Presidente do México convoca referendo sobre seu mandato para reafirmar poder

O chamado foi do próprio AMLO, como o líder é conhecido.

© Getty Images

Mundo MÉXICO-GOVERNO 09/04/22 POR Folhapress

SYLVIA COLOMBOBUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - O mandato do presidente Andrés Manuel López Obrador só termina em 2024, mas os mexicanos foram convocados a ir às urnas neste domingo (10) dizer se querem que o esquerdista continue no cargo.

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O chamado foi do próprio AMLO, como o líder é conhecido. A figura do referendo revogatório está na Constituição desde 2019, mas não é obrigatória e nunca foi usada. O mecanismo pode ser acionado pelo presidente –por meio do recolhimento de assinaturas, realizado pelo seu partido– ou pelo Congresso.

Desde o início da gestão, o esquerdista vem usando sua alta popularidade como recurso para pressionar o Parlamento em favor de reformas que gostaria de ver aprovadas. A pesquisa mais recente, divulgada no domingo passado (3) pelo instituto Poligrama, lhe dá 66,7% de aprovação; outra, do Mitofsky, indica 60,4%.

Não surpreende, então, que uma terceira sondagem, encomendada pelo jornal El Financiero, mostre que 52% dos mexicanos afirmam que o referendo é desnecessário. No caso de uma derrota de AMLO, com uma maioria pelo "não", o Congresso tem 30 dias para decidir quem terminará o mandato. Para que o resultado seja válido, porém, é necessária a participação de mais de 40% do eleitorado. Como o voto não é obrigatório, as autoridades eleitorais mexicanas estimam que menos de 30% dos eleitores compareçam.

Nesse cenário, o referendo serviria apenas para que o presidente use o resultado em sua narrativa política.

Quando não consegue apoio suficiente no Congresso para aprovar suas principais reformas, López Obrador tem apelado a plebiscitos, cujo resultado, em geral positivo, mesmo com participação baixa, servem à construção da figura do presidente como intérprete da voz popular.

Assim se deu com as consultas sobre a interrupção das obras de um novo aeroporto internacional na Cidade do México (AMLO quer erguer um diferente), a construção do chamado Trem Maya, no sul do país, e a autorização para uma hidrelétrica em Tabasco, estado natal do líder esquerdista.

Em agosto do ano passado, o plebiscito foi para saber se os mexicanos queriam que ex-presidentes fossem investigados e julgados por possíveis crimes de corrupção. A consulta é desnecessária num país em que há leis que preveem tal procedimento, mas a exposição da reputação de ex-líderes foi posta em debate. O "sim" venceu, mas com participação de apenas 7,8% dos eleitores –entre os que votaram, 97,7% se disseram favoráveis às apurações, enquanto 1,5% foi contra, e 0,7% anularam.

AMLO sustenta que os referendos "reafirmam a democracia e a ideia de que é o povo quem está no poder". Uma vitória neste domingo, porém, não serviria apenas a fins políticos. O presidente já expressou mais de uma vez a vontade de realizar uma nova reforma energética, com estatizações e menor investimento estrangeiro na área, além de ênfase em energia solar e eólica.

Como o projeto já está no Congresso, explica-se o peso do resultado da consulta num cenário em que as pretensões do texto têm causado inquietação entre empresas envolvidas na produção de petróleo no país.

A previsão de crescimento do PIB mexicano para 2022, que estava em 2,9% no começo do ano, caiu para 1,2%, segundo o banco BBVA, levando-se em conta as perspectivas dessa reforma e os efeitos da guerra na Ucrânia. Em sua espécie de teatro matinal –as chamadas "mañaneras", que inicialmente deveriam ser entrevistas coletivas–, AMLO tem basicamente feito propaganda eleitoral, atacando ONGs e instituições públicas como o INE (a autoridade eleitoral), a Corte Suprema e a agência de inteligência do Estado.

Os jornalistas já se manifestaram em relação a esses eventos, colocando suas cadeiras de costas para AMLO. Hoje, ainda protestam contra a falta de segurança para trabalhar. Só em 2022 são nove repórteres mortos no exercício da profissão –uma delas havia exposto numa "mañanera" as ameaças que sofria.

Nas últimas semanas, o presidente entrou em embate com um jornalista, Carlos Loret de Mola, que divulgou que o filho do líder mexicano morou por dois anos numa casa em Houston (EUA) que pertencia a um empresário com negócios com a estatal Pemex. No domingo passado houve um protesto nas ruas do centro da Cidade do México contra a realização do plebiscito.

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