Lula costura apoios e corteja centrão contra Bolsonaro no Nordeste

É grande a possibilidade de palanque duplo. O governador João Azevêdo (Cidadania) já declarou que tem o aval do presidente do partido, Roberto Freire, para apoiar o petista no estado

© Getty Images

Política Eleições 2022 15/08/21 POR Folhapress

JOÃO PEDRO PITOMBO E JOÃO VALADARESSALVADOR, BA, E RECIFE, PE (FOLHAPRESS) - No momento em que Jair Bolsonaro (sem partido) inicia uma ofensiva sobre o eleitorado mais pobre do Nordeste, turbinando o programa Bolsa Família, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarca na região para estreitar as alianças com governadores e traçar estratégias para as eleições de 2022.

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O objetivo da viagem é aparar arestas na construção de palanques locais e formar uma base de apoio mais ampla com apoio local de legendas como PSB, MDB, Cidadania, PP e Republicanos. Lula desembarca neste domingo (15) no Recife e fica na região até 26 de agosto, passando por Piauí, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia.Entre aliados do ex-presidente, a avaliação é que o apoio sólido dos governadores será crucial para barrar o avanço da máquina federal no Nordeste e atrair localmente apoios fora do campo da esquerda.

"A viagem será um momento de retomar contatos, ouvir opiniões e prestigiar os aliados em seus estados. Cada governador é uma liderança importante em seu estado e, no caso do Nordeste, temos muitos governadores do nosso campo", avalia o senador Jaques Wagner (PT-BA).

Pesquisas apontam que a maioria dos governadores de estados nordestinos têm boa avaliação e está bem posicionada para 2022, seja para concorrer à reeleição, seja para tentar emplacar seus sucessores.Por outro lado, há uma preocupação com o avanço de aliados de Bolsonaro em suas bases eleitorais, atraindo prefeitos e líderes políticos locais com recursos de emendas parlamentares.

As torneiras abertas têm dado maior musculatura aos partidos do centrão. Nas eleições municipais, por exemplo, PSD e PP se consolidaram entre as siglas com mais prefeitos no Nordeste.

Bolsonaro também tem tentado ampliar sua inserção no eleitorado do Nordeste: tem concedido entrevistas a rádios da região e realizado visitas –na última semana foi a Juazeiro do Norte (CE).

Seu principal trunfo está na criação do Auxílio Brasil, programa que sucederá o Bolsa Família com a ampliação do valor médio pago às famílias de baixa renda. O projeto foi enviado nesta semana para a Câmara dos Deputados.

Mas o presidente ainda tem um longo caminho para reduzir sua rejeição no Nordeste. Pesquisas apontam Bolsonaro com baixa popularidade, sobretudo nas capitais. Nas análises qualitativas, a gestão da pandemia é apontada como principal problema.

Lula, por sua vez, segue como um dos principais cabos eleitorais nos estados da região e ganhou mais força após voltar a ser elegível. Nas qualitativas, é apontado como um candidato associado à estabilidade, mas enfrenta resistências do eleitor conservador.

Em sua visita a estados do Nordeste, Lula trabalhará para amarrar o apoio de governadores da região e seus respectivos partidos aliados. Para isso, contudo, precisa desatar alguns nós na construção de palanques locais.

O principal deles está no Ceará, onde o governador Camilo Santana (PT) deve concorrer ao Senado e apoiar o PDT para o governo estadual. A manutenção da aliança, contudo, enfrenta resistências diante da estratégia do presidenciável Ciro Gomes (PDT), que aumentou o tom nas críticas a Lula.

"Querem deixar o PT de joelhos, em uma situação subalterna. Isso é inaceitável", critica o deputado federal José Airton Cirilo (PT-CE), que defende que o partido tenha candidatura própria ao governo.Em Pernambuco, primeiro ponto de parada do ex-presidente no giro pelo Nordeste, a agenda prioritária é com o PSB.

O partido, considerado por Lula como aliado preferencial na esquerda para 2022, foi decisivo no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016 e esteve afastado do PT nas eleições municipais do ano passado.

O prefeito do Recife, João Campos (PSB), que travou disputa acirrada com a prima Marília Arraes (PT) em 2020 e se elegeu usando o antipetismo como estratégia, vai se encontrar com o ex-presidente.O convite para um jantar no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual, onde Lula será recebido pelo governador Paulo Câmara (PSB), foi feito por interlocutores do ex-presidente.

Até então, Campos e o ex-prefeito do Recife Geraldo Julio (PSB) representam os maiores pontos de resistência no partido à aliança nacional com o PT. Nos bastidores, líderes socialistas avaliam que a relação direta com Lula sempre foi bem mais tranquila do que com o próprio PT.

A ida de Campos ao encontro com o ex-presidente é vista como o primeiro passo para o distensionamento da relação entre os dois partidos, ainda com algumas feridas abertas.

"Essa viagem [de Lula] não vai precipitar uma decisão nossa, mas é um passo importante desta caminhada", avalia o deputado federal Tadeu Alencar (PSB-PE), que estará no encontro.

Existe ainda a possibilidade de o ex-presidente participar, em caráter pessoal, de um jantar com Renata Campos, mãe do prefeito João Campos e viúva do ex-governador Eduardo Campos (PSB), morto em acidente aéreo em 2014.

Apesar de ter deixado a Prefeitura do Recife desgastado e com baixa aprovação, Geraldo Julio é o nome mais cotado para a sucessão de Câmara. O ex-prefeito, que defende publicamente candidatura própria ou apoio a Ciro Gomes, não foi convidado para o jantar deste domingo.No Recife, Lula também vai se encontrar com os deputados federais Dudu da Fonte (PP-PE) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE). Os dois tentam ser "o senador de Lula" na chapa que deve ser encabeçada por Geraldo Julio.

Silvio Costa Filho, que esteve próximo a Bolsonaro no início do mandato por defender a agenda econômica do governo federal, diz não ter constrangimento em se reaproximar de Lula.

"O pernambucano só se curva para agradecer. Tenho muita gratidão a Lula por tudo que fez por Pernambuco. Foi o melhor presidente para nosso estado", afirma.No Maranhão, Lula tem outro nó para desatar. Aliado de primeira hora, o governador Flávio Dino (PSB) trabalha o nome do vice-governador Carlos Brandão (PSDB) para sua sucessão.

A candidatura, contudo, enfrenta resistências dentro do PT, que teria dificuldade em apoiar um tucano para o governo maranhense. Parte da cúpula do partido prefere que o candidato seja o senador Weverton Rocha (PDT-MA).

Na Bahia, está previsto um jantar com o governador Rui Costa (PT), contando com a participação de líderes como o senador Otto Alencar (PSD-BA) e o vice-governador João Leão (PP). A ideia é sacramentar a aliança local com apoio a Lula no momento em que o PP aproxima-se nacionalmente de Bolsonaro.

Lula ainda deve fazer uma segunda viagem a estados do Nordeste para visitar Paraíba, Alagoas e Sergipe. Na Paraíba, vai se reunir com grupos antagônicos que se enfrentarão na disputa pelo governo do estado.

É grande a possibilidade de palanque duplo. O governador João Azevêdo (Cidadania) já declarou que tem o aval do presidente do partido, Roberto Freire, para apoiar o petista no estado.

O senador Vital do Rêgo (MDB-PB) também pode disputar o governo com o apoio de Lula e encontrou-se com o ex-presidente na última semana. Nesta eventual chapa, o ex-governador Ricardo Coutinho, que deve migrar do PSB para o PT, tenta emplacar a vaga de candidato ao Senado.

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