Ninguém será deixado para trás, diz Macron em discurso de vitória na França

Macron derrotou a ultradireitista Marine Le Pen

© Getty Images

Mundo França 25/04/22 POR Folhapress

PARIS, FRANÇA, E MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) - Reeleito presidente da França neste domingo (24), Emmanuel Macron fez acenos a outros campos políticos e prometeu mudanças em seu segundo mandato. "Serão anos difíceis, mas históricos", afirmou, em um discurso de cerca de dez minutos no campo de Marte, em Paris.

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Macron derrotou a ultradireitista Marine Le Pen. À 0h30 desta segunda (25), pelo horário local, ainda 19h30 de domingo em Brasília, a apuração oficial já tinha sido 97% concluída e apontava o atual presidente com 57,4% dos votos. A abstenção foi de 27,6%, uma das mais altas em décadas.

No começo da tarde, a projeção de institutos de pesquisa indicara a reeleição do político, com a rival admitindo a derrota 15 minutos depois.

O momento do anúncio foi de festa e alívio na região da Torre Eiffel, na capital francesa, onde se reuniram os apoiadores de Macron. Mensagens de apoio vieram também de líderes europeus -segundo o Palácio do Eliseu, o primeiro telefonema após a divulgação das projeções foi com o premiê alemão, Olaf Scholz.

Por volta das 21h30 em Paris, o presidente reeleito chegou ao campo de Marte com a mulher, Brigitte, sob a canção que é considerada o hino da União Europeia, "Ode à Alegria", um trecho da Nona Sinfonia de Ludwig van Beethoven.

Em uma fala de menos de dez minutos, agradeceu aos eleitores, mencionando inclusive aqueles que "votaram em mim não porque apoiam minhas ideias, mas para bloquear a ultradireita". A eles, afirmou: "Quero dizer que estou ciente de que esse voto me prende nos próximos anos".

Macron reconheceu que a França sai da eleição como um país dividido, mas prometeu: "Ninguém vai ser deixado para trás".

As falas deixam claro que o presidente sofreu com uma série de desgastes em seu primeiro mandato, permitindo o avanço de nomes antissistema -no primeiro turno, atrás da rival derrotada neste domingo, ficaram o esquerdista radical Jean-Luc Mélenchon e o ultradiretista Eric Zemmour, à frente de nomes dos partidos políticos mais tradicionais, o socialista e o republicanos.

O nome que assumiu se dizendo um centrista radical, com o tempo enveredando-se para a centro-direita, fez acenos à esquerda também durante a campanha no segundo turno, em direção aos eleitores de Mélenchon, que teve chances reais de ultrapassar Le Pen.

Quando Macron mencionou o nome da rival, parte do público que o assistia iniciou uma vaia, sugerindo ainda que a derrotada se mudasse para Moscou -sua ligação com a Rússia de Vladimir Putin foi repisada ao longo da campanha e usada pelo rival no único debate entre ambos.

No discurso, porém, Macron parou de falar para pedir que ela não fosse vaiada. "De agora em diante, não sou o candidato de um partido, mas sim o presidente de todas e todos."

Ao final, Macron disse que seu próximo mandato não será uma continuidade, mas falou em cinco anos melhores para o país e para os mais jovens. E anunciou que vai trabalhar por uma França republicana, mais comprometida com os valores sociais e verdes.

Ao fim, emocionado, convidou a mulher para subir ao palco e ouviu uma cantora entoar o hino francês, A Marselhesa.

Reeleito recebe mensagens de apoio e cobrança Assim que a projeção da reeleição de Macron foi divulgada, líderes europeus começaram a enviar mensagens parabenizando o fracês. Le Pen, vale lembrar, é uma antieuropeísta convicta -se, neste 2022, não prometeu tirar o país da União Europeia, afirmou que pretendia "reformar o bloco por dentro".

Scholz, o espanhol Pedro Sánchez e o português António Costa chegaram a escrever um artigo no jornal francês Le Monde, nesta semana, pedindo voto no colega.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, foi o primeiro a parabenizar Macron, com um tuíte. "Nesse período turbulento, precisamos de uma Europa sólida e da França totalmente comprometida com uma UE mais soberana e estratégica", escreveu.

Ele foi seguido pelos premiês da Bélgica, Alexander de Croo, e da Holanda, Mark Rutte, e pelo britânico Boris Johnson. "Espero continuar trabalhando juntos nos problemas mais importantes para os nossos dois países e para o mundo", disse Boris, que teve fricções recentes com a França por causa do brexit e da questão dos refugiados no Canal da Mancha.

Sánchez e o italiano Mario Draghi também comemoraram a reeleição de Macron –este último classificou a notícia de "maravilhosas para toda a Europa".

"Fico feliz de poder continuar nossa excelente cooperação. Juntos, vamos fazer a França e a Europa avançarem", escreveu Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, no Twitter. A francesa Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, destacou "a forte liderança de Macron, essencial nesses tempos incertos".

O ucraniano Volodimir Zelenski parabenizou o reeleito chamando-o de "verdadeiro amigo". Macron buscou protagonismo nas negociações diplomáticas ao longo de toda a Guerra da Ucrânia.

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), bem como o Itamaraty, não havia se manifestado sobre a eleição francesa até as 20h deste domingo. O político teve momentos de tensão com Macron ao longo do mandato, especialmente por causa da questão ambiental.

Neste domingo, o francês ainda foi alvo de cobranças internas. Ao falar em seu discurso em ter recebido votos para "bloquear a ultradireita", Macron também de certa forma mirou uma resposta à ambientalista Sandrine Rousseu.

Assim que as projeções indicaram a reeleição, ela cobrou o presidente. "Acho que a pergunta é 'ele percebe que foi eleito com votos de esquerda? Ele está consciente?'", questionou. "Fomos responsáveis 1.000 vezes [pelos votos recebidos por ele] nos dois turnos, mas ele mudará sua política?"

Ela pediu que os franceses renovem a Assembleia Nacional nas eleições legislativas, marcadas para junho, para que "o novo mandato de Macron não se assemelhe ao anterior e que, em última análise, este governo seja um governo de coabitação".

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