Embaixador dos EUA pede que Brasil apresente plano para cumprir promessas ambientais

Todd Chapman defendeu que o governo do Brasil apresente nos próximos meses um plano detalhado sobre como o país pretende atingir os compromissos ambientais

© Amazônia tem desmatamento recorde em outubro

Mundo Cobrança 22/07/21 POR Folhapress

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em seus últimos dias no cargo, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, defendeu nesta quinta-feira (22) que o governo do Brasil apresente nos próximos meses –antes da reunião global sobre clima– um plano detalhado sobre como o país pretende atingir os compromissos ambientais assumidos recentemente pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

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"Este é o momento [do Brasil] de não ser o vilão e ser o herói [da agenda ambiental]. Este é o momento", declarou.Na cúpula do clima liderada pelo presidente americano, Joe Biden, Bolsonaro prometeu alcançar a neutralidade climática até 2050 e acabar com o desmatamento ilegal até 2030.

"Esses compromissos são importantes, agora temos que ver como fazer. Eu acho que essa é a nova oportunidade de o governo mostrar o plano de como vai chegar a isso. O governo [brasileiro] mostrar exatamente como vai fazer. Os outros países vão apoiar e ajudar", disse Chapman, em conversa com jornalistas na residência oficial da embaixada, em Brasília.

No Brasil desde abril de 2020, Chapman anunciou sua aposentadoria em 10 de junho, abrindo espaço para que Biden defina o novo chefe da missão em Brasília. Ele deixa o país no fim de semana.

Chapman afirmou ainda que o melhor seria o Brasil lançar esse plano ambiental antes da COP-26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), marcada para ocorrer em novembro em Glasgow, na Escócia.

"Apresentar antes! Chegar [na COP-26] com isso anunciado, para todos aplaudirem. Esse é o caminho. E também negociar o artigo 6 [do Acordo de Paris], que vai permitir o mercado internacional de carbono. Quem vai ser o grande beneficiário disso no mundo? Aquele que tem mais crédito de carbono para vender: o Brasil. Então, isso é do interesse nacional. Por isso eu acho que o Brasil tem uma grande oportunidade na área do meio ambiente".

"Na COP-26 eu gostaria que a grande estrela do filme seja o Brasil, fazendo o certo para resolver realmente esse problema do desmatamento ilegal. Este seria meu conselho ao governo, não só ao federal. Mas governos estaduais também.", complementou.Desde o início do governo Bolsonaro, o Brasil enfrenta forte pressão internacional na área do meio ambiente.

O país tem sido criticado pela retórica contra preservação de Bolsonaro e pela forte política de desregulamentação na área. O governo também é alvo de queixas da comunidade internacional por ataques a lideranças indígenas e, principalmente, pelo aumento de desmatamento na Amazônia.Até janeiro de 2021, as cobranças vinham sobretudo da Europa, uma vez que o ex-presidente americano Donald Trump tinha uma política de desregulamentação parecida com a de Bolsonaro.

A situação mudou com a chegada de Biden ao poder. O governo americano somou-se aos europeus nas gestões para pressionar o Brasil.

Nesta quinta, Chapman reconheceu que meio ambiente foi o tema em que houve maior mudança de posição dos EUA na transição dos governos Trump para Biden.

"Ficou bastante claro para mim, fazendo essa transição [nos EUA], que foi necessário aumentar a importância do meio ambiente em minhas conversas com o governo [do Brasil]", disse o diplomata americano.

Ele diz ainda que o tema mais sensível continua sendo o desmatamento ilegal na Amazônia e que o Brasil precisa buscar "soluções rápidas" para o problema.

Sem citar nomes, o diplomata também enviou um recado contra argumentos frequentemente utilizados por autoridades do governo Bolsonaro, que costumam rebater críticas do exterior comparando os índices de preservação do Brasil com o de países desenvolvidos e a matriz energética brasileira –uma das mais limpas do globo.

"Você pode estar certo em todos os seus argumentos, ganhando batalha atrás de batalha, e ainda assim perder a guerra. 'Ah mas nós já preservamos mais da Amazônia do que vocês fizeram na Costa Leste dos EUA'. Está certo, mas este não é um argumento [agora]. 'Ah, mas nós temos o maior número de hidrelétricas no mundo'. Está certo, mas este não é um tema agora. Vocês podem anunciar tudo isso com orgulho, se vocês não estiverem desmatando a Amazônia. Resolvido isso, vai abrir portas para vocês", afirma.

Apesar de Bolsonaro ter baixado o tom na sua retórica antiambiental e dos compromissos assumidos na cúpula do clima, as promessas do presidente são encaradas com ceticismo por conta do avanço dos índices de desmatamento.

Em junho, os alertas de desmatamento na Amazônia voltaram a bater recorde, pelo quarto mês consecutivo, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

A derrubada de mata no mês chegou a 1.061,88 km², o que representa um aumento de 2,7% em relação ao mesmo período de 2020, e o maior valor registrado na história recente do programa Deter, com início em 2016. É o segundo mês seguido com valores de desmate acima de mil quilômetros quadrados.

Desde março, os alertas mensais do programa vêm batendo recordes, sempre comparados ao mesmo mês de anos anteriores, desde 2016. Considerando só esse curto período de meses, foram derrubados 3.401 km² de Amazônia. O desmatamento em todo 2012, por exemplo, foi de 4.571 km².

Os meses de julho, agosto e setembro, parte do período seco, costumam ser críticos para a Amazônia por concentrarem intensa atividade de desmatamento e queimadas.

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