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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Klara tinha o dente muito torto. Gabriel era mais sensível que os demais colegas. Marcus estava acima do peso. Os três foram vítimas de bullying no período em que estavam na escola. Agora, eles tratam do assunto sob outra perspectiva, como astros do filme "Confissões de uma Garota Excluída", que estreia nesta quarta-feira (22) na Netflix.
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"As pessoas sempre vão achar alguma coisa para tentar te tirar do sério", diz Klara Castanho, 20, que interpreta Tetê, uma estudante que não tem amigos e é sistematicamente ignorada pelos colegas. "Agora que tem nome, bullying, a gente sabe exatamente como funciona. Eu acredito que todo mundo tem uma história de bullying. E, se não passou [por isso], vai passar, infelizmente."
Na trama, Tetê é forçada a mudar de colégio depois que os pais ficam desempregados. Na nova escola, ela vai tentar mudar a própria realidade e se enturmar com os novos pares. Encontra algumas dificuldades com as meninas populares, mas é acolhida por Davi (Gabriel Lima) e Zeca (Marcus Bessa).
Lima diz que, assim como os personagens do filme, não tinha tantos amigos na escola. "Sempre fui menos aceito pelas pessoas, nunca achei a minha tribo", lamenta. Já Bessa conta que os colegas chegaram a fazer um grupo em uma rede social para zoá-lo. "O cyberbullying era gigantesco", comenta.
Os personagens deles se unem a Tetê justamente por não serem aceitos pelos demais colegas –Davi por ser nerd, e Zeca por ser gay. Castanho diz que a amizade do trio é uma das coisas que a aproximam da personagem.
"Tenho duas amigas que, para mim, são a personificação desses dois amigos", explica. "Uma é extremamente honesta, assim como o Zeca fala tudo na cara, da forma que tiver que sair para te instruir. A outra é o Davi, que dá colinho, que fala que você está errada, mas faz um carinho."
Outra semelhança é a relação com a família. Embora no filme a família de Tetê seja um pouco destrambelhada -os pais são vividos por Júlia Rabello e Stepan Nercessian-, ela diz que eles também são um porto seguro.
"A família da Tetê é completamente maluca, mas ela tem pessoas em que consegue se apoiar", avalia. "Ela confiou na mãe para contar o apelido que deram para ela, mesmo que seja péssimo. Então ela deixou que a mãe fosse confidente. Aos trancos e barrancos, ela tem uma relação de muita honestidade com essa família."
Na produção, a atriz aparece quase sempre descabelada, com roupas largadas e óculos de armação grossa, além de suar excessivamente nos momentos mais inadequados. "Sou suspeita, mas acho ela tão linda", comenta Castanho.
"A história dela vai muito além da imagem", explica. "Obviamente, a gente tinha elementos para simbolizar toda essa questão que ela tinha com ela mesma, elementos que ajudam a contar a história."
Ela lembra que a personagem tem 15 anos, idade com a qual dificilmente alguém sabe se comportar em todas as situações ou mesmo desconhece o que significa, na prática, o autocuidado. Tetê, por exemplo, diz a certa altura do filme que toma banho "quase todos os dias".
"Quanto menos elementos a gente tivesse de vaidade ou de acessórios que pudessem chamar atenção, melhor", diz a atriz. "Era a forma que a gente tinha de contar essa história da forma mais natural possível. A única coisa que eu podia era me despir de qualquer tipo de vaidade."
Se ver na tela tão desajeitada nem chegou a ser uma questão. "Quando se é ator, você tem que se desprender dessas coisas", afirma. "Em um momento você está com cabelo aqui, em outro momento raspa a cabeça e não tem um pingo de maquiagem. Eu estava tão feliz de contar essa história que a última coisa em que eu ia pensar era em como eu estava aparecendo."
O filme é baseado no livro "Confissões de uma Garota Excluída, Mal-Amada e (um Pouco) Dramática", de Thalita Rebouças. A escritora, que também assina o roteirocom o diretor Bruno Garotti, faz uma participação especial como a mãe de uma das colegas de Tetê.
Castanho diz que já tinha bastante familiaridade com a obra. "Eu conheci o 'Confissões' em 2018, quando fiz o áudio livro", lembra. "Desde então, eu falava que queria contar essa história no cinema. Demorou alguns anos até que a gente conseguisse tirar do papel."
Mas a espera não foi um problema, já que ela diz sempre voltar à obra. "Em vários momentos, ela sempre bateu de uma forma diferente", conta. "Sempre que você lê, ela traz uma mensagem diferente. Então, contar essa história neste momento, e dessa forma, foi o melhor que poderia ter acontecido."