfaçatez? E os fundos para pagar bons advogados, claro.FELIPE NETO - O INFLUENCIADORAvaliação Muito bomPreço R$ 49 (impresso) ; R$ 32,90 (e-book)Autor Nelson Lima NetoEditora Máquina de Livros