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Uma forte deterioração dos fundamentos da economia brasileira está pavimentando o caminho para que a Bolsa brasileira encerre o ano na lanterna entre os principais índices de todo o mundo. O Ibovespa, o principal indicador da B3, acumula até aqui queda de 12%, ao passo que há alta em outros emergentes, como nas bolsas da China (2%) e da Índia (29%).
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Com a escalada dos juros no mercado interno, efeito direto da disparada da inflação, investidores que ao longo do ano passado aumentaram a aposta na renda variável, em busca de mais retorno, mudaram de direção retornando à já conhecida (e mais segura) renda fixa. A leitura é, ainda, de que esse cenário deve se intensificar com a chegada de uma eleição presidencial aguerrida e polarizada, que deve trazer muita volatilidade aos mercados.
VIRADA NEGATIVA
O humor do investidor inverteu a direção principalmente nos últimos três meses, depois que a retomada esperada para a economia nacional não se confirmou. Isso se refletiu em revisões contínuas das projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) pelas instituições financeiras. Na última semana, o anúncio da recessão técnica após o PIB negativo do terceiro trimestre confirmou as razões para o pessimismo.
"Em junho, quando a Bolsa chegou ao pico de 130 mil pontos, existia uma expectativa de crescimento forte da economia, de uma inflação transitória que não forçaria os juros a subirem tanto, além de uma expectativa de avanço de reformas. De lá para cá, deteriorou em todas as frentes", diz o estrategista-chefe da XP, Fernando Ferreira.
O executivo afirma que a desconfiança com o compromisso fiscal do governo federal piora o cenário, agravado desde a flexibilização do teto de gastos públicos.
O desempenho do Ibovespa é um sinal da expectativa do fraco crescimento do PIB em relação a outros emergentes no ano que vem. Conforme dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil deverá crescer 1,5% em 2022, ante 2,5% da África do Sul e 2,5% do Chile, por exemplo. A projeção do Fundo, porém, é bem mais otimista do que as estimativas de outras instituições financeiras. No boletim Focus, do Banco Central, a expectativa de alta do PIB em 2022 já está em 0,58%.
DE SAÍDA
A fuga de investidores do mercado de ações já é evidenciada em números. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que os fundos de ações registraram resgates de mais de R$ 8 bilhões em outubro e novembro, revertendo uma sequência positiva que vinha desde fevereiro. Na outra via, os fundos de renda fixa registraram uma entrada de mais de R$ 50 bilhões, no mesmo período.
Como resultado, desde o início de junho, momento em que o Ibovespa marcou a maior pontuação da sua história, o valor de mercado de todas as empresas listadas na B3 teve queda de R$ 1,33 trilhão, segundo dados da Economática.
O sócio da gestora Trafalgar, Igor Lima, aponta que o desempenho das empresas ainda se mostrou positivo, com bons efeitos nos resultados do terceiro do trimestre por conta da alta na demanda após o fim do período de isolamento social. "Mas 2022 será um ano mais complicado, os riscos fiscal e macro aumentaram muito, o que coloca em dúvida os fundamentos das empresas", diz Lima.
OUTROS MERCADOS
Na gestora Wealth High Governance (WHG), que investe globalmente, a participação do Brasil na carteira, que chegou a 10% do total em abril, vem caindo e hoje está abaixo de 5%. No sentido oposto, a China, que neste ano também não tem um desempenho muito positivo por conta das intervenções do governo chinês na economia, veio crescendo, conta o cogestor de portfólio da WHG, Daniel Gewehr.
"O investidor busca nos emergentes crescimento acima da média do mercado. Se você está desacelerando, perde esse atributo", diz Gewehr. Segundo ele, colocando na mesa apenas as ações consideradas pela gestora como as de boa qualidade, há perspectivas mais atrativas do que as hoje oferecidas no Brasil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.