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MACEIÓ, AL (FOLHAPRESS) - Aos dois anos, Nicole Oliveira Semião, de Alagoas, pedia à mãe uma estrela, mas não era qualquer estrela de brinquedo, ela queria aquela que via no céu, lembra a família.
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O fascínio pelo Universo cresceu junto com a menina. Aos quatro anos, para espanto dos pais, ela quis trocar a festa de aniversário por um telescópio, comprado com sacrifício.
Aos seis, pediu para fazer um curso de iniciação à astronomia pelo CEAAL (Centro de Estudos Astronômicos de Alagoas), uma entidade sem fins lucrativos que era exclusiva para jovens e adultos, mas devido à sua insistência, foi aberto a todas as idades.
Agora, aos oito anos, a alagoana aguarda a avaliação da Nasa, a agência espacial americana, para receber oficialmente o título de caçadora de asteroides. Nicole afirma ter identificado 23 novos asteroides até o momento.
Se a façanha for confirmada, ela se tornará a pessoa mais jovem a descobrir algo do gênero. O processo de reconhecimento, porém, pode levar até oito anos para ser finalizado.
Sócio do CEAAL, Romualdo Arthur Caldas, que é médico patologista e astrônomo amador, diz que a participação de Nicole no curso foi destacada. "No início nos surpreendeu. Mas, agora, sabemos perfeitamente que Nicolinha é muito determinada. Sempre muito atenta às explicações e observações telescópicas."
Desde 2020, a pequena astrônoma também participa do programa Caça Asteroides, projeto da agência espacial americana e da IASC (The International Astronomical Search Collaboration) em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
A observação dos asteroides ocorre por meio de um arquivo de imagens a partir de um software fornecido pela IASC. Após a validação das descobertas, o autor dos achados pode batizar os asteroides encontrados.
"Estou feliz com as detecções que eu fiz porque eu contribuí para a ciência no mundo", diz. "Quero colocar os nomes dos meus pais e de cientistas brasileiros [nos asteroides]", adianta Nicole.
Para ela, o interesse na pesquisa é proporcional ao desejo em divulgar o tema. Por isso, fundou um clube de ciências voltado a crianças (@nicolinhaekids, no Instagram) e um canal no YouTube para entrevistar cientistas e divulgar o que aprende aos seus seguidores.
O clube é coordenado pela mãe, Zilma Semião, mas todas as aulas são ministradas por profissionais e especialistas de cada área. Zilma conta que Nicolinha é acompanhada por diversos cientistas, como os astrofísicos Duília de Mello e Paulo Leme, o astrônomo Romualdo Arthur Caldas e o paleontólogo Marcelo Adorna Fernandes.
Desde janeiro de 2021a família mudou-se de Maceió para Fortaleza, onde Nicole ganhou uma bolsa de estudos na escola particular Farias Brito, incluindo aulas de astronomia. A mudança de cidade exigiu uma transformação radical na vida da família.
A mãe, que é artesã, teve que vender todas as ferramentas para ajudar na mudança. Aos poucos ela está voltando a montar seu ateliê, onde cria itens com o tema da astronomia.
Já o pai, Jean Carlo Lessa Semião, analista de sistemas, conseguiu um acordo para trabalhar remotamente.
Nicole estuda pela manhã, frequenta curso de inglês e aulas de natação, mas, segundo a mãe, sem deixar de brincar como qualquer criança da idade. O resto do tempo dedica-se aos estudos em astronomia.
Durante a noite, ela também interage com os seus seguidores nas redes sociais e, com o apoio da escola onde estuda, voltou a dar palestras presenciais sobre astronomia, após quase dois anos afastada por causa da pandemia.
Nicole é ainda bicampeã da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica e coleciona certificados por cursos e palestras sobre o tema. Seu sonho, ela diz, é conhecer a Nasa e atuar para que todas as crianças tenham acesso a ciência, tecnologia e astronomia. No futuro também quer se formar em engenharia aeroespacial, para construir foguetes.
"Eu sempre me inspirei no universo, nas estrelas quando comecei, e hoje me inspiro nas [astrônomas] Duilia de Melo, Rosaly Lopes e no [ex-astronauta e atual ministro] Marcos Pontes", resume.
Como Nicole, outras jovens brasileiras também se destacam na astronomia. A estudante Laysa Peixoto Sena Lage, 18, por exemplo, descobriu recentemente um novo asteroide por meio de campanha da Nasa.
O reconhecimento da descoberta aconteceu em agosto e o astro foi batizado de LPS0003, de acordo com suas iniciais. Futuramente, a jovem poderá escolher um outro nome para ele.