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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Está cada vez mais difícil separar as indústrias culturais e criativas da economia digital, dado que suas cadeias de valor ficam cada vez mais interligadas. Produtores de filme, vídeo, música e outras manifestações artísticas impulsionam a audiência de plataformas de streaming e de redes sociais, num processo que já se desenhava antes da pandemia, mas que foi acelerado por ela.
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Embora esse fenômeno não seja propriamente uma novidade, sua tradução em números dá a dimensão de quanto o setor criativo está ligado à tecnologia. Em 2016, somando todos os espectadores da Netflix num determinado minuto, o resultado era equivalente a mais de 69 mil horas de conteúdo, número que passou para 584 mil horas no ano passado. Neste período, usando o mesmo raciocínio, o Spotify passou de 38 mil horas tocadas para quase 197 mil.
Já o Instagram viu seu número de posts por minuto aumentar mais de cinco vezes nos últimos cinco anos –de 38 mil para 197 mil. O crescimento do Twitter foi, contudo, um pouco mais modesto no período, de 347,2 mil posts por minuto para 381,5 mil.
As informações estão na terceira edição do relatório "Re|Shaping Policies for Creativity", ou reformando políticas para a criatividade, produzido pela Unesco e divulgado nesta terça-feira. A Unesco é o braço da Organização das Nações Unidas para educação, ciência e cultura, e o estudo é publicado a cada quatro anos, registrando os avanços e dificuldades do setor criativo globalmente.
O papel cada vez mais forte das plataformas digitais na produção e distribuição de conteúdo levanta uma questão, diz o relatório. "É a ameaça do oligopólio, que poderia recriar a função de guardião que as empresas de mídia tradicional desfrutavam quando um punhado de controladores de rede de TV e rádio decidiam efetivamente sobre o conteúdo. Desta vez, porém, o oligopólio existiria em nível global e não nacional."
"Embora nunca tenha sido tão fácil compartilhar arte e criatividade com o mundo, paradoxalmente, nunca foi tão difícil ser pago para isso", acrescenta o estudo, afirmando que os atuais modelos de monetização no ambiente digital não são sustentáveis para a maioria dos artistas.
O estudo cita como exemplo as constantes reclamações de compositores e músicos referentes às pequenas quantias de dinheiro geradas pelo streaming, um problema agravado durante a pandemia, momento no qual os músicos foram impedidos de se apresentar ao vivo e passaram a contar mais com o sob demanda.
"Os serviços de streaming, e o Spotify em particular, reviveram as fortunas da indústria global de música gravada, retornando-a ao lucro e ao crescimento após muitos anos de declínio. No entanto, são as gravadoras que mantêm a maior parte das receitas de streaming depois que as plataformas recebem sua parte", diz o estudo.
O documento também traz dados de macroeconomia. Os setores cultural e criativo são responsáveis por 3,1% do PIB global e 6,2% dos empregos. A área é uma das mais jovens e que mais cresce em termos econômicos no mundo, mas também uma das mais vulneráveis e com frequência esquecida pelo investimento público e privado.
Foram perdidos 10 milhões de empregos no setor em 2020, devido à pandemia, diz o relatório, acrescentando que o investimento público no setor vem caindo na última década. Por fim, o estudo afirma que as ocupações criativas são em geral instáveis e pouco regulamentadas.