Reconstrução mamária melhora qualidade de vida de pacientes

A lei de reconstrução mamária dispõe sobre a cirurgia plástica reconstrutiva da mama em casos de mutilação decorrente de tratamento de câncer

© Shutterstock

Lifestyle Mulher 07/11/21 POR Notícias ao Minuto Brasil

A empresária Eliane de Sousa Canedo Marino, de 54 anos, estava disposta a fazer uma cirurgia plástica estética, em 2015. Mas, quando fez os exames pré-operatórios, foi detectado um tumor na mama esquerda.

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“Eu já vinha sentindo umas dores, mas não tinha detectado nada, então foi muito difícil no início, foi uma surpresa, ao mesmo tempo foi assim, um pavor, um medo mas, como eu sou uma pessoa muito católica, eu sempre entreguei a Nossa Senhora e a Deus tudo que tinha para acontecer”, conta Eliane.

Por causa do tumor, ela passou pelo processo de mastectomia total, quando a mama é totalmente removida. Mas o pior veio depois da cirurgia: “uma semana depois da cirurgia tive infecção hospitalar, aí começou a dificuldade porque eu sentia muito dor, muito medo, fiz todas as medicações, tudo que o médico indicou para fazer, mas foi muito difícil porque eu estava em outra cidade, longe do meu filho, da minha casa, do meu marido, da família mas, sempre muito confiante em Deus. E também durante o tratamento eu fiz quimioterapia e radioterapia”.

O tratamento aconteceu entre 2015 e 2016, com altos e baixos, relata a empresária. “Foi um ano e pouco de tratamento. Ao mesmo tempo em que eu tinha segurança, depois me dava medo, mas fui forte e venci. Tive a infecção hospitalar e depois de um ano ela ficou alojada no meu organismo, e não se alastrou, não caiu na minha corrente sanguínea. Eu falo que eu sou um milagre vivo. Porque sentia dores há muito tempo e não foi detectado o câncer”.

Passados quatro anos da cura do câncer, ela então decidiu fazer a reconstrução mamária, no ano passado. “Eu não queria fazer a reconstrução porque eu tinha medo, porque foi muito doloroso o tratamento. Mas Deus colocou o doutor Luís na minha vida, e deu tudo certo, fiz a reconstrução, fiquei muito feliz, realizada e só tenho a agradecer a Deus por tudo”, comemora.

O médico que atendeu a Eliane é o cirurgião plástico Luís Felipe Maatz, especialista em Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP-SP e especialista em reconstrução mamária pelo Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo. A expectativa dele é de que depois da pandemia, a taxa de pacientes que irão fazer a reconstrução mamária deve aumentar.

“Em 2017 a taxa de pacientes submetidas a cirurgia para câncer de mama que fizeram a reconstrução era de aproximadamente 34%. Não possuímos dados oficiais, mas é bem provável que, com a pandemia de covid-19, essa taxa tenha diminuído. Em 2022 esperamos que a taxa aumente e possamos aumentar a cada ano”, afirmou.

Segundo o último Censo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o percentual da taxa de reconstrução mamária (razão de reconstruções pelo número total de mastectomias, multiplicados por 100, a cada ano), que em 2008 foi de 14,9%, continuou estável até 2012; em 2014 era de 29,3%; e passou a aumentar a partir da implantação da lei de reconstrução mamária, em 2013. Em 2017, aproximadamente 34% das mulheres realizaram a reconstrução mamária.

A lei de reconstrução mamária dispõe sobre a cirurgia plástica reconstrutiva da mama em casos de mutilação decorrente de tratamento de câncer. Ela determina que os procedimentos de simetria da mama e de reconstrução do complexo aréolo-mamilar passam a ser considerados partes integrantes da cirurgia plástica.

A lei estabelece ainda que, quando existirem condições técnicas, a reconstrução da mama seja efetuada de forma imediata, ou seja, logo após a mastectomia. Quando não for possível, a paciente será encaminhada para acompanhamento e terá garantida a realização da cirurgia logo após alcançar as condições clínicas exigidas.

