Kasparov, crítico de Putin, diz que hesitação faz preço de parar um ditador subir diariamente

Garry Kasparov comentou a guerra na Ucrânia, na primeira sessão presencial do TED em três anos, em Vancouver

© Getty Images

Mundo Guerra 11/04/22 POR Folhapress

VANCOUVER, CANADÁ (FOLHAPRESS) - "Isto não é xadrez, mas às vezes as coisas são preto e branco", disse o russo Garry Kasparov no domingo (10), ao comentar a guerra na Ucrânia, na primeira sessão presencial do TED em três anos, em Vancouver.

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"Isto é uma batalha de valores opostos. Liberdade, vida e amor contra tirania, morte e ódio", acrescentou o enxadrista, ex-campeão mundial, ferrenho crítico do regime de Vladimir Putin –ele deixou Moscou em 2013, depois de ser preso e perseguido por autoridades do país.

Kasparov, que alertou para os perigos dos avanços de Putin num livro de 2015, "Winter Is Coming" (o inverno está chegando), fez um apelo à comunidade internacional por mais ações.

"Todo mundo que me disse que eu estava errado uma década atrás agora diz que estou certo. Mas ainda estamos cometendo os mesmos erros [...] O preço de parar um ditador sobe diariamente com toda essa hesitação e atraso. Encontrar o mal no meio do caminho ainda é uma vitória do mal."

O TED deu início à palestra, no domingo, com uma sinfonia de violinos liderada por nove ucranianos escondidos em abrigos em Kiev, acompanhados online por outros 89 músicos espalhados pelo mundo.

O evento, conhecido pelos encontros de ciência, design, artes e temas polêmicos, acontece até quinta-feira (14) e terá apresentações de Elon Musk, Bill Gates, Al Gore e outras dezenas de personalidades.

Zoia Litvin, que falou após Kasparov, contou como deixou o marido e os pais na Ucrânia ao fugir para viver na Eslováquia com os filhos. Ela é fundadora da ONG Osvitoria, focada em educação para crianças de baixa renda. O que começou como a primeira plataforma educacional online do país, um investimento do governo devido à pandemia, foi transformada num espaço de ensino a distância durante a guerra.

"Nunca imaginamos que nosso projeto sem fins lucrativos seria tão necessário numa situação ainda mais horrível que a pandemia", disse Litvin. "Mas hoje quase 400 mil alunos aprendem nesta plataforma. Eles se conectam da Ucrânia e de 120 países onde estão refugiados no momento."

A educadora também discorreu sobre sua bebê, que falou sua primeira palavra, o som de uma explosão, em 24 de fevereiro, início da invasão russa. "Naquela noite, acordamos com o barulho das janelas de nossas casas se estilhaçando", disse. "Putin pode tirar muito de nós, nossas casas, nossos empregos, nossos parentes queridos, nossa paz, mas não pode desfazer a educação. Conhecimento e curiosidade são tesouros inexpugnáveis", disse ela, lembrando que 900 escolas no país estão comprometidas e 84 foram completamente destruídas. Setenta e três crianças já morreram, segundo a ONU.

"Enquanto nossos filhos continuarem aprendendo e nossos professores continuarem ensinando, mesmo enquanto morrem de fome e são bombardeados, mesmo em campos de refugiados, estaremos invictos."

Após as falas de Kasparov e Litvin, o organizador do TED, Chris Anderson, fez um apelo por doações à luta ucraniana ao público presente, muitos dos quais pagaram até US$ 25 mil pelo ingresso da conferência.

Anderson pediu quatro valores diferentes, entre US$ 1.000 e US$ 1 milhão, que serão destinados a cinco organizações na Ucrânia. Dezenas de pessoas levantaram a mão para doar US$ 1.000 e até US$ 10 mil, mas ninguém se voluntariou publicamente para a oferta de US$ 1 milhão.

O valor total arrecadado será divulgado ao final do evento. "Acredito que, pelas mãos levantadas, estamos acima da promessa de US$ 1 milhão para as organizações. Vamos ver o que o resto da semana nos traz."

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