© Marco Centurion/Bramon
O registro aconteceu às 19h17 e durou cerca de seis segundos, quando o duplo impacto do meteorito com a atmosfera iluminou o céu de Sorocaba e impressionou o físico. "Não chega a ser um fenômeno raro, mas é bastante incomum e deste conseguimos um registro muito nítido", disse.
Os registros impressionaram também os colegas de Centurion no Clube de Astronomia Centauri, um grupo de voluntários interessados em astronomia.
Ele acredita que a dupla explosão se deu porque o meteorito tinha massa mais densa ou por ser um corpo celeste maior do que o normal. "O tamanho médio de um meteoro equivale ao de uma moeda de 1 centavo. Quando ele entra na atmosfera, se choca com a camada de gases da atmosfera e aquece até explodir, virando poeira. Nesse caso, provavelmente, a primeira camada explodiu e ainda restou massa, que também incandesceu e gerou a segunda explosão", explicou.
Um fenômeno semelhante aconteceu no início do ano no Rio Grande do Sul, segundo o pesquisador.
Membro voluntário da Bramon desde 2020, ele já registrou muitos meteoros, mas é a primeira vez que consegue captar uma dupla explosão em ângulo tão favorável. "Costumo brincar que se fosse fazer um pedido a cada estrela cadente, nome popular do meteoro, teria feito mais de um por dia. Esse registro foi diferente porque minhas câmeras estavam bem posicionadas", disse.
Sua estação trabalha com uma câmera apontada para o nordeste e outra para o oeste, ambas acopladas a um computador.
As imagens serão analisadas por ele, com suporte da Bramon, já que outros observadores captaram as mesmas explosões de outros ângulos. Isso permite 'triangular' os dados e definir a trajetória do meteoro. "Com as imagens, eu faço uma análise preliminar e consigo gerar dados que serão compartilhados com a rede", disse.
Professor de Física e Matemática, Centurion é apaixonado por Astronomia e exerce a função voluntária de diretor científico do Clube de Astronomia Centauri, criado em 2014, em Itapetininga, também no interior. O clube conta com mais de 60 membros.
O Centauri faz parte do programa Space Place da Nasa, a agência espacial norte-americana, e já recebeu um certificado de reconhecimento pelo trabalho de coleta de dados e divulgação científica sobre meteoros através de palestras e nas redes sociais. "A gente traduz, faz a regionalização (adequação às condições brasileiras) e divulga os trabalhos de astronomia que recebe da Nasa. Nosso sonho é que a astronomia se torne matéria curricular nas escolas, como é a física", disse.
Câmeras e telescópios apontados para o céu
Os voluntários da Bramon estão espalhados por todo o Brasil e mantêm câmeras e telescópios apontados para o céu e ligados todas as noites. Após o registro, o operador faz a análise e compartilha as imagens capturadas. Quase nada escapa a esses 'olhares' curiosos para o céu. No dia 3 de abril desde ano, um pequeno asteroide explodiu sobre o Estado do Amazonas, formando uma grande bola de fogo na região central do Estado. Fragmentos desse meteorito podem ter chegado ao solo.
A reentrada de um satélite espião soviético que estava em órbita havia quase 40 anos também foi flagrada pelas câmeras da Bramon no sul do Brasil. A bola de fogo cruzou os céus do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, desaparecendo na fronteira com o Uruguai.
A análise dos vídeos concluiu tratar-se do satélite Cosmos 1437, lançado em janeiro de 1983 pelo foguete Vostok-2M, a partir de Plesetsk, na antiga União Soviética. A data e horário previstos para a reentrada coincidem com o registro do objeto em chamas.
Em agosto de 2021, a passagem de um grande meteoro causou uma explosão e fez a noite virar dia, por alguns segundos, em vários Estados do Nordeste. Várias câmeras registraram a luz intensa, como se o céu estivesse em chamas.
A Bramon é uma rede aberta e colaborativa, mantida por voluntários e apoiadores, com o objetivo de monitorar meteoros, produzir e fornecer dados científicos à comunidade. Seus membros já registraram 3,9 milhões de meteoros e catalogaram 126 radiantes - pontos de origem de uma chuva de meteoros.
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