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RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ao menos 104 pessoas, incluindo duas crianças, morreram devido ao forte temporal que atingiu na tarde desta terça (15) a cidade de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, causando inundações, enxurradas e deslizamentos.
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Até a tarde desta quarta (16), a Defesa Civil Municipal contabilizou 325 ocorrências: 269 deslizamentos de terra e 56 desabamentos e quedas de muro e árvores. As equipes ainda trabalham nos resgates, pois há grande dificuldade de acesso em alguns locais.
No total, 439 pessoas estão sendo acolhidas em 33 escolas públicas do município. O governo do estado também informou que 24 pessoas foram salvas com vida e que um hospital de campanha com dez leitos foi montado para oferecer os primeiros atendimentos.
A tragédia acontece na mesma região onde, 11 anos atrás, ao menos 918 pessoas morreram em outra tempestade de verão, numa das maiores catástrofes do país. Até hoje há divergências no número de desaparecidos, e casas interditadas voltaram a ser ocupadas.
De acordo com as autoridades, choveu nesta terça em apenas seis horas (260 mm) o equivalente aos últimos 30 dias (272 mm), e ainda deve chover mais. A previsão para a cidade é de pancadas moderadas isoladas durante a tarde e a noite, e de chuva forte na quinta (17) e na sexta (18).
No dia anterior ao temporal, a Defesa Civil do Rio de Janeiro recebeu um alerta da possibilidade de deslizamentos pontuais na região. Segundo Paulo Artaxo, professor titular do Instituto de Física da USP, o governo estadual deveria ter evacuado a cidade.
A prefeitura decretou estado de calamidade pública e luto oficial por três dias, estando ainda em alerta máximo. A Defesa Civil municipal orienta que a população fique atenta aos informes e que, em caso de emergência, ligue para o número 199.
As regiões do primeiro distrito foram as mais afetadas, sendo as ocorrências mais graves registradas nos locais Morro da Oficina, 24 de Maio, Caxambu, Sargento Boening, Moinho Preto, rua Uruguai, rua Washington Luiz, Coronel Veiga, Vila Militar, Vila Felipe, avenida Portugal e rua Honorato Pereira.
"Há uma grande equipe concentrada no Morro da Oficina, onde acreditamos ter o maior número de vítimas ainda soterradas. Estamos com 400 militares mobilizados e atuando em 44 pontos atingidos pelo temporal", disse no local o secretário de Estado de Defesa Civil, coronel Leandro Monteiro.
Ali, por exemplo, há imagens de crianças sendo retiradas sujas de lama de uma escola, parcialmente destruída. Vídeos que circulam nas redes sociais também mostram carros sendo arrastados pela correnteza e grandes deslizamentos.
Moradores relatam que, após o temporal, encontraram um cenário de guerra nas ruas de Petrópolis, com muita lama, casas destruídas ou alagadas, ferro retorcido e carros amontoados ou destruídos. Famílias passaram a procurar seus parentes e amigos nas ruas e hospitais, além de divulgarem fotos nas redes sociais.
Os corpos começaram a ser retirados durante a madrugada, depois que o nível da água baixou, mas ainda não há certeza sobre o número de desaparecidos. A Delegacia de Descoberta de Paradeiros está recebendo quem busca informações sobre familiares, e o Instituto Médico Legal (IML) local trabalha para identificar as vítimas encontradas.
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro já cadastrou até o início da noite desta quarta-feira (16) 35 pessoas desaparecidas em razão dos deslizamentos. As comunicações estão sendo recebidas pelo Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos.
As autoridades também atuam para resgatar outras vítimas, desobstruir estradas e atender pessoas que perderam seus bens, com medicamentos e remoções. Um hospital de campanha foi montado, e oito ambulâncias fazem ações de socorro e transferências de pacientes.
As famílias desalojadas e desabrigadas estão sendo cadastradas pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos. As que já foram abrigadas estão em escolas nas regiões do Centro, São Sebastião, Vila Felipe, Alto Independência, Bingen, Dr. Thouzete e Chácara Flora.
Batalhões da Polícia Militar funcionam como pontos de recolhimento de doações para as vítimas da chuva em todo o estado. A corporação diz que água mineral e itens de higiene pessoal são necessários neste momento.
"É uma situação quase que de guerra. Toda a nossa equipe está mobilizada: Corpo de Bombeiros, secretarias e demais órgãos do estado", afirmou o governador Cláudio Castro (PL), que está no local e participa de reuniões com secretários estaduais e com o comandante-geral dos Bombeiros.
São usados 20 caminhões, 20 retroescavadeiras, 10 escavadeiras hidráulicas, 10 carros-pipa e 5 caminhões vacoll (que suga detritos). Uma equipe da Delegacia do Consumidor também fiscaliza uma possível supervalorização de preços em estabelecimentos comerciais.
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), afirmou que pôs toda a estrutura do município à disposição do prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo, para auxiliar nas operações.
Nas redes sociais, Bomtempo disse que tinha acabado de chegar a Brasília quando ficou sabendo das chuvas e que por volta das 22h já estaria de volta a Petrópolis. "Estamos passando por uma situação de extrema gravidade e direcionamos todos os esforços para garantir o socorro da população", disse.
Ele afirmou que ligou para empresas e empreiteiros pedindo máquinas, caminhões e pessoal para auxiliar na recuperação da cidade. "Quero dizer para o nosso povo aguentar firme, que se Deus quiser essa chuva vai passar, a gente vai conseguir dar uma resposta", afirmou.
O presidente Jair Bolsonaro (PL), em visita à Rússia, classificou a chuva como tragédia e afirmou em suas redes sociais que contatou os ministros Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Paulo Guedes (Economia) para auxiliar imediatamente as vítimas.