Testes iniciais da ButanVac em humanos apontam segurança e produção de anticorpos

O imunizante está sendo testado atualmente em dez municípios no estado de Minas Gerais e em Ribeirão Preto (SP)

© Divulgação / Governo do Estado de São Paulo

Brasil Vacina 28/09/21 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Butanvac, anunciada pelo Instituto Butantan como a primeira vacina brasileira contra a Covid-19, é bem tolerada e produz resposta imune por meio da formação de anticorpos 28 dias após a segunda dose. Os dados fazem parte de um estudo inicial conduzido na Tailândia.

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Com tecnologia desenvolvida pela Escola Ichan de Medicina do Hospital Mount Sinai, em Nova York, a Butanvac é testada em uma parceria entre países. Além do Brasil, estão envolvidos o Vietnã, a Tailândia (por meio da Universidade Mahidol) e o México (com o laboratório Avi-Mex).

Os resultados preliminares da etapa 1 da fase combinada 1/2 de ensaios clínicos na Tailândia foram publicados no último dia 22 como pré-print na plataforma medRxiv, ainda sem revisão de pares. No dia anterior, resultados também parciais de testes pré-clínicos no México foram divulgados.

Segundo o estudo clínico conduzido pela Universidade Mahidol, a vacina é segura e induz resposta imune a partir de 14 dias após a segunda dose, atingindo o pico com 28 dias após a segunda aplicação.

A imunogenicidade, isto é, capacidade da vacina de produzir anticorpos que podem proteger contra a Covid-19, foi maior quanto mais alta a dose da vacina testada.

A pesquisa clínica incluiu 210 voluntários de 18 a 59 anos entre os dias 20 de março e 23 de abril de 2021. Foi conduzida de maneira randomizada, escalonada, controlada com placebo e cegada para os participantes e profissionais que atuam na aplicação da vacina, mas não para os pesquisadores.

Indivíduos que já tiveram infecção pelo coronavírus no passado, que tomaram alguma das vacinas disponíveis contra Covid-19, gestantes ou lactantes foram excluídos da pesquisa. Essas pessoas poderão ser incluídas na segunda etapa dos testes, segundo os cientistas.

Os voluntários foram divididos em quatro grupos: um que recebeu duas doses de 10µg da vacina; um que recebeu duas doses de 3µg mais um adjuvante; um que recebeu duas doses de 1µg com o adjuvante e um grupo que recebeu placebo, uma substância inócua para a doença.

Por se tratar da primeira fase de estudos, nessa etapa avaliaram-se a segurança e a toxicidade da vacina. O imunizante, chamado de NDV-HXP-S, se mostrou seguro.

Os principais eventos adversos reportados foram dor no local da injeção e vermelhidão, de baixa seriedade e que passou em poucas horas. Outros eventos chamados sistêmicos, como febre e calafrios, não foram frequentes no teste.

Em geral, os efeitos colaterais ocorreram de um a sete dias após a aplicação, independentemente de ser a primeira dose ou não. Após 28 dias não foram verificados efeitos adversos relacionados à vacinação.

Para aferir a proteção conferida pelo imunizante, os cientistas mediram as taxas de anticorpos do tipo IgG específicos para a proteína S da spike (ou espícula, o gancho usado pelo coronavírus para infectar e invadir as células humanas) do coronavírus no sangue dos voluntários. Isso foi feito 29 e 43 dias após a aplicação da primeira dose. Ou seja, um e 14 dias após a segunda dose.

A produção de anticorpos foi maior após a aplicação da segunda dose. Passados 14 dias dela, a taxa aumentou de quatro a dez vezes, de acordo com a dosagem utilizada.

É importante destacar que os pesquisadores mediram os anticorpos que se ligam à cepa original do vírus de Wuhan, que já não está mais em circulação no mundo. Ela vem sendo substituída pelas variantes do coronavírus que evoluíram nos últimos meses, incluindo a variante delta, mais contagiosa. Não é possível ainda saber se a vacina vai proteger contra as outras formas.

Os dados do estudo com humanos na Tailândia são semelhantes aos observados na pesquisa conduzida com porcos no México, com o diferencial de que os cientistas do laboratório Avi-Mex testaram também a vacina contra as formas alfa (B.1.1.7), beta (B.1.351) e gama (P.1) do vírus. A vacina se mostrou segura e também induziu resposta imune nos animais.

A Butanvac também está em testes em humanos no Brasil. Não há ainda, no entanto, dados para o estudo desenvolvido por aqui, que teve início em julho.

O imunizante está sendo testado atualmente em dez municípios no estado de Minas Gerais e em Ribeirão Preto (SP). Recentemente, o Butantan anunciou um novo centro de testes para a vacina em Piracicaba (SP). Não há ainda previsão de quando os testes clínicos no país serão finalizados.

Na última quarta-feira (22), o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que os resultados divulgados no estudo da Tailândia foram promissores e que criam o primeiro elemento para prosseguir com a fase 2 de estudos.

"Estamos muito otimistas em relação a essa vacina porque ela apresentou resultados de imunogenicidade superior ao encontrado na mesma etapa pelas vacinas que estão sendo usadas atualmente. Isso é uma grande esperança para que a gente possa ter para o ano que vem uma vacina barata, produzida no Butantan, para o próximo ano", disse em entrevista coletiva na sede do instituto, na zona oeste de São Paulo.

Covas não especificou, no entanto, quais seriam as vacinas mencionadas que tiveram desempenho de imunogenicidade inferior nos testes clínicos.

A vacina da Oxford/AstraZeneca, por exemplo, teve os resultados preliminares apontando para uma boa proteção em adultos de todas as idades, incluindo aqueles de até 70 anos, anunciados em novembro de 2020.

A Butanvac é produzida a partir de um vírus que causa a doença de Newcastle (uma gripe aviária, incapaz de infectar humanos) modificado para expressar a proteína S da spike do coronavírus Sars-CoV-2.

Depois de inoculado em ovos embrionados de galinhas, o vírus é inativado e a proteína é purificada. A versão final da vacina utiliza a proteína sem o vírus.

A fabricação de vacinas usando ovos embrionados é uma tecnologia já bem dominada pelo Butantan, utilizada para a produção anual de mais de 70 milhões de doses da vacina contra a gripe, por exemplo.

Por ser de fácil acesso e não depender de matéria-prima estrangeira, a Butanvac pode ser uma opção mais barata para vacinação em países em desenvolvimento, que têm maior dificuldade de acesso às vacinas utilizadas atualmente contra a Covid-19.

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