Menos de 1 a cada 5 jovens de 16 e 17 anos tirou o título de eleitor

Em comparação com março de 2018, a queda é de 32%. Ela chega a 60% quando observado o número de adolescentes que se registraram para participar no pleito de 2004.

© Shutterstock

Brasil POLÍTICA-JOVENS 10/04/22 POR Folhapress

GÉSSICA BRANDINO E FLÁVIA FARIASÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A menos de um mês para o dia 4 de maio, quando termina o prazo para emissão do título de eleitor, pouco mais de 1 milhão de jovens de 16 e 17 anos se cadastraram para votar. Isso representa menos de 1 a cada 5 adolescentes dessa faixa etária no país.

PUB

Em comparação com março de 2018, a queda é de 32%. Ela chega a 60% quando observado o número de adolescentes que se registraram para participar no pleito de 2004.

Naquele ano, eles chegavam a 2,3% do eleitorado, fatia que diminui desde então e pode ficar abaixo de 1% pela primeira vez.

O voto no Brasil é obrigatório a partir dos 18 anos. Para quem tem mais de 16 anos o voto é facultativo, assim como é para maiores de 70 anos e analfabetos. Quem tem 15 anos, mas faz aniversário até a data do primeiro turno, marcado para 2 de outubro, também pode fazer o cadastramento.

Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que há vários fatores que contribuem para a baixa participação registrada até o momento.Entre eles está o envelhecimento da população brasileira. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a proporção de jovens de 16 e 17 anos caiu 34,4% nos últimos 18 anos.

Doutor em demografia e pesquisador aposentado do instituto, José Eustáquio Alves Diniz explica que esse movimento é observado desde a década de 1990, com a queda da taxa de fecundidade a partir do início dos anos 1970, e que a tendência é de diminuição da proporção de jovens entre os brasileiros. Mesmo assim, a queda no cadastro eleitoral nessa faixa etária é mais rápida.

"É uma conjugação de dois fatores: o fator demográfico, porque está diminuindo o número de jovens no Brasil, e o político, porque está diminuindo o número de interessados em participar das eleições no Brasil", diz ele, destacando que o maior peso no eleitorado é das mulheres acima de 30 anos.

Analista de enfrentamento à desinformação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Diogo Cruvinel afirma que, além do aspecto demográfico, a pandemia da Covid-19 também prejudicou o desenvolvimento de ações educativas.

"A Justiça Eleitoral, ao longo dos anos, sempre fez campanhas nas escolas justamente com a intenção de incentivar o alistamento desses jovens. Com a pandemia, as aulas presenciais foram suspensas nos últimos dois anos e isso pode ter influenciado nessa queda", diz.

Cruvinel destaca ainda o perfil da eleição, pois a participação da população, de forma geral, costuma ser maior nas eleições locais, quando são definidos prefeitos e vereadores, a política está mais próxima e as pessoas estão mais envolvidas.

Para cientistas políticos, há ainda o fator do desencontro entre o discurso de partidos e pré-candidatos e aquilo que preocupa o eleitor dessa faixa etária.

"Esse público é muito simpático a causas que dizem respeito à defesa de minorias, políticas de diversidade sexual, uma agenda voltada à questão ambiental, que não são muito palatáveis para muitos partidos políticos", afirma Eduardo Grin, cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas.

Somado a esse aspecto, ele destaca que entre o público jovem há a percepção de que a política partidária não tem sido a melhor via para buscar soluções coletivas. A incapacidade de modernização dos partidos para falar com essa faixa etária e o aumento da polarização ao longo do governo Bolsonaro também são outros pontos que afastam o eleitor.

"O jovem pensa que, se a política é essa coisa odiosa, isso não me interessa e vou buscar outros caminhos para atuar na esfera política", diz.

Diretora do Movimento Voto Consciente, que até a pandemia desenvolvia ações de conscientização política em escolas da rede pública, a cientista política Joyce Luz diz que falta ensino sobre o tema para que os jovens compreendam como a política está presente na vida deles e qual a importância do voto.

"O que chega até o jovem são as notícias sobre polarização, brigas, disputas políticas, que são consequências de uma estrutura", diz."Quando você aproxima o jovem da realidade política e insere ele dentro de ações que fazem parte do cotidiano dele, ele passa a se interessar", citando exemplos de diálogos que teve com estudantes em sala de aula sobre a falta de professores nas escolas públicas e o papel dos eleitos para resolver a questão.

Em março, o TSE promoveu a semana do Jovem Eleitor, com tuitaço com a hashtag #RolêdasEleições e adesões espontâneas de artistas e jogadores de futebol. No mesmo mês, a cantora Anitta, a ex-BBB Juliette Freire e até o ator americano Mark Ruffalo usaram as redes sociais para incentivar os adolescentes.

A mobilização teve efeito, e o número de títulos emitidos cresceu quase 26% em comparação a fevereiro, quando cerca de 835 mil jovens de 16 e 17 anos tinham se cadastrado.

A emissão do título de eleitor pode ser feita de forma online pela página TítuloNet do TSE ou presencial, no cartório eleitoral mais próximo. Para isso, basta apresentar a documentação obrigatória. Não é necessário autorização de responsáveis legais para solicitar o documento.

O TSE segue com campanhas de incentivo à participação de jovens e pessoas negras de forma permanente mesmo fora do período de alistamento eleitoral, como prevê a legislação. Com foco nos adolescentes, o órgão passou a desenvolver conteúdo em redes sociais como o TikTok.

Cruvinel diz que o papel da corte não é obrigar quem é mais jovem a participar do pleito, mas conscientizar sobre a importância da participação política.

"A gente tem que mostrar para o jovem que essa participação política vai ter reflexos na vida dele. Existe um motivo para ele se sentir estimulado a tirar o título e votar que é eleger representantes que vão decidir aquelas pautas que nos atingem diretamente no dia a dia, principalmente ligadas à educação, mercado de trabalho e economia."

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

economia pacote fiscal Há 23 Horas

Pacote Fiscal: Veja o que o Congresso manteve ou alterou nas medidas do governo

fama Rio de Janeiro Há 23 Horas

Mário Gomes volta à mansão após despejo

fama PRETA-GIL Há 18 Horas

Madrastra atualiza estado de saúde de Preta Gil e fala em recuperação lenta

brasil BR-116 Há 17 Horas

Acidente com ônibus, carreta e carro deixa 38 mortos em Minas Gerais

fama Vanessa Carvalho Há 18 Horas

Influenciadora se pronuncia após ser acusada de trair marido tetraplégico

esporte CBF-DENÚNCIAS Há 19 Horas

Presidente da CBF demite diretor que é amigo de Ronaldo por justa causa

esporte DENÍLSON-JOGADOR Há 22 Horas

Denílson se despede da Band após 14 anos na emissora

fama ROBERTO-CARLOS Há 22 Horas

Em possível último especial na Globo, Roberto Carlos dá mais ibope que sertanejo

fama Nicole Bahls Há 23 Horas

'Não me sinto confortável', diz Nicole Bahls sobre ser mãe

fama RODRIGO-FARO Há 21 Horas

Rodrigo Faro grava último programa na Record e se despede