Bitcoin deve continuar ganhando força como proteção contra a inflação

O bitcoin passou por um esperado reajuste nas sessões seguintes, que o colocaram de volta aos US$ 60,5 mil (R$ 345,5 mil) na sexta-feira (22)

© Getty Images

Economia Bitcoin 24/10/21 POR Folhapress

LUCAS BOMBANASÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Depois de ter quebrado seu recorde na última quarta-feira (20) ao ultrapassar a barreira dos US$ 66 mil (R$ 376,93 mil), o bitcoin passou por um esperado reajuste nas sessões seguintes, que o colocaram de volta aos US$ 60,5 mil (R$ 345,5 mil) na sexta-feira (22).

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Na avaliação de especialistas que atuam no setor, o recuo recente não abala em nada a confiança nas perspectivas positivas de longo prazo para a valorização do bitcoin e de outras criptomoedas.Segundo Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR Asset Management, gestora de criptoativos com cerca de R$ 1,1 bilhão, o ano de 2021 ficará marcado pela forte expansão e consolidação do mercado cripto em diversas frentes -com aumento da adoção institucional por grandes empresas e investidores, lançamento de novos produtos financeiros e até países adotando a moeda digital.

"A percepção de que o bitcoin é uma boa proteção contra a inflação permanece ganhando força. E considerando todos os estímulos fiscais e os problemas em importantes cadeias de suprimentos, não podemos descartar um cenário global conturbado e com uma persistência inflacionária, o que impulsionaria o bitcoin ainda mais, via desvalorização das moedas fiduciárias", diz Ludolf.

No ano, o bitcoin acumula valorização de aproximadamente 32,5% em dólar, até 22 de outubro, segundo dados da Bloomberg.O diretor de investimentos da QR Asset acredita em um cenário com o bitcoin oscilando ao redor de US$ 100 mil (R$ 571,1 mil) no fim do ano. Ele também vê continuidade do movimento de alta em 2022, com o criptoativo podendo se aproximar dos US$ 140 mil (R$ 799,5 mil).

"A regulação não consegue parar a inovação, e as tecnologias públicas descentralizadas continuarão a ganhar penetração nos mais diversos mercados", diz Ludolf.

Axel Blikstad, gestor dos fundos de criptomoedas da BLP Asset, também vê como uma probabilidade bastante factível a cotação do bitcoin encostar nos US$ 100 mil ainda em 2021.

"Depois do que vimos nos últimos dias, não duvidaria o mercado testar esses patamares durante o último trimestre do ano, tem muita gente nova entrando. Não vejo como nenhum absurdo [o bitcoin se aproximando de US$ 100 mil nas próximas semanas]", afirma Blikstad.

Ele lembra que o primeiro ETF (exchange-traded fund, fundo de gestão passiva) de criptomoedas lançado semana passada no mercado americano pela ProShares levantou cerca de US$ 1 bilhão (R$ 5,7 bilhões) em apenas dois dias de negociação, evidenciando de maneira explícita o tamanho do interesse dos investidores em torno do tema.

"O lançamento representou a sinalização do principal regulador do mercado global, que é a SEC [Securities and Exchange Commission, a CVM americana], de que está começando a olhar de maneira mais positiva para o ecossistema das criptomoedas como um todo", diz o gestor da BLP Asset, com cerca de R$ 500 milhões sob gestão em fundos cripto, tendo sido a primeira do país a lançar um fundo de gestão ativa de criptomoedas no mercado, em 2017.

Blikstad assinala que a captação do novo fundo indexado nos EUA bateu o recorde anterior alcançado em 2004 por um ETF que acompanha a cotação do ouro -existe uma ala no mercado que defende que o bitcoin pode ser considerado uma reserva de valor, assim como o metal precioso e o dólar.

O gestor da BLP Asset diz que, devido à alta volatilidade, não considera o bitcoin uma reserva de valor, ainda. Mas entende que, com o passar do tempo e o ingresso de novos investidores trazendo uma estabilidade maior para o negócio, o bitcoin e outras criptomoedas podem sim vir a se tornar uma reserva de valor.

No Brasil, a gestora Hashdex foi a pioneira ao lançar em abril o primeiro ETF de criptomoedas no mercado local, que rapidamente atraiu uma legião de cotistas.

No fim de setembro, o fundo indexado se destacava como o terceiro maior em número de investidores na Bolsa brasileira, com 127,3 mil cotistas, atrás apenas de ETFs que acompanham os índices acionários amplos S&P 500 (com 174,2 mil cotistas) e Ibovespa (com 128 mil cotistas).

Gestor de portfólio da Hashdex, João Marco Cunha diz que o movimento recente que levou o bitcoin a romper suas máximas históricas tem um caráter mais sustentável, em comparação ao recorde anterior de abril.

Entre as razões para isso, o especialista aponta o fato de a China ter banido a negociação de criptomoedas no país -no dia 24 de setembro, o Banco Popular da China, o banco central do país, declarou que todas as atividades relacionadas a moedas digitais na região são ilegais.

