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(FOLHAPRESS) - Reunidos no início deste mês em um evento em São José do Rio Preto (SP) diante de uma plateia de centenas de prefeitos e vereadores do interior, o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB) elogiou o secretário da Agricultura e Abastecimento, Itamar Borges (MDB), pelo salto no orçamento da pasta.
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Ocupada pelo MDB desde junho do ano passado, a secretaria do governo João Doria (PSDB) multiplicou por 15 seus gastos em 2021 com distribuição de tratores e veículos para cidades paulistas e com aumento nos auxílios e créditos para produtores rurais.
A entrega das benesses ocorre às vésperas da eleição deste ano, em que Doria pretende concorrer à Presidência da República e Garcia à sua sucessão no Palácio dos Bandeirantes -e no momento em que os tucanos trabalham para atrair o MDB para sua aliança.
No total, o Orçamento de 2021 previa R$ 770 milhões para a Agricultura, sendo R$ 81,8 milhões em investimentos -descontados gastos com custeio. O ano terminou com R$ 2 bilhões pagos pela pasta, sendo R$ 1,2 bilhão em investimentos.
"Isso graças ao dinamismo do Itamar", disse Garcia, citando valores e sendo aplaudido pelo público. O vice e Borges têm em comum a região de Rio Preto como base eleitoral.
Em 2020, a pasta encerrou o ano com R$ 59 milhões investidos. No ano anterior, foram R$ 80,7 milhões.
Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, em um movimento para ampliar sua articulação política, Doria trocou o comando da Agricultura ao retirar um nome técnico e sem vínculos partidários e nomear o então deputado estadual do MDB –uma forma de agradar a sigla aliada e acenar para uma coligação.
Membros do governo Doria admitem que a nomeação de Borges foi um gesto ao MDB, mas afirmam não haver ligação entre a multiplicação de repasses e a eleição.
Embora nos bastidores o secretário seja aventado como um possível vice na chapa de Garcia, tucanos dizem que ele deve concorrer à reeleição como deputado estadual.
Procurado pela reportagem, Borges afirmou que deixará o posto em abril para ser candidato a deputado estadual e que nunca tratou da possibilidade de ser vice.
Ele diz que o MDB deve apoiar Garcia, mas que foi escolhido secretário por compor a base do governo, pela experiência como prefeito e pela liderança da frente agro na Assembleia, e não por questões partidárias.
Borges também nega que a ampliação do orçamento tenha caráter eleitoral. "Doria e Garcia me pediram para buscar o plano de governo e colocar em prática o que não havia sido executado. Eu fiz o orçamento de tudo em 90 dias. Ocorre que os equipamentos não são entregues em tempo curto", diz.
"Tem entregas previstas até o fim de 2022, quando eu já vou ter deixado a pasta", completa.
No evento em Rio Preto, Garcia disse ainda que o emedebista, levado para o governo para ampliar o apoio político pelo interior, é responsável por uma "revolução no agronegócio". Doria tenta ganhar terreno na área, dominada por bolsonaristas críticos ao governador.
Só naquele dia, Garcia e Borges distribuíram 100 caminhonetes do programa Segurança no Campo para 90 cidades, autorizaram obras em estradas rurais de 17 cidades pelo programa Melhor Caminho e entregaram 111 mapeamentos físicos e digitais de propriedades rurais de sete regiões no programa Rotas Rurais.
O emoji de trator usado por Borges nas redes sociais reflete o principal gasto da pasta com investimentos em 2021, um total de R$ 974 milhões em tratores, caminhonetes, retroescavadeiras e caminhões. Em 2020, os gastos com equipamentos foram de R$ 16 milhões.
Segundo a secretaria, os programas Frota Agro e Pró-Trator distribuíram, desde 2019, 305 equipamentos para 220 cidades -a reportagem verificou que a maioria foi entregue a aliados de PSDB, DEM, PSD e MDB.
Para este ano eleitoral, porém, a quantidade prevista é inédita: um total de 500 kits com quatro a nove veículos. A lista de cidades beneficiadas ainda não foi divulgada.
Os auxílios, que incluem crédito para produção, subsídio de juros e seguro contra pandemia, seca e geadas, chegaram a R$ 225,7 milhões em 2021, contra R$ 43 milhões no ano anterior.
