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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O número de abortos realizados no estado do Texas caiu 60% depois da entrada em vigor da lei que é considerada a mais restritiva dos Estados Unidos em relação a esse direito, previsto pela Suprema Corte do país.
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Dados divulgados nesta quinta (10) pela Comissão de Serviços de Saúde do estado permitiram demonstrar pela primeira vez o impacto mais direto da legislação, que proíbe a interrupção da gravidez depois que batidas do coração do feto forem detectadas, o que acontece em torno da sexta semana de gestação -momento em que muitas mulheres ainda nem sabem que estão grávidas. Não há exceção para gestações resultantes de estupro ou incesto.
Em setembro do ano passado, quando passou a valer o texto, foram feitos 2.200 abortos no Texas, de acordo com o órgão estadual, ante mais de 5.400 realizados em agosto. Os dados passarão a ser divulgados mensalmente.
A agência Associated Press destacou que médicos do estado que costumavam realizar esse procedimento relataram uma queda substancial de pacientes nos últimos cinco meses e que muitas mulheres se viram obrigadas a viajar para outros locais, hoje sobrecarregados com a demanda extra.
Pela lei em vigor no Texas, qualquer um pode processar clínicas e quem tiver auxiliado o aborto -como a pessoa que pagou pelo procedimento ou até o motorista de táxi que levou a mulher até o local, algo sem precedente no país. O denunciante nem precisa morar no estado ou ter qualquer relação com a grávida e ainda pode receber ao menos US$ 10 mil (o equivalente a mais de R$ 55 mil) de indenização paga pelo réu.
A associação Planned Parenthood emitiu um comunicado sobre os números divulgados nesta quinta dizendo que eles "são apenas o começo de um impacto devastador" da lei.
O aborto é um dos temas que mais geram polarização nos EUA. Políticos conservadores e republicanos tendem a defender a proibição, enquanto democratas e progressistas apoiam que a prática seja liberada. Nos últimos anos, estados governados por republicanos adotaram regras para cercear o direito ao aborto, especialmente no Sul e no Meio-Oeste.
Em dezembro, a Suprema Corte indicou que poderá mudar seu entendimento sobre o direito ao aborto e, assim, abrir espaço para novas restrições à prática, no que seria uma reversão histórica da decisão Roe vs. Wade, que liberou o procedimento, há quase 50 anos.