Tom político e religiosidade se mesclam com Anhembi cheio na 2ª noite de desfiles em SP

O sambódromo, que de sexta para sábado chegou a ficar com parte das arquibancadas vazia, lotou, chegando a travar o trânsito no entorno do local.

© Paulo Whitaker/Reuters

Brasil CARNAVAL-SP 24/04/22 POR Folhapress

ALFREDO HENRIQUE E PRISCILA CAMAZANOSÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Críticas ao governo federal, unidas a referências religiosas, marcaram o ritmo da segunda noite dos desfiles do Grupo Especial das escolas de samba paulistanas, no Anhembi, na zona norte da capital.

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O sambódromo, que de sexta para sábado chegou a ficar com parte das arquibancadas vazia, lotou, chegando a travar o trânsito no entorno do local.As alegorias também surpreenderam por seus detalhes e enormes dimensões, em alguns casos com a altura ultrapassando a das arquibancadas.

A critica mais explícita à gestão de Jair Bolsonaro foi feita pela sexta escola a entrar na avenida, a Rosas de Ouro.

O último carro da agremiação mostrou um sósia de Bolsonaro que se "transformou" em um jacaré, referência a um pronunciamento feito por ele sobre a vacinação contra a Covid-19.

Quando uma enfermeira aplicou uma injeção no "presidente", um efeito de fumaça foi feito sobre ele, uma porta secreta girou e um jacaré apareceu.

Parte do público, motivado pelo protesto artístico, aplaudiu e passou a gritar "Fora, Bolsonaro".

A Gaviões da Fiel, segunda escola a desfilar, também fez uma crítica ao governo, mas de forma mais velada.

O cabeleireiro Neandro Ferreira, 55 anos, desfilou usando terno e uma faixa semelhante às usadas por presidentes. Ao lado dele, uma componente da escola, de terninho e saia, também usava uma faixa.A noite foi aberta com o desfile da Vai-Vai, que voltou à elite do samba paulistano em 2020.

Com alas coreografadas, o samba-enredo da agremiação contou com o reforço do público, cantando o refrão contagiante.

Intitulado "Sankova", o samba da tradicional escola do Bexiga e maior campeã do Carnaval em São Paulo, com 15 títulos, usou o pássaro sagrado africano, que dá nome ao enredo, para ilustrar a necessidade de resgatar suas origens.

Em clima de jogo, com rojões, sinalizadores, e bandeiras da torcida organizada, a Gaviões tratou da luta contra racismo, fascismo e outras opressões.

Abusando das paradonas da bateria, a Mocidade Alegre contagiou o público com seu samba "Quelémentina, Cadê Você?", homenageando a sambista Clementina de Jesus, além de também abordar questões raciais.

"É lindo ver a mulher negra lutar! Quem te vê sorrir não há de te ver chorar! Rainha Quelé, vem ser coroada! Na minha, na sua, na nossa Morada!", diz trecho da letra do samba-enredo.

A Águia de Ouro, atual campeã do Grupo Especial, ostentou em seus carros, além de ousar na comissão de frente, de olho no bicampeonato.O desfile surpreendeu o público desde o início, com quatro integrantes se equilibrando em pernas de pau, a metros de altura do chão, situação que mantiveram por todo o trajeto da avenida.

À frente deles, Xangô e Exu, entidades de religiões de matriz africana, maravilharam o público, que se espremeu nas arquibancadas para registrar a comissão de frente, com fotos e vídeos.

Como os integrantes, os carros da escola se destacaram pela grandiosidade e também altura, chegando a ultrapassar os limites das arquibancadas onde o público estava.

Usando uma história da mitologia africana, a escola de samba cantou sobre as mazelas da atualidade, de forma mais sutil, como no trecho "quem semeia a intolerância perde a paz no coração."

A escola de samba Barroca Zona Sul, quinta a entrar no sambódromo do Anhembi, levou à avenida as cores da escola carioca Mangueira, em um carro alegórico com o Cristo Redentor, um dos mais conhecidos cartões postais do Brasil.Tendo neste ano como coreógrafo Carlinhos de Jesus, responsável pela comissão de frente da agremiação paulistana, a Barroca esquentou a avenida.

Seu samba-enredo homenageia Zé Pelintra, outra entidade de religiões de matriz africana.

Fechando o Carnaval paulistano, do Grupo Especial, a escola de samba Império da Casa Verde foi única neste segundo dia que não abordou temas religiosos, políticos ou relacionados ao preconceito racial.

Com o samba-enredo "O Poder da Comunicação. Império, o Mensageiro das Emoções", a agremiação contou a história da comunicação e homenageou em seu último carro alegórico o influenciador digital Carlinhos Maia.

A alegoria, cheia telas e luzes, para ilustrar a era digital, foi ofuscada pelo sol, prejudicando a interação do público com o carro.

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