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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Trabalhadores municipais limparam o lixo e rebocaram caminhões neste domingo (20) da capital do Canadá, Ottawa, calma pela primeira vez em três semanas depois que uma megaoperação policial encerrou um bloqueio de manifestantes antivacina.
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Os organizadores do protesto usaram centenas de caminhões e veículos para bloquear o centro da cidade desde 28 de janeiro. Como reação, a polícia prendeu ao menos 191 pessoas em dois dias de intervenção -no que se tornou uma das maiores crises do mandato do premiê Justin Trudeau.
Na manhã deste domingo, vários postos de controle da polícia restringiam o acesso a uma grande área do centro de Ottawa, enquanto forças de segurança ocupavam o terreno que havia sido usado pelos caminhoneiros.
A polícia de Ottawa emitiu um lembrete para proibir o tráfego naquele perímetro, exceto para residentes e trabalhadores locais. Segundo os agentes, até agora 57 veículos foram rebocados para fora da cidade.
Após serem expulsos, muitos deles disseram à agência de notícias AFP que continuariam lutando por sua causa.
Os atos começaram se opondo a medidas sanitárias decretadas para conter a pandemia de Covid-19 e acabaram com manifestantes pedindo a queda de Trudeau. Pressionado, ele declarou estado de emergência nacional, o que permite ao governo usar a força contra os manifestantes.
Neste sábado (19), a polícia usou spray de pimenta e granadas de efeito moral nos manifestantes que ainda permaneciam na área em frente ao parlamento. Outros manifestantes abandonaram posições em outras partes do centro da cidade durante a noite.
Os presos até agora enfrentam 389 acusações criminais diferentes, incluindo obstrução da atuação da polícia, desobediência a ordem judicial, posse de arma e agressão à polícia, disse o chefe de polícia interino de Ottawa, Steve Bell, a repórteres.
Bell também afirmou que manifestantes que deixaram a cidade mas foram filmados pela polícia também podem ser responsabilizados.
"Vamos procurar identificá-los e avaliar sanções financeiras e acusações criminais. Esta investigação vai continuar nos próximos meses", afirmou.
Durante os últimos dois dias de protestos, um grupo fechou uma passagem ao sul de Vancouver, na Colúmbia Britânica, onde vários repórteres de TV foram insultados por manifestantes. O ministro da Indústria do Canadá, François-Philippe Champagne, condenou o ato no Twitter.
Como parte estado de emergência nacional, os suspeitos de apoiar os bloqueios podem ter contas congeladas sem a necessidade de ordem judicial. Até agora, 206 contas bancárias e corporativas foram congeladas, disse a polícia, acrescentando que ainda estava coletando informações sobre empresas e pessoas.
O chamado Comboio da Liberdade começou há um mês contra a obrigatoriedade de se vacinar para cruzar a fronteira com os Estados Unidos. Com o passar dos dias, ganhou adeptos e inspirou protestos semelhantes em outros países.
Pelo menos três líderes dos protestos foram detidos e 32 milhões de dólares canadenses em doações e contas bancárias vinculadas ao movimento foram congelados.
Alguns deles, com histórico militar e em organizações de direita, orquestraram uma ocupação disciplinada e altamente coordenada, segundo reportagem do The New York Times.
A equipe inclui ex-policiais, veteranos militares e ativistas conservadores, colaboração que ajudou a transformar uma manifestação contra a obrigatoriedade das vacinas em uma força que desestabilizou a cidade de Ottawa e enviou ondas de choque por todo o Canadá.
Principal face pública da manifestação, a ex-instrutora de ginástica Tamara Lich desempenhou um importante papel na organização de uma campanha no site GoFundMe que arrecadou US$ 7,8 milhões (R$ 40,3 milhões) para os protestos antes que o site de vaquinhas a fechasse, após receber "relatos policiais de violência e outras atividades ilegais".
Lich tem laços com o Partido Maverick, pequeno grupo de centro-direita com sede em Calgary criado para promover a separação de três províncias do resto do país.
O ministro da Segurança Pública, Marco Mendicino, alertou nesta semana que uma parte dos manifestantes "tem uma forte ligação com uma organização de extrema direita que tem líderes em Ottawa".