Desde que assumiu a secretaria, Borges já protagonizou quatro grandes eventos em Rio Preto, cidade administrada pelo MDB e onde mantém um escritório político. O secretário é ex-prefeito de Santa Fé do Sul, a 190 km de Rio Preto. Já Garcia é natural de Tanabi, a 40 km da principal cidade da região.
Em dezembro, o presidente do MDB, deputado federal Baleia Rossi (SP), acompanhou Garcia e Borges em um evento em sua base, Ribeirão Preto -cidade administrada pelo PSDB. Foram entregues 72 viaturas do programa Segurança no Campo.
O MDB lançou a senadora Simone Tebet (MS) à Presidência da República e mantém conversas com o PSDB. Os dois partidos iniciaram tratativas para a formação de uma federação, mas dirigentes admitem que o acerto não deve se viabilizar.
Baleia Rossi, que tem relação próxima com Doria e Garcia, sinaliza apoio ao vice-governador, mas evita se comprometer com a campanha presidencial tucana –o presidente diz apostar em Tebet.
Doria tem dificuldades em atrair partidos aliados estacionado com cerca de 4% nas pesquisas.
Depois de vencer as prévias do PSDB em novembro, Doria agora enfrenta uma dissidência de tucanos que planeja a troca do presidenciável do PSDB pelo governador gaúcho, Eduardo Leite.
Tucanos do entorno de Doria afirmam que o aumento de gastos na pasta emedebista não tem viés eleitoral e atribuem a multiplicação de verba ao aumento da arrecadação em 2021.
De maneira geral, todas as secretarias tiveram seus investimentos revistos para cima diante da maior arrecadação –numa média de 4 vezes, contra 15 da Secretaria de Agricultura.
Emedebistas e auxiliares de Doria afirmam que o acordo com o MDB independia do valor de que a pasta disporia e que, se fosse essa a questão, o partido teria ficado com uma secretaria que movimenta mais verba, como transportes ou educação.
"Evidentemente Itamar é um ótimo nome, mas isso não foi feito com cunho eleitoral", afirma o presidente do PSDB de São Paulo, Marco Vinholi. Para ele, o que determinará uma aliança com o MDB é a proximidade programática dos partidos.
Adversário de Doria e atuante no setor agro, o deputado estadual Frederico d'Ávila (PSL), que é apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), afirma que as benesses no campo não devem ser suficientes para alavancar a candidatura de Doria.
"A secretaria foi dada ao MDB justamente pelo partido ter votado a favor do PL 529, que criou impostos para fertilizantes, insumos e equipamentos. Então o governo enfia a mão pela esquerda e dá com a direita", diz o deputado.
Depois da repercussão ruim, o governo Doria voltou atrás na maior parte de aumento de impostos no setor. "Essa enxurrada de entregas é para competir com o governo federal, com a ministra Tereza Cristina, que vem fazendo isso em todo o Brasil", completa d'Ávila.
Outros deputados ouvidos pela reportagem dizem acreditar que os ganhos eleitorais das entregas de equipamentos recaem sobre Garcia e o MDB, mais do que sobre Doria, que é visto como uma âncora na candidatura do vice.
Procurado pela reportagem, Baleia Rossi elogiou os programas da secretaria e afirmou que as entregas aos municípios seguem critérios técnicos. "Isso demonstra que, quando colocam na secretaria alguém responsável e trabalhador, as coisas andam."
Para o cientista político Humberto Dantas, coordenador da pós-graduação em ciência política da FESPSP, Garcia deve ser bem mais beneficiado eleitoralmente do que Doria devido à concentração das entregas no território paulista.
"O que se quer é o prefeito, vice-prefeito e vereadores agradecendo, e depois pedindo voto", afirma.
Dantas diz ainda que o aceno ao agronegócio é importante, uma vez que há uma guerra entre os demais políticos pelo apoio desse setor que é visto como "o Brasil que está dando certo".
Questionada sobre os aumentos de gastos, a Secretaria da Agricultura afirma que a compra dos kits de veículos foi planejada no ano passado, em momento de recuperação econômica para auxiliar pequenos e médios produtores após a crise da Covid-19.
"O governo do estado prepara-se para apresentar, em breve, o cronograma para distribuição dos veículos, a partir de critérios técnicos e transparentes", diz a gestão, em nota.