Pandemia aumenta mortes por demência em negros, enquanto taxa cai entre brancos

Para brancos, porém, a taxa de mortalidade diminuiu (-1,4) na comparação entre 2019, ano pré-pandemia, e o período seguinte, dominado pela crise sanitária provocada pelo coronavírus

© Shutterstock

Brasil SAÚDE-PESQUISA 06/10/21 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Mortes de pessoas pretas e pardas causadas por demência aumentaram aproximadamente 15 pontos percentuais no Brasil em 2020, aponta um novo estudo. Para brancos, porém, a taxa de mortalidade diminuiu (-1,4) na comparação entre 2019, ano pré-pandemia, e o período seguinte, dominado pela crise sanitária provocada pelo coronavírus.

PUB

Como possíveis explicações para essa discrepância, os pesquisadores apontam fatores de risco a que a população negra está mais suscetível e que pioraram com a Covid-19.

Realizada por cientistas da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) e da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), com a colaboração da Universidade de Queensland, na Austrália, a pesquisa comparou os dados disponíveis pelo SUS (Sistema Único de Saúde) sobre demência em todo o país entre os anos de 2019 e 2020.

A pesquisa se concentrou em três aspectos da ocorrência de demência em território brasileiro no contexto da Covid-19: as hospitalizações pela doença, os custos médios para seu tratamento e a taxa de mortalidade. A partir daí, foram traçadas análises para as populações preta, parda e branca.

Quanto à hospitalização e aos custos de tratamento, foi constatado que houve diminuição no último ano para todos os brasileiros. No entanto, a mortalidade por demência cresceu somente em pessoas pretas e pardas.

"Alguns estudos, tanto antes quanto durante a pandemia, já tinham alertado que a população negra, não só no Brasil, mas especialmente nos Estados Unidos, tinha um maior risco para casos e óbitos por demência quando se compara com outros grupos étnicos", afirma Natan Feter, doutor em educação física pela UFPel e um dos autores do estudo .

Para Feter, um acúmulo de fatores pode explicar o aumento dessa taxa de mortalidade em pessoas negras durante a pandemia. Uma das razões seria o fato de que essa parcela da população foi mais afetada economicamente durante a disseminação do coronavírus. Isso tende a elevar o estresse e outros problemas de saúde mental, considerados importantes fatores de risco para os quadros de demência.

Outra hipótese para explicar esse incremento nos óbitos é a dificuldade que a população negra tem em acessar sistemas de saúde, principalmente com o aumento de casos de Covid-19. "As pessoas, mesmo precisando de uma consulta, deixaram de buscar o serviço durante a pandemia", avalia.

Feter ressalta ainda que estudos anteriores já demonstraram que as pessoas normalmente buscam prioritariamente serviços de emergência em casos de demência -o que também mostra a baixa adesão a um tratamento adequado e precoce da doença.

Isso faz com que o diagnóstico da demência demore mais a ser realizado. Esse atraso, por consequência, prejudica o início do tratamento e aumenta as chances de morte.

Feter também aponta que outros fatores de risco para demência que não necessariamente se relacionam com a pandemia, como diabetes e hipertensão, já tinham maior prevalência entre a população negra.

"Quando nós temos de 40% a 50% dos casos de demência atribuíveis a fatores de risco modificáveis, e sabemos que a prevalência desses fatores de risco é maior na população negra, não é tão surpreendente assim que essas pessoas estejam morrendo mais por essa doença", destaca.

E, como são comorbidades que também elevam as chances de morrer com a Covid-19, "então a população negra com demência têm uma dupla carga de fatores de risco [na pandemia]", afirma o pesquisador.

O estudo também observou particularidades regionais. Foi constatado, por exemplo, que na região Sul houve um aumento nas hospitalizações e nos custos médios do tratamento da doença e uma redução na taxa de mortalidade. Já no Nordeste, a hospitalização subiu, enquanto os custos e a mortalidade diminuíram.

Mesmo com essas variações, Fater afirma que "a disparidade [racial] é bastante marcante" no contexto geral do Brasil.

Para lidar com esse cenário, o pesquisador aponta a importância de implantar políticas públicas para diminuir a prevalência desses fatores de risco na população negra e, consequentemente, reduzir a mortalidade por demência.

Um exemplo seria a criação de um plano nacional de combate à demência, o que, na América Latina, é uma realidade somente no Chile.

"O Brasil não tem um plano nacional de combate à demência porque ele está estagnado no Senado Federal, sem uma previsão de continuidade. Então, numa conversa para estruturar esse plano, seria necessário incluir como diminuir a disparidade étnico-racial", afirma.

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

mundo Investigação Há 12 Horas

Laudo aponta que míssil da Rússia derrubou avião no Cazaquistão

fama Luto Há 15 Horas

Morre ator Ney Latorraca, aos 80 anos

fama Bebê Há 18 Horas

Neymar será pai pela quarta vez e terá segunda filha com Bruna Biancardi

fama Festas Há 16 Horas

Filho de Leonardo, João Guilherme dispensa Natal do pai e passa com Xuxa

fama Emergência Médica Há 10 Horas

Internado na UTI, saiba quem é Toguro, influencer indiciado por homicídio

mundo Cazaquistão Há 15 Horas

Nevoeiro, aves, míssil russo… O que se sabe sobre a queda de avião?

mundo Avião Há 16 Horas

Corpo é encontrado no trem de pouso de avião no Havai

lifestyle Saúde Há 16 Horas

Nariz entupido? Saiba como resolver este incômodo

fama Tragédia Há 9 Horas

Ator de 'Baby Driver', Hudson Meek, morre aos 16 anos

politica Justiça Há 17 Horas

Chefe da PM responsável pela Esplanada sugeriu combinar defesa sobre 8/1