© Cesar Itiberê/PR
(FOLHAPRESS) - Com o fim da janela que permitiu aos deputados trocarem livremente de partido, o PSD de Gilberto Kassab e o PT de Luiz Inácio Lula da Silva chegam a uma fase de definições rumo às eleições de outubro.
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De um lado, Kassab assegura que segue disposto a ter uma candidatura própria à Presidência da República. De outro, o PT vai atrás do dirigente em busca de apoio, embora alguns petistas estejam céticos sobre uma aliança no primeiro turno.
Para eles, o mais certo por ora é o apoio do PSD a Lula somente em um eventual segundo turno.
"Vou procurá-lo após a janela partidária [que se encerrou na última sexta-feira]. Entendo as dificuldades do PSD no primeiro turno e vamos respeitar os encaminhamentos do partido", disse a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR).
No encontro, a dirigente pretende tratar do apoio no primeiro turno, embora internamente líderes petistas reconheçam ser difícil isso se consolidar.
"Os partidos têm legitimidade e dever de procurarem se fortalecer, se não, por que existiriam? Admiro a disposição de Kassab de organizar e fortalecer um partido. É o que faço como presidenta do PT", diz Gleisi.
Kassab tem dito em conversas reservadas nos últimos dias que ter uma candidatura própria é uma diretriz do partido. Com o fim da janela partidária, a solução terá de ser caseira, isto é, por alguém que já esteja no PSD.
Um nome citado como opção para a candidatura presidencial é o do próprio Kassab.
O presidente do PSD já teve ao menos duas investidas nacionais fracassadas após naufragar o desejo de filiar o ex-governador Geraldo Alckmin para a disputa ao governo de São Paulo –o ex-tucano se filiou ao PSB e deve ser o vice na chapa de Lula.
A primeira delas, a intenção de lançar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ao Palácio do Planalto, falhou depois que o senador recuou da ideia.
Após a negativa de Pacheco, Kassab buscou filiar o governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB-RS) à sigla com o propósito de ser candidato à Presidência. Leite, porém, recusou o convite e optou por ficar no PSDB, em que tentará trilhar um caminho como candidato ao Planalto, apesar de o governador João Doria (PSDB-SP) ter vencido as prévias tucanas.
Na semana passada, o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung também sinalizou que declinaria um eventual convite para se filiar e ser candidato pelo partido, segundo integrantes do PSD. Hartung era citado como uma opção para a função.
Mesmo assim, o presidente do PSD garantiu a correligionários em conversa nesta semana que não tomará partido entre Jair Bolsonaro (PL) ou Lula no primeiro turno e que a legenda seguirá em busca de mais um nome ao Planalto, o quarto.
A prioridade do dirigente partidário para 2022 é eleger uma bancada robusta no Congresso. Nas conversas com integrantes do PT, ele tem estabelecido como meta eleger cerca de 20 senadores e 45 deputados – hoje ele tem 11 senadores e subiu de 35 para mais de 40 deputados após o troca-troca.
A decisão de não apoiar Lula no primeiro turno também evitaria um racha dentro do PSD, que tem tanto apoiadores do petista como aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL).Alguns cardeais do partido, inclusive, já declararam voto. Os senadores Omar Aziz (PSD-AM) e Otto Alencar (PSD-BA), por exemplo, afirmam que vão votar em Lula.
Para o PT, uma aliança com o PSD significaria mais espaço na propaganda eleitoral e a atração de um partido de centro à sua coligação.
Para atraí-los, além de concessões regionais, Lula propôs a filiação de Alckmin ao partido para que ele fosse o vice na chapa.
Petistas também sinalizaram que poderiam apoiar a reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à presidência do Senado.
O PT, porém, foi avisado desde o ano passado pelo próprio Kassab que ele pretendia ter candidatura própria no primeiro turno. O dirigente reafirmou a intenção em entrevistas públicas na semana passada.
Se o PSD definir um nome para lançar na disputa presidencial, o campo que quer ser alternativa à polarização eleitoral entre Lula e Bolsonaro ficará ainda mais disperso.
Com Sergio Moro, que se filiou à União Brasil sob pressão para não ser candidato à Presidência, estão no campo da chamada terceira via Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB-SP), a senadora Simone Tebet (MDB) e o deputado federal André Janones (Avante).
Eduardo Leite (PSDB-RS) também corre por fora para tentar se viabilizar. A ideia desses partidos é tentar escolher alguém até meados do ano para fazer frente a Lula e Bolsonaro. "
Na semana passada, o campo sofreu abalos com duas movimentações relevantes.
Doria ensaiou se manter no cargo de governador de São Paulo e abandonar a pretensão de concorrer ao Planalto, mas recuou horas depois e manteve a candidatura –vista com desconfiança após a oscilação que irritou inclusive seus apoiadores.
Já Moro chegou a divulgar uma nota na qual anunciou que abria mão, neste momento, da disputa à Presidência.
O ex-juiz filiou-se à União Brasil sob pressão de ala do partido para desistir de disputar a Presidência e teve de ceder, mesmo que momentaneamente, para evitar que sua filiação fosse questionada e até mesmo inviabilizada.
Na sexta-feira (1º), porém, Moro recuou e afirmou que não havia "desistido de nada". Em seguida, outra ala do partido decidiu questionar a filiação do ex-magistrado.
Por fim, os dirigentes do partido divulgaram uma nota no sábado afirmando que desistiriam de questionar a filiação, mas pontuando que o projeto de Moro é em São Paulo. Ou seja, indicando uma possível candidatura a deputado federal ou a senador. Aliados do ex-ministro, porém, dizem que sua pretensão presidencial continua de pé.