Lázaro Ramos, na Amazon, diz que em 2022 Brasil tem de conversar consigo mesmo

Depois de quase 18 anos na Globo, Lázaro Ramos foi um dos grandes nomes a deixar a emissora e fazer parte de uma migração de peso para gigantes do streaming

© Reprodução / Instagram

Fama LÁZARO-RAMOS 08/01/22 POR Folhapress

CAROLINA MORAESSÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Depois de quase 18 anos na Globo, Lázaro Ramos foi um dos grandes nomes a deixar a emissora e fazer parte de uma migração de peso para gigantes do streaming, que parecem apostar cada vez mais na produção nacional.

PUB

Ainda na série "Mister Brau" e em "Medida Provisória", filme que ele dirige e enfrenta enrosco para ser lançado em circuito comercial, o artista conta que começou a ver seu trabalho num híbrido entre consultoria, atuação e direção –o que o levou a desejar um cargo mais polivalente do que o que exercia na Globo.

"Fiquei em conflito durante o ano, em conversas constantes com a Globo, porque sou apaixonado pelo trabalho que tive lá o tempo todo", diz o ator em entrevista durante as gravações de "Um Ano Inesquecível - Outono", sua primeira direção para um serviço de streaming.

Agora Ramos tem um contrato de exclusividade com o Amazon Prime Video por três anos. Na empresa, conta, encontrou a possibilidade de desenvolver seus projetos em funções distintas.

O longa que será lançado em 2022 é o primeiro deles. Faz parte de uma franquia que terá outros quatro filmes, todos dirigidos por profissionais diferentes e baseados no livro homônimo de contos das autoras Thalita Rebouças, Paula Pimenta, Bruna Vieira e Babi Dewet.

Trata-se de um musical rodado em São Paulo, com os jovens protagonistas Anna Júlia e João Paulo vivendo um romance embaixo da chuva na avenida Paulista, no vão do Masp e em outros cenários típicos da cidade.

"Há um grande desafio que é entender o que é um musical desse tamanho feito no Brasil. Demorou um tempo para entender como conceituar isso", afirma o diretor, que já dirigiu outros dois musicais para o teatro. O país, afinal, acompanhou a enxurrada de musicais, principalmente americanos, que chegaram via streaming nos últimos anos e se tornaram aposta das grandes empresas da área.

"Há algumas composições inéditas, privilegiando a música feita no Brasil sem preconceito com nenhum gênero. Da música pop ao samba, pegando várias gerações de cantores e compositores que marcaram a história da nossa música", diz ele, que aponta nomes como Cassiano, Péricles, Olodum e Los Hermanos como autores de algumas das canções selecionadas.

Mas o que marca uma espécie de originalidade brasileira na produção, para ele, é a assinatura negra. "Não são músicas apenas de compositores negros, de bandas negras, mas o protagonismo é negro. Isso traz uma força que a gente tem na nossa música, inevitavelmente."

Essa assinatura também está no elenco e na equipe de "Um Ano Inesquecível - Outono". "Tenho 22 anos e esse é o primeiro grande projeto de que participo onde a maioria do elenco é negro", conta Gabz, que interpreta a protagonista.

"É algo que já deveria ter acontecido há muito tempo, porque o nosso país tem maioria negra. Quando o audiovisual não retrata isso, você não conversa nem com o seu tempo e nem com o seu país."

Lucas Leto, que vive João Paulo no longa, concorda. "Penso que a gente está caminhando para o futuro, onde a gente já debateu e muitos abriram caminhos para a gente conseguir falar de coisa nova", conta o ator.

Ramos vê mudanças em direção a equipes mais diversas olhando em retrospecto, mas avalia que não se chegou ainda aonde é possível chegar. E, de maneira bastante pragmática, o diretor avalia que essa busca de empresas de streaming e TV por diversidade vem de uma demanda de mercado.

"Estão pegando esse quinhão que durante muito tempo foi relegado, mas que é um mercado importantíssimo e gigantesco. A gente fala como se fosse só uma demanda social apenas, mas não, é também um merecimento desses profissionais todos que existem e uma demanda do mercado."

Além de montar uma equipe e elenco com maioria negra, Ramos também afirma que tem investido em pesquisas sobre como levar pautas sociais para os trabalhos a partir do entretenimento. "Gosto de falar que sou ativista, essa é a minha vida e história, mas tenho tentado encontrar artifícios do entretenimento como humor e diversão para falar desses assuntos", diz ele.

O diretor também enfrenta uma crise no lançamento de seu filme "Medida Provisória", nos mesmos moldes que o filme "Marighella", de Wagner Moura, teve com a Agência Nacional do Cinema, a Ancine.

No final de 2021, a assessoria de imprensa do longa informou que o longa segue impossibilitado de ter sua estreia no Brasil "apesar dos inúmeros recursos submetidos por suas produtoras e coprodutoras à Ancine para que ele seja liberado em circuito comercial".

Ramos conta que estão adiando a estreia do filme justamente para poder lançá-lo nos cinemas –mesmo posicionamento de Wagner Moura em relação ao seu longa. Ele também afirma que a situação da Ancine e da gestão pública da cultura no país é trágica.

"Isto é não reconhecer o potencial econômico que o audiovisual traz", diz ele. "Tem uma questão ideológica aí, de tentativa de silenciamento."Nesse cenário de agonia da indústria audiovisual no país, Ramos diz ver com bons olhos a chegada massiva das marcas de streaming no Brasil. "O mercado parou por um tempo e agora tudo que estava represado começou a sair. Não sei até quando isso dura, é um movimento também que precisa se provar viável."

"Os streamings nesse momento estão tentando pegar o seu espaço, isso só vai permanecer se der resultado, o fato é esse. Mas eu acho que nos próximos anos vai ser o que vai dar suporte para esse mercado, abandonado como está."

Nesse ano de eleições presidenciais, aliás, Ramos diz que já há discussões dentro da classe artística de como retomar o investimento em cultura num possível outro governo.

"Tenho visto várias iniciativas de forma dispersa, não é unificado, a classe artística é diversa, como é o Brasil. Temos que ver o próximo ano. É um ano muito decisivo para o Brasil voltar a conversar consigo mesmo e não ficar bebendo o drinque do autoritarismo."

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

brasil Rio Grande do Sul 22/12/24

Avião cai em Gramado; governador diz que não há sobreviventes

economia Dinheiro Há 5 Horas

Entenda o que muda no salário mínimo, no abono do PIS e no BPC

brasil ACIDENTE-MG 22/12/24

Sobe para 41 o número de mortos em acidente entre ônibus e carreta em MG

fama CHRIS-BROWN 22/12/24

Chris Brown transforma o Allianz em balada pop R&B

fama Kate Middleton Há 23 Horas

Kate Middleton grava mensagem especial de Natal

fama Patrick Swayze Há 19 Horas

Atriz relembra cena de sexo com Patrick Swayze: "Ele estava bêbado"

fama Tragédias Há 22 Horas

Modelos que morreram em circunstâncias trágicas: Um caso recente

mundo Estados Unidos Há 5 Horas

Momento em que menino de 8 anos salva colega que engasgava viraliza

fama Mal de parkinson Há 20 Horas

Famosos que sofrem da doença de Parkinson

mundo Guerra na Ucrânia Há 23 Horas

"Vão lamentar". Putin promete mais destruição na Ucrânia