© Cruzeiro anuncia Brunoro para reforçar departamento de futebol
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro em 2019, o Cruzeiro poderá ser o primeiro grande clube do sudeste a passar três anos seguidos longe da elite do futebol nacional. Depois de terminar a edição de 2020 em 11º, o time está atualmente na 12ª colocação e não demonstra fôlego para chegar à zona de acesso restando dez rodadas para o fim da competição.
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A dificuldade para voltar à Série A reflete a mais grave crise enfrentada pela equipe mineira, que completou em 2 de janeiro deste ano seu centenário. Escândalos administrativos tomaram conta da agremiação nos últimos anos e minaram a capacidade financeira de montar um elenco competitivo.
O clube não divulgou nenhum relatório ou extrato de suas finanças em 2021. O documento mais recente é de 2020 e mostra o quanto a receita caiu por disputar a Série B. Em 2019, foram gerados R$ 303 milhões. No primeiro ano após a queda, o valor foi de R$ 120 milhões, segundo estudo do Itaú BBA. Enquanto isso, a dívida total é de R$ 662 milhões atualmente.
O rebaixamento à segunda divisão nacional tem como consequência uma perda de até 60% nas receitas, segundo especialistas. No caso do Cruzeiro, houve perdas maiores. Em 2019, o clube faturou R$ 111 milhões com direitos de TV. Em 2020, esse número caiu para R$ 40 milhões, uma redução de 64%.
A venda de atletas também tem sido prejudicada. Caiu de R$ 113 milhões em 2019 para R$ 21 milhões no ano passado, uma redução de 84%.
Os reflexos dos problemas financeiros são vistos em campo.
Em 28 jogos na Série B deste ano, o time somou apenas 35 pontos, um aproveitamento de 41,7%. Caso mantenha o mesmo rendimento nos duelos que ainda restam, somaria mais 12 dos 30 pontos em disputa, o que faria chegar aos 47, um a menos do que somam atualmente o Botafogo e o Goiás, terceiro e quarto colocados, respectivamente –os mineiros voltam a campo às 21h30 desta sexta (8) para encarar o Coritiba.
A chance de acesso nesta temporada é tão remota que o planejamento para o próximo ano está em curso, mas com o presidente Sérgio Santos Rodrigues escanteado.
O cartola não participou de uma reunião ocorrida no início da semana entre o empresário Pedro Lourenço, principal patrocinador do clube mineiro, e o técnico Vanderlei Luxemburgo para tratar sobre os reforços para a temporada de 2022.
No sábado (2), Lourenço fez duras críticas à diretoria em entrevista à Rádio Itatiaia. "Se não mudar muita coisa no Cruzeiro, não vai adiantar. Tem que mudar a diretoria de futebol. Se não mudar, não vai ter o meu apoio. Não vou ficar salgando carne podre", disse o investidor. "Se não tomar providências, vai ficar o resto da vida na segundona", acrescentou.
A crítica dele surtiu efeito quase imediato. Na segunda-feira (4), o diretor de futebol Rodrigo Pastana foi demitido. Ele havia sido contratado em junho.
Luxemburgo também não tem assegurada sua permanência para o ano que vem. Quando foi contratado, em agosto, uma das exigências do treinador era que o salário do elenco fosse pago em dia. Com a ajuda do investidor, que antecipou verbas do patrocínio de 2023, a equipe conseguiu colocar o vencimento dos atletas em dia. Porém, passados dois meses, os vencimentos voltaram a atrasar.
"Quando foi falado com Vanderlei, ele exigiu salário em dia. Não só de jogador. Porque o jogador não joga sozinho. E os caras que ganham mil? Dois mil? Três mil? Eu comprei um patrocínio de 2023. Cerca de R$ 8 milhões, que eram para acertar tudo. Foi feito o pagamento. Agora, quem pagou e quem não pagou eu não sei falar", reclamou o empresário.
O presidente Sérgio Santos Rodrigues disse que a situação dos salários é "complicada", mas admitiu os atrasos. "Quando o Luxemburgo veio, a gente teve uma ajuda de um parceiro nosso. Não foi o suficiente para colocar tudo 100% em dia. Ficou ainda algum atraso. E continuamos com esse atraso", reconheceu.
A situação tem sido recorrente no clube desde o ano da queda. Salários atrasados, jogadores afastados e quatro técnicos diferentes durante a disputa do Campeonato Brasileiro de 2019, além de uma investigação policial envolvendo membros da diretoria, foram alguns dos componentes que provocaram o descenso.
Naquele ano, a administração foi acusada de transações irregulares e uso de empresas de fachada em negócios da agremiação, em escândalos que marcaram a gestão do ex-presidente Wagner Pires de Sá e do ex-vice-presidente de futebol Itair Machado.
Em outubro de 2020, o Ministério Público de Minas Gerais denunciou os dois e outras seis pessoas por crimes como lavagem de dinheiro, apropriação indébita, falsidade ideológica e formação de organização criminosa. Eles viraram réus e respondem em liberdade.
Segundo relatório da Kroll, empresa especializada em consultoria de riscos, as despesas de Wagner Pires de Sá superaram R$ 1,18 bilhão no biênio 2018/2019, 53% a mais que os R$ 770 milhões na gestão Gilvan de Pinho Tavares, em 2016/2017. Na administração de Pires de Sá, o clube atingiu o maior déficit da sua história: encerrou o exercício de 2019 com R$ 394 milhões negativos.
Acostumado a grandes contratações, a equipe perdeu poder de compra no mercado do futebol e teve de se acostumar a garimpar atletas em divisões intermediárias.
Além disso, atualmente há duas pendências na Fifa que impedem o Cruzeiro de registrar a contratação de jogadores. Uma de R$ 7 milhões com Defensor (URU), pela aquisição do meia Arrascaeta, e outra de R$ 6 milhões com o Mazatlán (MEX), pela compra do atacante Riascos. Ambos foram fechados em 2015.
Caso permaneça na Série B, o clube terá de superar todas essas adversidades para não amargar mais um ano na segunda divisão. Procurado por meio de sua assessoria, o Cruzeiro não retornou os pedidos de entrevista até a publicação deste texto.
Estádio: Couto Pereira, em Curitiba (PR)
Horário: 21h30 (de Brasília) desta sexta-feira (8)
Árbitro: Marielson Alves Silva (BA)
VAR: Péricles Bassols Pegado Cortez (SP)
Transmissão: SporTV e Premiere