Prevent cobrava 'altas celestiais' para liberar leitos a pacientes VIP, diz advogada

Novos detalhes das denúncias contra a operadora estão sendo divulgados através da CPI na Câmara Municipal de São Paulo

© Divulgação

Brasil CPI 21/10/21 POR Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A direção da Prevent Senior cobrava "altas celestiais" para liberar leitos de unidades para pacientes considerados VIP, segundo depoimento dado na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Prevent Senior na Câmara Municipal de São Paulo.

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A advogada Bruna Morato, que defende médicos que denunciam irregularidades na operadora, afirmou nesta quinta-feira (21) que a direção da operadora de saúde não possuía quantidade de leitos adequada para os segurados. O plano, por sua vez, afirma que falas da depoente são "mentiras".

Por isso, havia uma pressão para que os leitos fossem liberados, conforme Morato. Na CPI da Covid no Senado, onde já prestou depoimento, a advogada citou a expressão "óbito também é alta" para definir a prática na empresa.

Agora, na Câmara de SP, ela contou também uma expressão que seria anterior a essa, "girar o leito". "O pedido que vinha da diretoria era 'precisamos de tantas altas celestiais, porque preciso de tantos leitos disponíveis para um paciente que está entrando'", disse.

Ela afirmou ainda que existia o conceito de "paciente VIP". "Também existia a expressão 'paciente VIP,' ou seja, quando dava entrada no hospital um paciente que seria considerado sei lá por qual motivo VIP, eles precisavam a qualquer custo fazer o giro do leito. Dentro dessa necessidade, utilizava-se a expressão 'alta celestial' para o paciente que estivesse há muito tempo internado", disse.

Morato afirmou que a "alta celestial" era uma conduta mesmo antes de 2020, ano da chegada da Covid-19 ao Brasil. "Essa política organizacional que eu fiz questão de enfatizar que é anterior, bem anterior à pandemia, que permitiu com que isso fosse intensificado durante o período de pandemia, eu não sei o quão comum ela era", disse.

Ainda de acordo com a advogada, mesmo que os médicos quisessem insistir na recuperação do paciente, havia a possibilidade de o plano vetar a continuidade do tratamento. Os profissionais relataram, ela diz, indicação de uso de tratamento paliativo (voltado a atenuar a dor de doentes em situação irreversível) em casos de pacientes agudos.

"Eles muitas vezes queriam investir num paciente e não era autorizado. Não havia a disponibilização dos leitos. Ainda que houvesse uma parceria com outros hospitais, não havia autorização do plano de saúde para disponibilização de leito para o paciente porque custaria muito caro", narrou.

"Deixar de investir num paciente só porque vai ser caro, vai ser difícil ou porque a viabilidade possa ser pequena, mas ela existe, é você deixar de dar chance daquela pessoa sobreviver", completou.

A advogada afirmou também ter recebido a informação de que a operadora passou a substituir o termo "cuidados paliativos" por "cuidados essenciais".

"Imagina a situação de uma pessoa levar o seu ente querido e ouvir do seu médico: 'olha, essa pessoa ao invés de um tratamento tradicional precisa passar pelos cuidados essenciais, você autoriza?' É óbvio que a pessoa vai autorizar, porque a nomenclatura indica que talvez sejam cuidados essenciais", disse.

A CPI acontece sob protesto de funcionários da Prevent, que se aglomeram do lado de fora da Câmara.

Procurada pela reportagem para comentar o depoimento de Morato, a Prevent Senior afirmou que a advogada cita "tese fantasiosa".

"A advogada Bruna Morato é autora de uma tese fantasiosa e será responsabilizada judicialmente por denunciação caluniosa e outros crimes. O depoimento de hoje foi pródigo em mentiras e narrativas criadas somente depois que a advogada fracassou em tentar um acordo milionário com a empresa", disse, em nota, a assessoria de imprensa da operadora.

"A Prevent Senior tem total interesse que investigações técnicas, sem contornos políticos, sejam realizadas por autoridades como o Ministério Público. E repele o linchamento público do qual foi vítima junto com seus 3.000 médicos e cerca de 12 mil funcionários, sem direito à ampla defesa e ao contraditorio", acrescentou o comunicado.

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