Na opinião do cirurgião plástico Luís Felipe Maatz, mesmo com a lei, o acesso às cirurgias reconstrutoras ainda é falho. “Sou totalmente a favor do direito à reconstrução mamária concedido às pacientes pela lei. Infelizmente o acesso à reconstrução pelo Sistema Único de Saúde ainda é precário em muitas partes do Brasil. Há muitos cirurgiões plásticos que são especialistas nessa área, mas o sistema público não possui uma estrutura adequada para atender a todas as pacientes”.

A reconstrução mamária é realizada através de várias técnicas para restaurar a mama, considerando forma, aparência e o tamanho; após a mastectomia, que pode ser total ou parcial (quando apenas uma parte da mama é removida).

“A mama é uma das principais marcas externas da feminilidade, e a sua perda, parcial ou total, traz prejuízos na imagem corporal e no psicológico. Quando o cirurgião plástico realiza a reconstrução mamária, atua de maneira significativa na melhora da autoestima da mulher”, opina Maatz, que também é membro da SBCP.

Segundo ele, a reconstrução envolve vários procedimentos realizados em múltiplos estágios. Saiba como são as etapas, de acordo com as normas da SBCP:

Etapa 1: medicamentos anestésicos são administrados para o conforto da paciente durante o procedimento cirúrgico. As opções de anestesia incluem sedação intravenosa e anestesia geral.

Etapa 2: utilização de técnicas de retalhos com músculo, gordura e pele próprios da paciente para criar ou cobrir o local da mama. “Às vezes, a mastectomia, ou o tratamento com radiação, podem deixar tecido insuficiente na parede torácica para cobrir e sustentar o implante mamário. O uso de implante mamário para reconstrução exige quase sempre uma ou demais técnicas de retalho ou expansão de tecido”, explica o cirurgião.  

O retalho TRAM (Retalho do Músculo Reto Abdominal) é a técnica que usa tecidos do músculo, gordura ou pele do abdômen da paciente para reconstruir a mama. O retalho pode permanecer com o suprimento sanguíneo original, com a criação de um acesso para ser posicionado na caixa torácica ou ser completamente separado para formar a nova mama.

Etapa 3: procedimento de expansão da pele saudável para dar cobertura a um implante mamário. Nesta etapa, uma espécie de balão esvaziado, chamado de expansor, é introduzido na região mamária e, periodicamente enchido para expandir o tecido. A reconstrução com expansão do tecido permite recuperação mais rápida que os procedimentos utilizando retalhos. No entanto, é um processo de reconstrução mais demorado. “Este procedimento requer muitos retornos ao consultório, por 4 a 6 meses, após a colocação do expansor, para enchê-lo através de uma válvula interna e expandir a pele. Um segundo procedimento cirúrgico será necessário para substituir o expansor, que não é concebido para servir como implante permanente”, diz o médico.

Etapa 4: é feita a cirurgia de colocação do implante mamário. O implante pode ser um complemento ou uma alternativa para técnicas de retalhos. Implantes de silicone estão disponíveis para a reconstrução. O cirurgião irá ajudar a decidir qual alternativa é melhor para cada paciente. Reconstrução com implantes geralmente requerem expansão de tecido

Etapa 5: também existem diferentes técnicas para reconstrução do mamilo e da aréola, que vão de enxertos à pigmentação local com técnica de tatuagem.

Os resultados finais da reconstrução pós mastectomia podem ajudar a minimizar o impacto físico e emocional da remoção da mama. Com o tempo, a sensibilidade da região pode voltar, e as cicatrizes tendem a melhorar, embora nunca desaparecerão completamente, pontua Maatz.  

Há algumas limitações, mas a maioria das mulheres considera que são pequenas em comparação à melhoria na qualidade de vida, observa o cirurgião. “Monitoração cuidadosa da saúde da mama através do autoexame, mamografia e demais técnicas de diagnóstico são essenciais para sua saúde a longo prazo. Antes de decidir realizar a reconstrução mamária, é fundamental buscar sempre um médico comprovadamente qualificado, experiente e que seja membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica”, aconselha o médico.

Com informações da Agência Brasil

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