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(FOLHAPRESS) - Quase nove em dez moradores da cidade de São Paulo são favoráveis a regular aplicativos de transporte e entrega para dar proteção aos entregadores e motoristas, aponta levantamento do Instituto Locomotiva para o projeto Fairwork, da Universidade Oxford, divulgado nesta semana.
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Empresas como Uber, iFood, Rappi e 99 não remuneram esses trabalhadores de maneira justa, na avaliação de 64% dos paulistanos ouvidos pelo instituto.
Segundo Mark Graham, professor do Oxford Internet Institute e diretor do projeto Fairwork, se as empresas ignorarem que os consumidores se sentem afetados pelas condições de trabalho dos entregadores, sua estratégia comercial ficará em risco.
Na pesquisa do Locomotiva, 70% disseram que deixariam de usar aplicativos de entrega e transporte que não garantam bons salários e condições de trabalho aos colaboradores.
A regulação das atividades de entregadores e motoristas está na pauta do debate eleitoral deste ano, nos planos do governo federal e até entre as metas dos próprios aplicativos.
Esse trabalho intermediado por plataformas ganhou visibilidade a partir de março de 2020, quando vários países decretaram confinamentos para combater o contágio pelo coronavírus.
Com o comércio e as empresas fechadas, as entregas foram, de um lado, uma saída para quem perdeu emprego e renda e, por outro, a solução para os que puderam cumprir em casa as ordens de distanciamento social.
A aproximação dos usuários com os trabalhadores apareceu durante o movimento Breque dos Apps, paralisação nacional que reuniu principalmente entregadores e pediu apoio na pandemia e melhores condições de trabalho.
O assunto ficou entre os mais comentados na rede social Twitter na época; no começo deste mês, 82% dos paulistanos consideraram justas as paralisações no levantamento feito para a Fairwork –um projeto global de pesquisa coordenado por Universidade Oxford, Oxford Internet Institute e WZB Berlin Social Science Center.
Sob pressão da opinião pública, as principais plataformas se viram levadas a procurar soluções. Do protesto de 2020 até este 1º de Maio, seguros contra acidentes, ajustes em valores mínimos por corrida e promessas de mais transparência foram algumas das medidas adotadas.
Das maiores, pelos menos três –99, iFood e Uber– encabeçam articulações por uma legislação que inclua os profissionais no INSS, mas fora da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
A formalização tradicional, com carteira assinada, não é um consenso entre os entregadores. A Amabr (Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil), por exemplo, defende um novo modelo de proteção por meio do qual os entregadores consigam manter a autonomia para escolher cargas horárias e dias de trabalho.A entidade cobra regras claras para os operadores logísticos (OLs), empresas que fornecem entregadores para as plataformas.
Independentemente do sistema de trabalho, na rua falta lugar para comer, esquentar uma refeição, descansar e até mesmo para carregar o telefone celular –o instrumento de trabalho mais importante depois da moto.
Em São Paulo, embora mais da metade (54%) dos ouvidos para a Fairwork responda que as empresas tratam entregadores e motoristas de forma justa, 93% afirmam que as condições deveriam melhorar.
Para o coordenador do Fairwork Brasil, Rafael Grohmann, a percepção dos paulistanos sobre a atividade dos entregadores sinaliza, para as empresas do setor, a necessidade de "ações para melhorar ativamente as condições para seus trabalhadores".
O iFood e a 99 dizem que, em diálogo com a Fairwork, buscam aprimorar suas práticas em prol do trabalho digno e justo. A Amobitec (associação que inclui iFood, Uber e 99) afirma estar atenta às demandas dos trabalhadores e buscar melhorias. A ABO2O (que representa empresas como Loggi e Rappi) diz que o diálogo sobre a relação dos profissionais com os aplicativos deve considerar as diferenças entre eles.
FATOS E OPINIÕES1,4 milhãode brasileiros trabalham com entregas e transportes via apps, segundo o Ipea
15% dos entregadores trabalham mais de 40 horas por semana, segundo o Datafolha
46% dos paulistanos usam aplicativos de transporte e entrega com frequência, segundo pesquisa do Locomotiva
82% consideram justas as paralisações e greves de entregadores
70% dizem que deixariam de usar os apps que não garantem boas condições e salários aos trabalhadores
93% acham que os apps deveriam oferecer condições de trabalho mais justasPesquisa com 1.021 moradores do município de São Paulo com 18 anos ou mais, conduzida entre os dias 31.mar e 11.abr.2022, feita pelo Instituto Locomotiva para o projeto Fairwork