Embora tenha causado um forte aumento da volatilidade em um primeiro momento, o gestor da Hashdex diz que, nas semanas seguintes, a decisão passou a ser interpretada pelo mercado como positiva, por reduzir o grau de incerteza que constantemente pairava a respeito da atuação do gigante asiático no setor.

Cunha diz ainda que o fato de o presidente da Tesla, Elon Musk, ter reduzido suas declarações públicas a respeito do bitcoin também contribuiu para o desempenho recente da criptomoeda."Ainda é um mercado super volátil e vão ter momentos de correção, mas as perspectivas e o cenário macro de cripto parecem bastante positivos", diz o gestor da Hashdex, empresa com cerca de R$ 5 bilhões em ativos sob gestão.

Ludolf, da QR Asset, acrescenta que, embora o bitcoin seja considerado a "moeda de reserva" do mercado cripto, tal como o dólar para o câmbio, diversos modelos de negócio digitais ganharam força no mercado em 2021.

Dentre eles, o diretor de investimentos aponta o mundo das finanças descentralizadas, conhecido como DeFi, e dos NFTs (non-fungible tokens), que vêm sendo utilizados para formas diversas de monetização, das artes digitais aos esportes, passando por modelos de jogos em que o usuário é remunerado pela plataforma ao jogar.

"Acreditamos que a tendência de crescimento dos mercados de DeFi e NFTs continuará, fazendo com que os tokens vinculados a esses projetos continuem demandados e que os protocolos que suportam estas aplicações sejam opções de investimento interessantes", afirma Ludolf.

Recentemente, a gestora de recursos Kinea Investimentos, controlada pelo Itaú Unibanco, se tornou a primeira do seu porte no mercado brasileiro a anunciar a estreia no universo das criptomoedas, com um aporte no ativo digital ether.

Blikstad, da BLP Asset, diz que a criptomoeda ether, negociada pela plataforma Ethereum, é hoje a principal aposta nas carteiras dos fundos, frente ao crescimento das finanças descentralizadas, que não passam pelas grandes instituições financeiras e vêm permitindo a criação de diversos novos nichos de mercado. No acumulado do ano, o cripoativo acumula uma alta que supera a marca dos 3.000%.

SANTOS FAZ PARCERIA COM MERCADO BITCOINUm exemplo dessa tendência pode ser vista mais recentemente pelo anúncio de parceria na última sexta-feira (22) entre a plataforma Mercado Bitcoin, de compra e venda de criptomoedas, e o Santos Futebol Clube.

Pelo negócio, a agremiação da Vila Belmiro irá lançar no mercado um token digital, que é o registro de um ativo no universo do blockchain, chamado "Token da Vila".

O ativo digital terá um valor inicial de R$ 50 na data do lançamento, no dia 26, e será lastreado no direito que o Santos FC possui sobre 12 jogadores que formou em suas categorias de base. As regras da Fifa estabelecem que um percentual de até 5% sobre cada transferência do jogador seja retornado aos clubes que os formaram entre os 12 e 23 anos.

Entre os jogadores no grupo, estão estrelas como os atacantes Neymar Jr, do PSG (Paris Saint-Germain), Gabriel Barbosa, do Flamengo, e Rodrygo, do Real Madrid.

"Essa operação é muito interessante, porque ganha o clube, gerando receita nova, ganha o mercado de bitcoin tendo o Santos na sua prateleira de clientes e certamente ganhará o comprador do Token da Vila, porque a expectativa de transacionar esses atletas listados é extremamente alta", disse o executivo de marketing do Santos FC, Rafael Soares, em nota.O token será remunerado toda vez que acontecer uma transferência onerosa de um dos jogadores da cesta. Serão cerca de 600 mil tokens, que totalizam uma oferta de R$ 30 milhões ao mercado.

Segundo Bruno Milanello, executivo de novos negócios da Mercado Bitcoin, a empresa tem registrado uma média de 100 mil novos investidores por mês em 2021. A plataforma soma uma base com cerca de 3 milhões de clientes, que só neste ano movimentaram aproximadamente R$ 30 bilhões na negociação de criptomoedas.

Em julho, a empresa recebeu um aporte de US$ 200 milhões (R$ 1,14 bilhão) do conglomerado japonês SoftBank, que avaliou o negócio em US$ 2,1 bilhões (R$ 12 bilhões), tornando o Mercado Bitcoin o primeiro unicórnio cripto (startup avaliada acima de US$ 1 bilhão) da América Latina.

Os recursos serão utilizados para aumentar a escala do negócio, expandir a oferta e investir em infraestrutura para atender à crescente demanda por criptomoedas na região.

O executivo afirma também estar nos planos do Mercado Bitcoin novas aquisições -em agosto, a empresa adquiriu e integrou ao seu negócio a Tropix, plataforma de negociação de NFTs- bem como iniciar o processo de internacionalização para a América Latina, em países como México, Colômbia, Chile e Argentina.

"É preciso desmistificar a ideia de que quem trabalha com cripto não gosta de regulação. Desde que o regulador se proponha a manter um diálogo aberto com os agentes do mercado, como é no caso do Brasil, vemos como algo muito positivo, até por dar um conforto para todos os envolvidos, desde o governo até as empresas e os investidores", diz Milanello.

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