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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os clubes foram avisados na sexta-feira (29) à noite de que haveria uma reunião para tratar de uma nova liga, na terça (3), pela manhã, em São Paulo. Vários consideraram o prazo curto demais, mas aceitaram. Quando chegaram ao encontro, receberam uma cópia do estatuto preparado pelo advogado Flavio Zveiter. O documento estava pronto e era apenas para ser assinado, não discutido.
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Isso irritou profundamente a maioria dos dirigentes presentes. Pior do que isso, foi descobrir, segundo três deles disseram à reportagem, que o estatuto não prevê como será feita a divisão dos recursos quando a liga for implantada.
Um dos cartolas ironizou à reportagem o texto. Considerou ter recebido um "bolo pronto".
Entre os 40 times das Séries A e B, apenas oito assinaram o documento na terça-feira: cinco paulistas (Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Red Bull Bragantino), Flamengo, Cruzeiro e América-MG. Leila Pereira, presidente do Palmeiras, chegou à reunião anunciando que estava ali para assinar, assinaria de qualquer jeito e quem não quisesse, deveria fazê-lo depois. Houve quem não gostasse da afirmação.
O movimento "Futebol Forte", que reúne 14 equipes, considera que a criação da liga está acontecendo de cima para baixo. Reclama que não é uma negociação, é uma imposição pretendida pelos clubes paulistas mais o Flamengo.
O temor é que depois essas agremiações vão forçar para receberem mais dinheiro do que as demais, caso a divisão não esteja estipulada em estatuto.
O "Futebol Forte" é composto por Athletico, Atlético-GO, Atlético-MG, Avaí, Ceará, Coritiba, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Internacional e Juventude. Seus dirigentes, especialmente o mandatário do Athletico, Mario Celso Petraglia, foram os que mais contestaram os termos da reunião.
Uma das preocupações é que a repartição dos contratos incluiria o dinheiro do pay-per-view, sempre uma fonte de controvérsia entre os clubes e o Grupo Globo. Hoje em dia, cada time recebe um valor que, teoricamente, está atrelado ao número de torcedores assinantes do serviço. Por terem maior torcida, Flamengo e Corinthians podem embolsar um valor maior. O Palmeiras relutou em assinar a renovação do acordo que está em vigência, iniciado em 2019 e válido até 2024.
A posição dos oito que já aderiram é que o importante é criar um fato político: a criação da liga e isso iniciaria a busca por investidores. Para os demais, especialmente do "Futebol Forte", é necessário resolver todas as pendências antes de qualquer coisa.
No livro "The club: how the Premier League became the richest, most disruptive business in sport" (O clube: como a Premier League se tornou a mais rica e mais disruptivo negócio no esporte, em inglês) os autores Jonathan Cleggg e Joshua Robinson explicam como o princípio de que os contratos de televisionamento dentro do Reino Unido seriam divididos de forma igual entre todos os clubes e isso foi colocado no documento de fundação do campeonato. Os acordos internacionais estão sujeitos a outros fatores e os clubes mais conhecidos recebem fatia maior.
Uma das propostas da liga brasileira é que a diferença de distribuição de receita seja de uma forma que o campeão receba 3,5 vezes mais que o último colocado, com os demais entre esses dois patamares. É modelo que espelha LaLiga, como é chamado o Campeonato Espanhol.
Há outra ideia, o "40-30-30", similar ao que já é empregado atualmente no contrato com o Grupo Globo. Nesse caso, 40% de tudo o que fosse arrecadado seria dividido de maneira igualitária, 30% de acordo com a classificação final e 30% dentro de uma equação que considera exposição de mídia, jogos transmitidos e outras variáveis.
O Futebol Forte aceita esse princípio, mas quer que a repartição seja na proporção de 50-25-25.