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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O cantor e compositor Caetano Veloso, convidado ao centro do programa Roda Viva nesta segunda (20), disse não ver problema no uso da palavra "mulato", um termo que aparece no recente álbum "Meu Coco".
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Com a calma costumeira, Caetano falou sobre eleições e afirmou "Já estar com Lula" em 2022. Criticou a passividade da imprensa na questão da Lava Jato e declarou que suspeitava da operação, que se mostrava tendenciosa.
"Eu sou um daqueles que acompanharam com respeito mas com suspeição toda a onda da Lava Jato. Mesmo porque ela foi se revelando tendenciosa. O alinhamento político de Moro com Bolsonaro. Ele [o ex-juiz] tem dificuldade de desfazer agora, e merece enfrentar essa dificuldade... é o mínimo".
Caetano mencionou o fato da recuperação do dinheiro, resultado de ilegalidade nos contratos com a Petrobras, devolvido aos cofres públicos ter causado uma certa euforia da imprensa com relação à operação, mas que ainda permanecem alguns resquícios.
"Houve uma certa euforia da imprensa com relação à Lava Jato. E isso não me anima. A imprensa, naquela altura, foi um pouco passiva demais e pouco crítica".
O cantor, que apoiou Ciro Gomes (PDT) na campanha à presidência da República em 2018, confirmou que está decidido a votar em Lula em 2022. Perguntado sobre quem terá seu apoio nas eleições do ano que vem, Caetano foi direto: "Eu já estou de Lula, de certa forma, porque as coisas estão assim configuradas. Meu coração está com Lula e Ciro". Ciro Gomes é pré-candidato pelo PDT.
Caetano Veloso também declarou que não sabia se definir politicamente, mas que estava "à esquerda de mim mesmo".
Brasil: mais triste que feliz Caetano Veloso não concorda com algumas terminologias utilizadas para falar a respeito da raça. A palavra "mulato" é uma, que costuma ser criticada pelo movimento negro por remeter a mulas, animais incapazes de se reproduzir.
Não é assim que pensa o músico que se define como pardo.
"Tem muita gente que quer definir a terminologia que podemos usar a respeito de raça, eu não sou necessariamente obrigado a concordar", afirmou, dizendo que isso era uma tendência importada de movimentos americanizados.
"Eu sou antropófago, temos que comer e metabolizar isso, não se deixar dominar por isso. Não vejo o problema de mulato, qual o problema das mulas?"
Ele acrescentou ainda que "a miscigenação virou um mito de beleza brasileira que atrapalha certas estatísticas que precisam ser enfrentadas" e que aprendeu muito com os "movimentos relativos a raça", essenciais para superar a herança colonial do Brasil.
Caetano também afirmou que a ideia de que o brasileiro é um povo alegre era "relativamente nova" para ele.
"Aprendi desde pequeno que somos a união de três raças tristes", afirmou. "No mundo intelectualizado em Santo Amaro, essa ideia de que o Brasil era uma espécie de país triste era corrente. Os sambas mais tocados no Carnaval sempre foram histórias de amor que não deram certo."
O artista disse que "quem inventou essa ideia de Brasil feliz foi o Vinicius de Moraes", já que a bossa nova, segundo ele, teria feito as primeiras músicas de celebração de amores correspondidos.
"E hoje voltamos de novo à sofrência", disse, rindo, "o que não quer dizer que voltamos para trás."
Ainda em relação a música, ele comentou que era "meio redundante" discutir a sexualidade fluida para pessoas de sua geração, que cresceu nos anos 1960.
"Os artistas populares, de massa, estavam todos pondo em questão a autodefinição de gênero no gestual, na roupa, no cabelo. Quando eu vi o primeiro show dos Rolling Stones, em que o Mick Jagger chegou com aquela bicharia toda, achei espetacular", disse. "E eu já tinha feito algo assim nos festivais no Brasil, dançava assim com o quadril parecendo a Luísa Sonza."
Respondendo a uma pergunta sobre se a burrice tinha saído do armário no Brasil de Bolsonaro, Caetano diz que ela na verdade "pode ter muito a contribuir".
Comparando a sociedade a um "organismo mental de informação que vai se mexendo", ele afirmou que não se "pode deixar de passar pelo que a gente chama de burrice".
Só porque o sujeito é lido e intelectualizado, disse ele, "não quer dizer que ele esteja numa posição superior a aqueles que vão vivendo meio sem saber".
Em outro momento, instado a responder sobre como via a perspectiva da morte, disse que não se fiava à ideia de reencarnação.
"Somos o infinito aprisionado no finito. Sinto mais o impacto do mistério de existir, de ter consciência de que isso é finito, que eu vou acabar. Então o mundo todo vai acabar pra mim, em mim, de mim."