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O trabalho, que também incluiu a análise de 9,7 milhões de posts nas principais redes sociais, mostra que, quando os temas indígenas são abordados entre pessoas "não engajadas" com as causas dos povos originários, os direitos indígenas tendem a ser vistos por esses públicos em "contraposição" aos direitos de outros segmentos da população geral. A avaliação é de um espaço de disputas em que, "se o outro ganha, sou eu quem perco".
"Esse resultado é preocupante, uma vez que esses públicos são tomadores de decisão na economia e na política brasileira e suas percepções moldam o debate público no Brasil sobre o tema", diz a coordenadora do projeto, Cristiane Fontes, da empresa Amoreira Comunicação. O estudo contou com a participação da Ipsos, empresa de pesquisa e de inteligência de mercado; e da Diretoria de Análises de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP/FGV).
A Ipsos conduziu o componente da pesquisa com os públicos não engajados, que contou com 100 entrevistas em profundidade, distribuídas entre população geral de perfil conservador e formadores de opinião.
A percepção é de que a conexão dos povos indígenas com o meio ambiente é, em geral, reconhecida pelos públicos não engajados, mas seus modos de vida, segundo Cristiane Fontes, tendem a ser associados à pobreza, necessidade de auxílios governamentais e carências em geral e não outras maneiras de estar no mundo, cada vez mais valorizadas pelos públicos engajados como respostas à crise climática.
Os públicos não engajados ainda não conhecem ou compreendem a importância de estudos e do reconhecimento internacional por parte de organismos como o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).
"Quando falamos sobre o protagonismo do Brasil na agenda climática global ainda precisamos dar muito mais visibilidade ao papel dos povos indígenas, assim como ampliar as discussões sobre modelos de prosperidade econômica para o país que incluam a gestão ambiental desses territórios, que já estiveram entre as políticas públicas do país desenvolvidas com apoio da cooperação internacional, assim como levar em consideração a crescente valorização dos indígenas como parte da identidade nacional e do crescente interesse, especialmente entre os mais jovens, pela nossa ancestralidade e em recontar a nossa história", afirma Cristiane Fontes.
Desde a semana passada, ocorre em Brasília uma série de manifestações do Acampamento Terra Livre (ATL), que reúne mais de 9 mil indígenas na capital federal para protestar pelos direitos dos povos originários. A manifestação realizada todos os anos, no mês de abril, é apontada como o principal evento marco da última década, mas apenas entre pessoas ligadas, de alguma forma, às causas indígenas, segundo o estudo.
Visão distante e fragmentada
Cristiane Fontes afirma que, de maneira geral, a concepção sobre os povos indígenas entre os públicos não engajados têm sido formada a partir de fragmentos de informação na grande imprensa e posts nas redes sociais, situações que, a partir de 2018, passam a contar com refletir narrativas produzidas pelo presidente Jair Bolsonaro e aliados, regularmente contra processos de demarcação de terras e de fragilização dos direitos indígenas.
Estudo do Instituto Ipsos conduzido em 2020 avaliou o Índice de Coesão Social em 27 países. Esse índice mensura quanto uma sociedade trabalha para o bem-estar de todos os seus membros, com combate à exclusão e à marginalização, além de criar um sentimento de pertencimento e uma mobilidade social ascendente. Os resultados colocaram o Brasil no 21° lugar entre as 27 nações investigadas. A partir de suas respostas sobre relações sociais (confiança nas pessoas, prioridades compartilhadas e diversidade), conexão (identidade, confiança no sistema e justiça) e focos do bem comum (ajuda aos outros, respeito às leis e corrupção), somente 13% dos brasileiros possuem um senso de coesão social sólido.
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